20050227

Corruptos no governo

No "site" do Portugal Diário li isto sobre a reforma de 18 mil euros do antigo comissário europeu da Justiça, António Vitorino, cujo nome é dado como certo num próximo governo de José Sócrates (sim, eu sei que o mais correcto seria colocar estes dois nomes em lugares contrários, mas foi o que que se conseguiu arranjar em tão pouco tempo...):

"O PortugalDiário sabe que esta reforma, apesar de vitalícia, vai sendo deduzida quando o ex-comissário em causa voltar a uma actividade a full-time e, claro, remunerada. Ou seja, os 18 mil euros a que Vitorino tinha direito durante três anos, mais uma pensão vitalícia - e que nessa caso seria só uma parte do vencimento total - pode ficar reduzida a uns míseros 720 euros. Até lá, e durante os três anos, o ex-comissário tem de fazer contas e deduzir o salário de ministro à pensão europeia.
Vitorino, que parece reticente em aceitar o convite pode, contudo, optar pelo descanso sem nunca perder os 18 mil euros a que tem direito ao final do mês. Afinal, para quê ter aborrecimentos, se nem sequer precisa de trabalhar para se sustentar?"

E, então concluiu-se com isto:

"Por outro lado, tê-lo no Governo é, de certa forma, uma garantia para os portugueses: é mais difícil corromper uma pessoa que não precisa do dinheiro para nada."

Vamos lá ver se entendi esta última afirmação:
Vitorino ganha 18 mil euros, mas não vai para o governo...
Se Vitorino for para o governo, perde os 18 mil euros...
Logo, se Vitorino for para o governo vai precisar de dinheiro...
Daí que, como "é mais difícil corromper uma pessoa que não precisa de dinheiro para nada", Vitorino, que vai precisar de dinheiro, será mais facilmente corrompido...
Aliás, mesmo que Vitorino ganhasse 18 mil euros, ele seria sempre mais facilmente corrompível do que eu - que não ganho nem metade da metade daquilo que ele ganha -, visto que ele ocupará um posto mais elevado para quem quer corromper e tem mais facilidades do que eu em apagar depois o rastro do dinheiro sujo.
E recorde-se ainda que como cada homem tem o seu preço, aqueles que, como eu, têm pouco dinheiro, só se vendem por quantias muito superiores à daqueles que ganham muito mais do que eu ou vocês...
Sendo assim, eu é que deveria ir para o governo, uma vez que iria ganhar mais dinheiro do que aquele que ganho presentemente. Mas, só se viesse a ser corrompido é que poderia comprar casas, montes, carros e outros bens.
Como os portugueses saberiam que eu era pobre antes de ir para o governo e que ninguém fica rico com o honesto salário de ministro, logo, se eu enriquecesse, sabia-se imediatamente que fora corrompido... dah!

20050226

Merci aux amis de France

20050224

Obrigado Santana... (porque as pessoas às vezes esquecem-se)

Há muita gente que se esquece que, em Espanha, há um ano, para o PSOE poder atingir a maioria parlamentar sem ter necessidade de se aliar à esquerda, foi preciso acontecer um atentado terrorista em Madrid poucos dias antes da eleições.
Em Portugal, para o PS obter esta maioria absoluta que lhe vai permitir governar sem recorrer a acordo ou coligação com partidos mais à esquerda, bastou Santana Lopes.
Para mim, basta apenas lembrar-me disto para lhe estar sinceramente agradecido.

20050223

Não chorem por Santana

Santana Lopes perdeu as eleições e ontem, por fim, demitiu-se da direcção do partido e disse que nem sequer vai voltar a ser candidato. Porém, não chorem por ele...
Santana teve uma história gloriosa dentro da política (e ainda tem...): era um jovem quando foi chefe de gabinete de Sá Carneiro. Uma honra política como poucos puderam ter no partido. E que deveria ser pago.
Foi para eurodeputado, e calculo que era pago para tal.
Foi secretário de Estado da Cultura, o que até nem era muito desgastante do ponto de vista política, dava direito a salário e que ainda lhe permitiu ir disputar a liderança do partido, em 1995, contra dois ministros. Perdeu, mas o ministro que ganhou também não ficou por lá muito tempo e hoje está "exilado" em Paris...
Santana foi depois presidente do Sporting, e recebia um salário para isso... E ser presidente de um clube de futebol é algo que nem todos os políticos conseguem ser.
Foi presidente de Câmara da Figueira da Foz e recebia salário para tal. Foi presidente da Câmara de Lisboa e era pago para tal. Foi ainda primeiro-ministro de Portugal, o que até dava direito a um bom salário, mas que lhe permitiu ver que, apesar de tudo, ainda havia empregos com melhor vencimento... e menos chatices!
Mas foi ou não foi primeiro-ministro, hein?!
Por isso, estejam atentos e vejam o que ele vai agora fazer...
Para já, é capaz de ir ocupar o lugar de deputado. O salário é de cerca de um terço de primeiro-ministro, mas o "comentador" político não deverá ficar calado... e isso vai ter um preço. No fim, é capaz de ser mais do que o salário que agora vai ser entregue a José Sócrates.
Só lhe falta ser Presidente da República!...
Não chorem por Santana.
Chorem por vocês!

20050222

Sobre Setúbal...

