Fui informado, por altura do Natal, da existência de um blogue chamado "Bar do Alcides" que se apresentava da seguinte forma: "O Bar do Alcides é o ponto de encontro de todos aqueles que estão insatisfeitos com o actual 'ESTADO DA NAÇÃO PORTUGUESA' e que querem desabafar enquanto bebem um copo. O Bar do Alcides é feito e editado por portugueses não-maçons que estão exilados no Rio de Janeiro e em São Paulo no Brasil. Aqui a MAÇONARIA não é de todo BENVINDA!".
Achei interessante a iniciativa e fiquei atento, tanto mais que anunciavam, para a noite de Natal, a publicação de um livro a revelar como o primeiro-ministro Sá Carneiro fora assassinado pela maçonaria. Dias antes da data prevista, contactei os responsáveis do blogue através de uma mensagem via "Facebook", mostrando-me interessado em adquirir a obra e até em partilhar informações, já que estou a escrever um livro sobre o que aconteceu em Camarate a 4 de Dezembro de 1980. Como prova da vontade em querer partilhar informações, enviei-lhes a cópia de um artigo do jornal espanhol "La Vanguardia", datado do dia 4 de Dezembro de 1980, onde se falava da maçonaria - nomeadamente o GOL -, e como esta organização estava contra Sá Carneiro, apoiando o candidato presidencial Ramalho Eanes...
Era e ainda acredito que continua a ser um texto pouco conhecido em Portugal. Posso dizer que era um documento relativamente importante para a minha investigação e fora fruto de uma daquelas sortes jornalísticas, que se encontram com alguma paciência em arquivos da Internet, e não numa qualquer busca do "Google". Mas, da mesma forma que tinha lá chegado, também um qualquer indivíduo mais interessado no assunto poderia lá chegar. Na resposta, os autores do "Bar do Alcides" não fizeram qualquer comentário ao artigo que lhes enviei e disseram-me apenas para esperar pela publicação para a data e hora marcada. E esperei. Vi depois no longo texto que publicaram, que o único dado inédito face ao que já conhecia fora precisamente a junção daquele artigo do "La Vanguardia".
Agora, devido à polémica em torno das declarações sobre a pensão de Cavaco Silva, os responsáveis do blogue surgiram num grupo de discussão do "Facebook" para o qual fui adicionado sem ter pedido - mas, pronto, vá lá. Ao ler os comentários, desabafei que, para mim, Cavaco Silva ainda tinha ainda de responder sobre o conteúdo da última reunião que teve com Sá Carneiro e Amaro da Costa, no dia 4 de Dezembro de 1980, onde estiveram a falar sobre o orçamento das Forças Armadas. E perguntava: Sabendo ainda que Cavaco Silva tinha a incumbência de investigar o Fundo de Despesa de Ultramar, a pedido de Sá Carneiro, por que motivo essa investigação nunca avançou? Face a esta questão, qual foi a conclusão dos responsáveis do "Bar do Alcides"? Escreveram isto: "Aníbal Cavaco Silva ENVOLVIDO no assassinato do Dr. Francisco Sá Carneiro". Ora, a meu ver, este é um título exagerado ao qual não posso estar associado, pois parece que Cavaco Silva participou, conscientemente, na morte do fundador do PSD. A minha observação, que não é nada inocente - reconheço -, ainda assim foi feita de cara descoberta e é fruto de muito trabalho jornalístico, pois há mais informações que precisam de ser investigadas. Por isso é que, a 7 de Dezembro de 2010, assinei um texto no semanário "O Diabo" a chamar precisamente a atenção para o facto de que Cavaco Silva teria de depor sobre Camarate...
Mais grave ainda, é que o referido texto do "Bar do Alcides" apresenta a reprodução de um texto de minha autoria e publicado em Novembro de 2006 na revista "Focus", aquando da entrevista que fiz a José Esteves, o suposto autor da bomba de Camarate...
Quero aqui dizer aos leitores do "Para Mim Tanto Faz" que não sou o autor do "Bar do Alcides", não conheço pessoalmente nenhum dos envolvidos nem tenho qualquer controlo naquilo que eles escrevem. Muitos dos problemas em Portugal não são os segredos ou as sociedades dos aventais e espadas. São, isso sim, factos que todos nós sabemos, mas, passados uns tempos, ficam esquecidos por jornalistas sem memória ou sem capacidade de fazerem perguntas em Liberdade. Como ainda vou tendo alguma memória e mantenho a custo a Liberdade de fazer perguntas, escrevo os meus textos sem medo de mostrar a cara.
Chamo-me Frederico Duarte Carvalho e sou jornalista.
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