Como sabem - pelo menos aqueles que me conhecem pessoalmente - sou do Porto e vivo em Lisboa desde 1997.
Ao longo destes anos aprendi coisas sobre a capital e percebi muito sobre as diferenças e semelhanças entre a "Inbicta" e a "terra dos mouros". Porém, tenho de dizer algo mais sobre uma outra cidade que aprendi a gostar: Setúbal.
Foi graças a esta cidade que escrevi o meu primeiro livro: "Vítor Baptista - O Maior". Descobri que em Setúbal existem várias qualidades que compensavam a falta do meu Porto natal: tinha mar, bom peixe, praias e a... Arrábida.
Setúbal ainda faz parte do meu "imaginário" profissional visto que foi a partir do porto de Setúbal que partiram os navios com as armas para o Irão em 1980, no tal negócio secreto que é tido como o motivo de Camarate e que foi mencionado no meu terceiro livro.
Quero com isto esclarecer ainda que, sobre o texto de ontem a propósito do Bloco de Esquerda, que não tenho nada contra os dois deputados da Nação do Bloco de Esquerda que foram eleitos por Setúbal. Acho que eles não têm a obrigação de conhecer a história das armas norte-americanas que passaram ilegalmente pelo porto de Setúbal a caminho do Irão, em 1980, quando havia um embargo àquele país e como isso poderá estar na origem da tragédia de Camarate. Eles lá têm outros planos na sua "agenda política" - é assim que se fala... "agenda política", aprenda-se...
Eu, como cidadão do mundo, é que tenho obrigação de conhecer bem as histórias das gentes e da cidade Setúbal, pois esta cidade começa a ser, aos bocadinhos, o meu segundo Porto...

20050221

Sem coragem

Os meus amigos mais extremistas, que os tenho, é verdade, fazem-me ver que a vitória do Bloco de Esquerda, que passou de 3 para 8 deputados, poderá trazer uma nova chama à política nacional.
Lamento, mas o bloco com um ou até com 30 deputados continuará sempre a falar com a mesma voz e, pior ainda, dentro do jogo do poder.
Vajam lá se algum deles falou do que eu há muito escrevi no meu livro de Novembro de 2003: "Eu Sei Que Você Sabe - Manual de Instruções para Teorias da Conspiração". Se algum deles lembrou aquela reunião do grupo de Bilderberg com Santana e Sócrates ou se falaram do inquérito parlamentar que nunca chegou a avançar e que iria investigar o negócio de tráfico de armas norte-americanas pelo porto de Setúbal - onde, aliás, o bloco conseguiu agora eleger dois deputados...
Não, meus amigos, os deputados do bloco não têm a mínima vontade de mexer nestas coisas e só querem o poder para poder comer mais caviar. Como os porcos de Orwell... Até lá, agitam umas bandeiras de umas supostas causas que radicalizam, os trabalhadores que dizem defender são uns meros instrumentos da sua demagogia e a juventude sem rumo é usada para as originais campanhas circenses...

P.S. - Paulo Portas fora da política?! O que vai agora ele fazer? Cavar batatas é que não vai concerteza...

Copia e cola...

Sobre a vitória do PS, liderado por José Sócrates, com maioria absoluta, ontem, dia 20 de Fevereiro de 2005, deixo aqui algo que escrevi a 26 de Setembro de 2004 e que, por sua vez, resulta ainda de uma notícia publicada no semanário "Expresso" de 8 de Maio de 2004...


Já estava escrito...
... no "Expresso" do dia 8 de Maio:
SANTANA E SÓCRATES NO BILDERBERG
O social-democrata Pedro Santana Lopes e o socialista José Sócrates foram os nomes indicados por Francisco Pinto Balsemão para o encontro anual do grupo Bilderberg que decorre em Itália no princípio de Junho.
Balsemão é o único português presente na direcção deste grupo que anualmente reúne influentes personalidades dos meios político e financeiro para discutirem as grandes questões da cena internacional e por onde já passaram nomes como o ex-Presidente norte-americano Bill Clinton, o ex-primeiro-ministro britânio, Tony Blair(SIC), o presidente da Comissão Europeia, Romano Prodi, ou o ex-secretário-geral da NATO, George Robertson.
Uma das regras de ouro destas reuniões é o secretismo absoluto e um dos critérios para a indicação dos participantes é a sua importância e influência presente... ou futura.
Entre os nomes sugeridos por Pinto Balsemão nos últimos anos estiveram, em 1989, Jorge Sampaio, actual Presidente da República; em 90, João Deus Pinheiro, futuro comissário europeu, e António Guterres, que cinco anos depois era primeiro-ministro; em 92, o ex-ministro e consultor do Banco Mundial, Roberto Carneiro e o investigador, António Barreto; em 2001, Guilherme d'Oliveira Martins, posterior ministro das Finanças e Vasco Graça Moura, eurodeputado; em 2002, António Borges e a ministra Elisa Ferreira e, em 2003, o primeiro-ministro Durão Barroso e o líder socialista, Ferro Rodrigues.
Desta vez, os "eleitos" são um candidato à liderança do PS e um potencial candidato à Presidência da República.

P.S. Quando este artigo do "Expresso" foi escrito ainda não tinha começado o Euro2004, ainda não tinha havido as eleições europeias, ainda nenhum dos comuns mortais sonhava que o "ex-primeiro-ministro britânico, Tony Blair", iria convidar Durão Barroso para substituir Romano Prodi, ainda Jorge Sampaio não tinha anunciado que Santana Lopes seria primeiro-ministro de Portugal sem eleições, Ferro Rodrigues ainda não se tinha demitido e ainda Sócrates não ganhara as eleições para líder do PS. Mas já estava tudo escrito...
# posted by para : 9/26/2004 01:10:32 PM


----Sendo assim, não me surpreende que Sócrates tenha vencido as eleições. Aliás, António Vitorino, outro destacado dirigente socialista também esteve no encontro de Bilderberg em Itália. Quer isto dizer que os mesmos continuam a mandar em Portugal e não houve mudança. Esclareça-se: Mudou sim, mas apenas para garantir que tudo continuará na mesma...---------

20050219

Seis graus de separação

Existe uma teoria que defende a ideia de que todos nós estamos separados de alguém no mundo inteiro apenas por seis pessoas.
São os chamados "seis graus de separação" que permitem ligar-nos a alguém por muito poderosa que essa pessoa possa parecer ou até inacessível.
Se, por exemplo, eu quiser falar directamente com o presidente dos EUA, George W. Bush, entro em contacto com o assessor de Imprensa da embaixada norte-americana de Lisboa, com o qual tenho uma ligação meramente profissional. Este, uma vez avaliado o interesse da minha mensagem, supostamente falará pessoalmente com o embaixador dos EUA em Portugal que, por sua vez, entrará em contacto com alguém nos EUA que, admito, até poderá falar directamente com o presidente ou com um assessor que, finalmente, transmitirá a minha mensagem ao líder do mundo.
Em média, nunca mais do que seis pessoas pelo meio...
Para falar com o Papa, por exemplo, falo com um padre de uma igreja perto de minha casa e esse deverá entrar em contacto com um bispo que depois falará com o nosso cardeal patriarca que, suponho, deverá ter uma linha directa a um cardeal no Vaticano que, por sua vez, se encarregará de informar Sua Santidade de que o senhor Frederico Duarte Carvalho tem algo para lhe dizer...
Seis passos apenas...
Todos nós conhecemos alguém, que conhece alguém que, por sua vez, já esteve com outro alguém que, por acaso, até tem um primo qualquer que é colega desse tal com quem queremos falar. Seis passos apenas. O "segredo" está apenas em saber por onde começar, pois muitas das vezes essas linhas de ligação acontecem por mero acaso, por coincidências...
Quantas vezes não ouvimos alguém perguntar "conheces alguém nas finanças, conheces alguém no hospital tal, conheces alguém que me possa desenrascar isto ou aquilo"?
Este é um mundo pequeno e, no entanto, quando entramos num autocarro cheio, quando ultrapassamos alguém na estrada pela direita e o insultamos por ele ir devagar na faixa da esquerda, quando vemos na televisão alguém sofrer num país do outro lado do mundo, afinal, continuamos a achar que essa pessoa é-nos completamente estranha. Mas, apenas seis passos nos separam desse outro ser humano...
O mesmo acontece com aqueles nos quais amanhã iremos votar para nos liderar.
Elas são apenas seres humanos, com defeitos e virtudes. Muito semelhantes a todos nós, aos que se interessam e querem viver num mundo melhor.
Agora, se eles ao menos soubessem como é pequeno este mundo, aí sim, poderíamos ter um mundo bem melhor para todos nós...

Para saber mais sobre o mundo pequeno veja aqui, e ainda recomendo este filme.

Há muito que anda por fora...

Não costumo perder tempo a ler o Pacheco Pereira, mas acontece que, num dia de reflexão, ao fazer uma busca, encontrei isto no Abrupto:

"As acções de rua são tão enganadoras como as enchentes de comícios quando se trata do PS e do PSD, já aqui o escrevi. Ambos os partidos têm toda a capacidade de encher comícios em locais fechados e pequenas áreas ao ar livre. Neste último caso, o que interessa é chamar a atenção para a diminuição dessas áreas nesta campanha: o PS no Porto abandonou a Praça e a Avenida dos Aliados, o PSD não se atreveu a encerrar a campanha no local habitual em Lisboa, a marcha na Avenida de Roma."

Só um pequeno reparo: o PS certamente não foi para Avenida dos Aliados, no Porto, porque a mesma se encontra parcialmente fechada devido às obras do metro...
Pacheco Pereira, que até é natural do Porto, há muito que anda por fora...

Sétima carta a um estrangeiro sobre o Portugal de hoje

Caro estrangeiro,

Creio que os portugueses ainda não se aperceberam que amanhã vai ser um dia decisivo para o futuro de todos nós.
Muitos não vão votar e os que o vão fazer, vão votar "contra" alguém em vez de votarem a favor de algo.
Segundo as sondagens, vão regressar aqueles que foram responsáveis pela governação do País entre 1995 e 2001, os socialistas. Os mesmos, aliás. Aqueles que, inclusive, já foram apelidados dentro do seu próprio partido, há apenas três anos, de "tralha", ou seja, o lixo que não interessa para nada e só ocupa espaço.
Eram "a tralha guterrista".
Pode ser que assim o PSD, o partido que se presume que venha a não ganhar estas eleições, consiga limpar a outra "tralha" que tem para lá...
Dizem ainda que outros partidos mais à esquerda, como os comunistas e o Bloco de Esquerda, possam vir a ter um bom par de votos, mas também já se sabe que eles não querem ir para o Governo - estão "proibidos" pelos países da NATO. Assumissem esse compromisso de quererem fazer Governo e acho que a história do País seria outra...
Sobra à direita a solução do PP, o actual partido da coligação de governo com o PSD e que, segundo se pensa, também poderia obter uma votação superior aos 8 por cento das última eleições, em Março de 2002.
Amanhã à noite vamos fazer contas, mas o mais importante é ir votar.
Eu vou.
Para que depois não digam que não fiz algo pelo País.

Sobre o meu novo livro

O meu novo livro já chegou esta semana às livrarias. Ontem, por exemplo, vi-o à venda no Porto, juntamente com a segunda edição do meu anterior livro: "Eu Sei Que Você Sabe - Manual de Instruções Para Teorias da Conspiração".
Para saber mais sobre o novo livro, aqui fica este texto da agência Lusa do passado dia 15, e que dificilmente irão ver publicado em qualquer outro órgão de Comunicação Social em Portugal:

Livros: "Poeta & Espião" apresenta primeira grande entrevista a Oswald Le Winter

Quando passam 25 anos sobre Camarate, Oswald Le Winter, alegado espião da CIA que acusa Ronald Reagan e George Bush de ligação à queda do avião com Sá Carneiro e Amaro da Costa, apresenta-se num livro-entrevista.

"Poeta & Espião - A Verdadeira História de Oswald Le Winter", da autoria do jornalista Frederico Duarte Carvalho, é a primeira grande entrevista feita ao ex-espião não reconhecido pela CIA, e o livro, com chancela das Edições Polvo, chega esta semana às livrarias.

Em resposta às perguntas que lhe foram colocadas em várias sessões, entre Junho e Agosto de 2004, Oswald Le Winter afirma ser neto do célebre físico Albert Einstein, ter estado presente na captura de Che Guevara e ter ajudado a preparar o golpe de 1973 no Chile.

Explica também qual o envolvimento dos serviços secretos norte- americanos nas mortes dos primeiros-ministros Olof Palme (Suécia), Aldo Moro (Itália) e Sá Carneiro, tendo as suas afirmações sobre o caso Camarate levado a que fosse ouvido, em 2002, pela VII Comissão de Inquérito ao desastre de Dezembro de 1980.

Le Winter apontou como provável móbil do atentado ao primeiro- ministro português um negócio secreto de tráfico de armas para o Irão, o que encontra correspondência nas palavras do deputado Nuno Melo, presidente de uma Comissão de Inquérito Parlamentar de Camarate, que disse em Famalicão, em Dezembro de 2004, que Amaro da Costa estava a investigar a venda ilegal de armas ao Irão na véspera da sua morte.

A par das declarações sobre as mortes suspeitas de algumas figuras políticas, Le Winter refere ter sido a sua participação na guerra do Vietname que inspirou Graham Greene a escrever "O Americano Tranquilo" e avança outros exemplos de livros e de filmes inspirados na sua experiência de vida.

Frederico Duarte de Carvalho descreve Le Winter como "um mistério dentro de um mistério" e, embora não assegure a veracidade das suas respostas - que podem ser o resultado de uma "história bem ensaiada" - diz que decidiu "escutá-lo e respeitá-lo".

"Le Winter não pede uma missão de fé e a questão que se coloca não é a de se acreditar ou não, mas a de se investigar o que é dito.E aí existem factos históricos irrefutáveis", afirmou o jornalista e autor do livro à agência Lusa.

Recordando a morte da princesa Diana, em Paris, em 1997, que Le Winter defende desde o início ter sido planeada, e uma conversa tida com o suposto ex-espião antes do 11 de Setembro, Frederico Duarte Carvalho sublinha que "ele mostra conhecer os mecanismos que estão por detrás dos acontecimentos, o que pode indicar que não se trata de um mero charlatão".

A propósito dos ataques às Torres Gémeas, o jornalista assegurou à Lusa que, "numa conversa tida com Oswald Le Winter antes dos atentados, ele referiu as ligações da família Bush à de Bin Laden, algo que o realizador Michael Moore viria a abordar em `Fahrenheit 9/11'".

Além das revelações na área da política nacional e internacional, Oswald Le Winter fala sobre aspectos da sua vida pessoal, garantindo que a sua mãe é a filha desaparecida de Mileva e Albert Einstein, mas esclarecendo que não nutre qualquer simpatia pelo avô, que acusa de ter sido um "péssimo" marido e pai.

É também a sua faceta mais pessoal que surge através dos poemas que integram o livro, justificando parcialmente o título escolhido de "Poeta & Espião" e ajudando a definir um homem que assina também obras críticas como "Desmantelar a América" (2001) e "Democracia e Secretismo" (2002).

Por seu lado, Frederico Duarte Carvalho nasceu no Porto em 1972, estudou na Escola Superior de Jornalismo e começou por trabalhar n'O Primeiro de Janeiro, tendo passado pelo Tal & Qual e exercendo actualmente na TV Top.

Já deu à estampa "Vítor Baptista - O Maior" (1999), "Capitão Roby" (2000, em parceria com Jorge Veríssimo Monteiro) e "Eu Sei que Você Sabe" (2003), tendo no prelo "Abril Sangrento" e não excluindo a hipótese de ver "Poeta & Espião" traduzido e editado na Alemanha.
HSF

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20050216

Sexta carta a um estrangeiro sobre o Portugal de hoje

Caro estrangeiro,

Muita gente criticou o facto do primeiro-ministro, Pedro Santana Lopes, ter ido ontem ao debate televisivo com uma gravata negra, em sinal de luto pela morte da vidente de Fátima, a irmã Lúcia.
Todos criticaram o seu "oportunismo", uma vez que misturou religião com política. Contudo, nenhum jornalista (que eu tenha visto até agora) disse que a irmã Lúcia até era objecto da curiosidade dos jornalistas cada vez que saía da clausura para ir exercer o seu direito e dever cívico e ia votar!
Ela ia mesmo votar, meu caro estrangeiro!
Era uma ilustre eleitora, com direito a reportagem cada vez que havia eleições!
A irmã Lúcia, apesar de toda a sua clausura, era uma referência nacional e atenta ao rumo do País. E Portugal é hoje uma referência no mundo católico por causa da irmã Lúcia, quer se acredite ou não nos "milagres". é uma evidência, que certas polas no olhos de certos comentadores não deixa ver.
Ninguém quer recordar isto, pois não convém, uma vez que até poderia benificiar o candidato que não se pode beneficiar...
Entende agora como funciona esta sociedade e como isso se reflecte depois na qualidade do jornalismo que temos?!...

20050215

Quinta carta a um estrangeiro sobre o Portugal de hoje

Caro estrangeiro,

Não sei o que sabes sobre a nossa revolução do dia 25 de Abril de 1974. Não sei se fazes parte daqueles estrangeiros que vieram até Portugal assistir, num acto poético de busca interior, às lutas políticas que se seguiram nos primeiros anos após o derrube da ditadura pelos militares.
Não sei se te recordas de que houve uma altura em que se falou da possibilidade de Portugal poder vir a ser "a Cuba da Europa".
O perigo da esquerda.. buhh! Que medo!!
Foi nessa altura quente do início da nossa democracia que se cimentou a amizade entre o líder do PS, Mário Soares, e o então embaixador norte-americano, Frank Carlucci. Foi também nessa altura que António Spínola (o Presidente da República depois do 25 de Abril) teve de se exilar após uma tentativa de contra-golpe a 11 de Março de 1975 e que provocou as nacionalizações. Até que o país entrou "nos eixos", com o golpe de 25 de Novembro de 1975.
São história já muito antigas...
Antigas?!
Não. Elas são actuais!
Actualíssimas, até!
E digo-te isto porque acabei de assistir na televisão ao debate entre os cinco principais líderes políticos com representação na Assembleia da República.
Já te expliquei em cartas anteriores que há dois grandes candidatos, os líderes do PSD e PS, respectivamente Santana Lopes (actual primeiro-ministro) e José Sócrates. Mas, também há, na direita, o PP e, à esquerda, o Partido Comunista (numa aliança com os verdes - CDU) e, mais à esquerda, o Bloco de Esquerda.
Caso o PSD ou o PS não obtenham uma maioria absoluta no domingo, terão de fazer coligações para não governarem em minoria.
E é aqui que entra a questão daquelas antigas histórias...
PSD e PP são de direita e já têm um acordo público que os une se tal vier a ser necessário após o dia 20. E nenhum dos dois deverá viabilizar um governo de esquerda.
O PS pede a maioria absoluta e não fala noutro cenário.
A razão pela qual o PS não fala hoje em união à esquerda remonta precisamente aos anos da revolução...
É verdade.
O meu caro estrangeiro, caso esteja a ler-me na Alemanha, procure numa biblioteca pública desse país um exemplar da revista "Extra" do início do ano de 1975. Caso esteja em Portugal, consulte a edição do dia 3 de Março de 1975 do diário "A Capital".
Aí vai encontrar o plano político que foi então desenhado para Portugal pelos dirigentes alemães e pelos EUA, e que ainda hoje está em prática: "Impedir que os socialistas portugueses se unam aos comunistas. Este objectivo deverá ser conseguido através de um pesado apoio financeiro da República Federal [da Alemanha] e dos Estados Unidos, destinado sobretudo à ala direita do partido de Mário Soares".
E, ainda hoje, é assim.
O PS está proibido de fazer uma coligação à esquerda numa altura em que não vai poder negociar à direita.
A maioria absoluta do PS seria a única solução para resolver esta situação, uma vez que o líder do PSD, Santana Lopes, não pede uma maioria absoluta. Apenas pede a vitória.
O líder do PP pede uma votação de 10 por cento (actualmente tem 8 por cento).
Sinto que há mais pessoas inclinadas em fortalecer o actual governo de direita do que dar uma maioria absoluta a estes socialistas...
Domingo, dia 20 de Fevereiro de 2005, vai ser assim o dia mais importante para este país desde a revolução de 25 de Abril de 1974.
E eu vou usar a minha arma: vou votar.

Reflexões sobre Fátima

Há uns tempos fui fazer uma reportagem à Nazaré, essa terra de pescadores. Era uma reportagem que envolvia um problema com uma habitante e o padre local, pelo que tentei ouvir o bispo de Leiria. Foi um engano meu, porque apesar de Leiria estar ali tão perto, a Igreja da Nazaré afinal pertencia à diocese de Lisboa.
Perto da Nazaré fica Fátima, que se tornou no maior centro religioso nacional e até internacional após as notícias das aparições da Virgem, em 1917.
Até àquela altura, Nazaré era um rico centro religioso, fruto da devoção dos pescadores. E esse dinheiro era então gerido por Lisboa. Fátima, mais tarde, iria dar muito dinheiro a ganhar ao bispo de Leiria.
Dito assim, até parece que Fátima foi uma invenção do bispo de Leiria devido ao facto de estar a ser privado dos fundos da Nazaré. Contudo, este facto misturou-se com uma outra história que, anos antes, ouvi a caminho de Manteigas, com José Rabaça ao volante. Ouvi que, inicialmente, o "milagre" esteve pensado para ter lugar naquela vila da Serra da Estrela, a mais alta de Portugal. Mas, acabou por vencer a opção Fátima, devido à sua localização mais central no País - até parecia um concurso para a localização de um aeroporto...
Não quero criticar opções e "milagres" religiosas. Respeito todas as religiões que defendem a solidariedade, vida e amor pelo próximo.
A irmã Lúcia morreu.
Com 97 anos.
Cumpriu-se uma outra profecia de Fátima que dizia que ela, ao contrário dos primos, iria viver muitos anos. Lembro-me de ouvir isto no colégio de freiras que frequentei no Porto...
Não sei o que pensar sobre Fátima, mas apenas sei que a minha mãe nasceu a 13 de Maio e chama-se, muito naturalmente, Maria de Fátima. E eu amo-a.

20050213

Erro na tradução portuguesa do "O Código Da Vinci"

No capítulo 10 da edição portuguesa do "O Código Da Vinci", quando se lê: "Seis mil quinhentos metros acima do Atlântico...", deve ler-se: "Seis mil quinhentos metros acima do Mediterrâneo".

Quarta carta a um estrangeiro sobre o Portugal de hoje

Caro estrangeiro,

Hoje morreu a irmã Lúcia.
Esta senhora faleceu com 97 anos e foi a última sobrevivente do grupo de três postorinhos que, em 1917, testemunharam a aparição da Virgem Maria em Fátima. Por causa desta morte, o líder do PSD, Santana Lopes, e o seu companheiro da actual coligação governamental, o líder do Partido Popular (PP), Paulo Portas, adiaram as acções de campanha.
Ontem, o semanário "Expresso", um dos jornais mais lidos no País e uma referência política única - que pertence a um empresário chamado Francisco Pinto Balsemão, membro número 1 do PSD, antigo primeiro-ministro (1981-1983) e dono de uma importante televisão privada, a SIC - noticiou que aquele artigo publicado no diário "Público" a garantir que um outro antigo primeiro-ministro do PSD, Cavaco Silva, teria confessado em privado que preferia a vitória do PS em vez da de Santana Lopes, afinal terá tido origem dentro do seio de apoiantes de Santana Lopes. Tudo para obrigar depois Cavaco Silva a esclarecer publicamente a sua posição política.
Não está nada mal vista a ideia...
Só que há umas questões que tal situação levanta e que o "Expresso" não consegue explicar: Quer-se então dizer que os jornalistas do "Público" foram "instrumentalizados" pelas suas fontes? Ou pretende o "Expresso" insinuar que os jornalistas do "Público" foram uns meros escribas que servem apenas para os políticos fazerem os seus joguinhos?
Quereria o "Expresso" apontar ainda um dedo acusador ao diário "Público" e classificar os seus profissionais de serem maus jornalistas, uma vez que os artigos sobre Cavaco Silva não mencionavam nomes de fontes e, afinal, destinavam-se a favorecer Santana Lopes?
E, o mais engraçado, é que nos querem convencer que Santana Lopes, afinal, depois de tantos ataques que teve contra si, agora já tem jornalistas a fazerem-lhe "carinhos" num diário que pertence a um empresário, Belmiro de Azevedo, que é público o facto de nunca ter estado a favor do actual primeiro-ministro.
Isto anda muito confuso, mas ainda bem que já só falta uma semana para as eleições...

20050211

Terceira carta a um estrangeiro sobre o Portugal de hoje

Caro estrangeiro,

Acho que hoje houve uma polémica qualquer sobre uma suspeita de que o candidato do Partido Socialista, José Sócrates, estaria a ser investigado pela Polícia Judiciária sobre uma autorização que ele deu na altura em que era ministro do Ambiente. Parece que nada daquilo se confirma, pelo que o partido rival, o PSD, liderado pelo ainda primeiro-ministro Pedro Santana Lopes, deu mais um tiro no pé.
O meu caro estrangeiro poderá não saber, mas houve uma altura na nossa história recente em que o PS e PSD estiveram juntos no governo. Foi entre 1983 e 1985. Não foi assim há tanto tempo, mas há jovens que vão votar pela primeira vez no dia 20 e que ainda não eram nascidos quando houve este governo, que ficou conhecido como "Bloco Central".
Esses jovens vão votar e ignoram a História da recente democracia em Portugal que resultou da Revolução de 25 de Abril de 1974, quando os militares derrubaram o ditadura.
Ainda há dias, num concurso televisivo de cultura geral, houve uma jovem concorrente que achava perfeitamente natural não saber quem tinha sido o primeiro Presidente da República depois daquela nossa revolução democrática de há apenas 31 anos.
Pergunto-me: Se os filhos não conhecem a história dos seus pais, que tipo de filhos irão depois criar?
Serve isto para lhe dizer, caro estrangeiro, que nenhum destes dois partidos pode criticar ou apontar falhas éticas ao outro partido, uma vez que ambos sempre governaram alternadamente durante os últimos 30 anos. Todos eles têm os telhados de vidro bem visíveis.
A solução não pode estar na esquerda, como no Brasil ou na Venezuela, pois os EUA nunca iriam permitir - Portugal tem uma base área norte-americana nos Açores e pertence à NATO. Não pode haver comunistas nos governos dos países membros da NATO...
Mas, há pouco vi a luz!
A sério!
Percebi!
Já sei porque Santana Lopes fez tantos erros nestes últimos quatro meses em que lhe foi entregue o posto de primeiro-ministro...
Ele quer acabar com o PSD e fundar um novo partido!
Estas eleições, ele já sabe, vão ser para perder e avaliar quantas pessoas, ainda assim, acreditam em si.
Perde agora, mas como ainda é um homem novo, funda um novo partido e daqui a uns quatro anos, quando os socialistas acabarem de explorar o seu filão mais uma vez, lá está Santana.
Como um salvador.
Vais ver, caro estrangeiro, se não vai ser mesmo assim como eu te digo...

20050209

Segunda carta a um estrangeiro sobre o Portugal de hoje

Caro estrangeiro,

A campanha eleitoral já passou o Carnaval.
O primeiro-ministro, Pedro Santana Lopes, que também é candidato a primeiro-ministro pelo Partido Social Democrata (PSD), foi de avião do Estado até uma base militar para anunciar que essa base, no futuro, vai também passar a poder receber aviões civis.
Um autarca local, que também é do PSD, disse que essa medida iria permitir um aumento de turistas. E repara que não é uma terra qualquer, uma vez que fica perto de Fátima, que, concerteza já deves ter ouvido falar, pois é um santuário religioso desde que, em 1917, três pastorinhos viram a Virgem Maria em cima de uma azinheira.
O líder do Partido Socialista (PS), José Sócrates, que não santinho nenhum, obviamente que aproveitou esta acção do candidato a primeiro-ministro, classificando-a de acto eleitoralista.
Pedro Santana Lopes, que chamou no dia seguinte os jornalistas à sua residência oficial de primeiro-ministro, explicou que durante o Carnaval não faz campanha eleitoral e aquela visita fora mesmo necessária.
A notícia mais importante, contudo, aconteceu quando um jornal chamado "Público" noticiou que o antigo primeiro-ministro e membro do PSD, Cavaco Silva, que foi primeiro-ministro entre 1985 e 1995 (sim, isso mesmo, durante dez anos seguidos...), prefere que seja o adversário PS a ganhar as eleições e com maioria absoluta...
Cavaco Silva terá depois desmentido a notícia, mas o mesmo jornal publica hoje uma manchete que diz: "Cavaco Silva tentou evitar vitimização de Santana Lopes - Ex-primeiro-ministro mantém silêncio até dia 20 para não prejudicar PSD mas prevê vitória do PS".
Fica a saber, caro estrangeiro, que aquilo que o "Público" disse não é mentira. Mas, também não é uma novidade para ninguém. A novidade é o "Público" noticiar algo sem identificar a fonte e pensarem que os leitores são estúpidos, uma vez que até eu, há umas semanas, escrevi na nova revista onde trabalho, a "tvTOP!", que Cavaco Silva, desde que abandonou a liderança do seu partido, já "traíu" publicamente dois líderes do PSD. E citei mesmo fontes. Uma delas, por exemplo, foi uma edição de 1995 do referido diário...
O primeiro líder do PSD a ser "traído" chamava-se Fernando Nogueira, e tinha sido ministro da Defesa de Cavaco Silva. Esse Fernando Nogueira, que está hoje afastado da política e vive em Paris, foi eleito sucessor de Cavaco Silva e iria disputar as eleições de Outubro de 1995 contra o então líder do PS, António Guterres.
Acontece que, em Janeiro de 1996, iria haver eleições presidenciais e dizia-se que Cavaco Silva queria ser candidato, mas não iria assumir publicamente essa vontade enquanto não fosse escolhido o novo primeiro-ministro.
Também nessa altura se dizia que, caso o vencedor das eleições fosse Fernando Nogueira, então Cavaco Silva dificilmente poderia vir a ser eleito, uma vez que a sua imagem andava bastante desgastada e o País queria mudança e estava cansado do seu rosto autoritário e sem graça. Coisas que já esquecemos, mas a vida é mesmo assim, uma vez que os portugueses, apesar de ser um povo com 800 anos de História, só têm uma capacidade de retenção de factos de apenas dois meses.
Explico-te que, uma semana antes das eleições de Outubro de 1995 que iriam eleger o novo primeiro-ministro, Fernando Nogueira disse aos jornalistas que já conhecia a decisão de Cavaco Silva sobre as eleições presidenciais de Janeiro de 1996. Já a conhecia, mas não iria, obviamente, revelá-la.
Cavaco Silva, contudo, sem avisar Fernando Nogueira, desmentiu publicamente aos jornalistas que alguma vez tivesse revelado a sua posição ao novo líder do PSD...
Foi um "assassinato político" e Fernando Nogueira perdeu as eleições para António Guterres.
Resta dizer-te, caro estrangeiro, que, em Janeiro, apesar de tudo, Cavaco Silva não foi eleito Presidente da República, mas sim o antigo líder do PS, Jorge Sampaio, que era presidente da Câmara de Lisboa, e que ainda hoje é o actual Presidente da República.
Santana Lopes nunca foi tido em grande consideração por Cavaco Silva. O actual primeiro-ministro fez parte do governo de Cavaco Silva, mas nunca foi elevado à categoria de ministro, tendo-se ficado apenas pelo cargo de secretário de Estado da Cultura.
Há umas semanas, Cavaco Silva não autorizou que uma foto sua figurasse num cartaz da campanha eleitoral de Santana Lopes. Foi outra "traição". Agora, junta-se esta notícia do "Público". Uma notícia que não identifica a fonte (não, o "Público", embora até possa parecer, não é tido como um jornal sensionalista. Poderás estar a confundir, caro estrangeiro, pois eu é que trabalhava num semanário que era conotado com essa área. Sim, eu sei, parece que anda tudo ao contrário...)
Conclusão (que esta carta já vai longa e ainda te perdes nos detalhes): com amigos daqueles dentro do próprio partido, Santana Lopes não precisa de ter adversários fortes no lado do PS. Por isso é que este País está a ir pelo cano, uma vez que até há jornais ditos sérios que alinham neste jogo da baixa política...

20050206

Carta para um estrangeiro sobre o Portugal de hoje

Lisboa, 6 de Fevereiro de 2005

Caro estrangeiro,
Começo hoje o meu blogue eleitoral, para lhe dar conta do que se vai passar neste pequeno País atlântico.
Hoje começou a campanha eleitoral destinada a eleger o próximo primeiro-ministro.
As eleições estão marcadas para o dia 20 e, na prática, existem dois candidatos a primeiro-ministro, o social-democrata Pedro Santana Lopes e o socialista José Sócrates.
Vamos ter de escolher entre dois políticos "profissionais". Digo isto porque, desde que há democracia em Portugal, há 30 anos, os governos têm sido repartidos entre os partidos de ambos, PSD e PS.
O país pede, por isso, uma mudança. Mas, Santana Lopes e Sócrates são fruto de aparelhos partidários.
É possível mudar?
Acho que sim. Sócrates já esteve no Governo há três anos. Era ministro do Ambiente do socialista António Guterres. E, olhando para aquilo que ele poderá trazer de novo, para a tal mudança, pouco ou nada conseguimos ver. São os mesmos de há três anos.
O mais provável é regressarmos a um passado estagnado que criou um pântano.
Santana Lopes, por outro lado, apresenta-se como um caso bem mais interessante: ele é "odiado" por uma élite política...
Santana Lopes e o líder do PP são actualmente primeiro-ministro e ministro da Defesa numa coligação que foi feita em 2002, após as eleições ganhas pelo então líder do PSD, Durão Barroso. Porém, Durão Barroso foi convidado para presidente da Comissão Europeia, em Junho passado, e Santana Lopes, que era presidente da Câmara de Lisboa e número dois do PSD, acabou por ser escolhido para líderar o governo. E, durante quatro meses, foi atacado por todos os lados, até que o Presidente da República decidiu convocar eleições antecipadas.
A Santana Lopes faltava a legitimação do voto.
Mas, na minha opinião, ele foi atacado porque ousou querer mudar.
É que não era suposto ele chegar a ser primeiro-ministro.
Nem ser candidato a tal.
Aquilo viera-lhe do céu, contra todos os planos do computador da política.
Até mesmo dentro do seu partido.
E foi de dentro do seu partido que vieram alguns dos grandes ataques contra o seu governo.
Todo o mais pequeno engano de Santana era amplificado pelos jornalistas e transformado num grande escândalo. Como nunca se vira no pior tempo do pior governo em que esteve José Sócrates.
Só por causa daqueles que atacaram Santana Lopes é que acho que ele poderá mesmo trazer a mudança que o país tanto necessita.
Os que o atacam são aqueles que há muito que estão a mais.
Apesar de Santana estar na política há 30 anos, nunca foi devidamente considerado e agora tem uma oportunidade para mostrar o que vale. Para mudar.
Ele precisa da legitimidade do voto para mostrar que pode mudar Portugal.
Mas, vai ser difícil e temo que regresse o caminho para o pântano.
À medida que a campanha avançar, irei dar-lhe mais notícias.

Salvar o "Tal&Qual" - II

Sim, já li a crónica de Alexandre Pais, antigo director do "Tal&Qual" e actual director do "Record", na revista "Sábado" desta semana.
Claro que percebi que ele explicou muito bem qual deveria ser o rumo que o semanário, onde trabalhei durante oito anos, deverá seguir.
Sim, reparei, é claro, que ele mencionou o meu nome e o da minha antiga camarada do Porto, Paula Silva, como exemplo de dois jornalistas cujos trabalhos colocaram as vendas acima dos 50 mil exemplares, quando a média andava nos 30 mil.
Não, não tenho ilusões. O "Tal&Qual", nas condições em que se encontra actualmente, dificilmente poderá voltar a vender 50 mil exemplares. Eu, por exemplo, já lá não estou. A Paula Silva, outro exemplo, faz jornalismo em "part-time" para o "Tal&Qual", visto que está no "24horas". Como o actual director, Gonçalo Pereira, cujo nome nunca saiu da ficha técnica do "24horas". Contudo, ao contrário de alguns que acham que o semanário deveria ao menos poder encerrar de uma forma digna, em vez de se afundar nas mãos de quem reconhece não saber que rumo dar, acredito que ainda há uma solução para aquele histórico título: Voltar às origens e fazer jornalismo.
Aquele jornalismo que, conforme apontou Alexandre Pais, parta do princípio de que a notícia que interessa é a resposta que se dá após pensar: "A pergunta estava a ser feita em milhares de lares portugueses e o 'T&Q' tinha de dar a resposta"...
Porque o "T&Q" sempre deu a resposta que mais ninguém ousava dar.
E é isso que nos querem tirar.
Essa voz.
A voz de quem não tem voz.
Eis o "Tal&Qual".
Eis a solução para o salvar.
Se quiserem...
Senão, que o fechem!
Mas façam-no com dignidade!

20050205

O pão é nosso

Eles podem ter a faca e o queijo na mão, mas nós temos de os fazer aceitar o nosso pão.

20050204

"Eu ainda não era nascido..."

Algumas reflexões sobre aquela irritante desculpa do "eu ainda não era nascido..." que tanta gente usa para justificar casos de olímpica ignorância:

- Eu ainda não era nascido quando se inventou a aspirina, mas mesmo assim ela até funciona quando tenho dor de cabeça.

- Eu ainda não era nascido quando se deu a Revolução Francesa (1789...), pelo que não tenho direito em exigir Liberdade, Igualdade e Fraternidade.

- Eu ainda não era nascido quando o Albert Camus ganhou o prémio Nobel da Literatura, daí que não tenha a certeza se irei entender um livro seu, apesar de até saber ler.

- Eu ainda não era nascido quando Pedro Álvares Cabral descobriu o Brasil, daí que prefira as telenovelas brasileiras às portuguesas, embora reconheça que o português deles seja bastante diferente do nosso.

- Eu ainda não era nascido no dia 25 de Abril de 1974, razão pela qual, se chover no próximo dia 20 de Fevereiro, não irei votar.

- Eu ainda não era nascido quando inventaram o fogo, por isso é que prefiro aquecer a comida no micro-ondas.

- Eu ainda não era nascido quando inventaram a roda, por isso é que fico parado durantes horas no trânsito.

- Eu ainda não era nascido quando mataram o rei no Terreiro do Paço, por isso não preciso de me matar a estudar História de Portugal.

- Eu (ao contrário do historiador José Hermano Saraiva) ainda não era nascido quando D. Afonso Henriques conquistou Lisboa aos mouros, o que explica o facto de não me importar de pagar 3 euros para ir ver a vista sobre Lisboa desde o Castelo de S. Jorge.

- Eu ainda não era nascido quando Mozart compôs o "Requiem", mas sei muito bem que, se eu quiser, posso ir hoje a uma loja pedir um disco de um concerto dele ao vivo.

- Eu ainda não era nascido quando a televisão era a preto e branco, por isso sou do Boavista porque me diseram que é o único clube que mantém as cores originais.

20050202

Contra Spínola...

No concurso da RTP "Um Contra Todos" exibido esta noite, uma jovem não soube responder à pergunta "Quem foi o primeiro Presidente da República após o 25 de Abril de 1974".
As opções eram António Spínola, Américo Thomaz e Mário Soares.
A concorrente disse que não era nascida em 1974 e que, por isso, não sabia. Estudara História de Portugal até ao nono ano, mas a sua formação estava agora centrada na música clássica.
A jovem excluíu Mário Soares, pois achava que, apesar de tudo, ele não esteve tantos anos na Presidência da República, uma vez que lembrava-se dele como detentor desse cargo até há algum tempo e deduziu que os limites de mandatos não davam para tanto.
Ficou na dúvida entre Spínola e Américo Thomaz e Spínola, e o nome que mais lhe soava era o do último.
Obviamente, perdeu.
Não sei o que dizer.
Estou triste, apenas.
Portugal, sem conhecer o seu passado recente, não pode ter quadros válidos para enfrentar o futuro próximo.

20050201

Diogo Infante supera boatos

Desculpem voltar à carga com o assunto do Diogo Infante, mas é perfeitamente justificada esta nova menção. Vejam a capa da "TV Guia" desta semana e perceberão.
O título deste "post" é tirado da capa da mesma. Finalmente, após aquela ambígua peça da "Visão" sobre os boatos, houve alguém que foi fazer as perguntas certas. Tiro o chapéu à "TV Guia" e, em particular, à jornalista que assina a peça, Kátia Soveral (não a conheço pessoalmente e não estou aqui a fazer qualquer frete à pessoa...).
Assinalo,isso sim, estas perguntas e respostas na entrevista ao actor:

"- Corre o boato de que está muito doente.
- [admirado]Eu? Que saiba não! Nós não devemos acreditar em tudo o que ouvimos. Tanto quanto sei, tirando este vício do tabaco, estou muito saudável. Deixa-me bater aqui na medeira [bate três vezes na mesa]. Tudo o que se diz, por um lado, tem que ver com a ignorância e, por outro lado, com o desconhecimento. Como me exponho pouco, as pessoas prestam-se a este tipo de situações, a todo o género de especulações.
- Vamos entrar no mundo da suposição. Se estivesse realmeente doente, era capaz de o assumir numa entrevista?
- É um mundo perigoso, esse, o da suposição, percebem? Porque este é o tipo de jogos que leva a tudo. Se estivesse doente e achasse que o facto de assumir podia ter consequências benéficas, porque não? Mas não sei... Felizmente, nunca me deparei com esse problema.
- Mas há outro boato sobre si...
- [Diogo interrompe] Eu sei. E não quero falar dele [boato da relação com José Sócrates]. Mas a razão desta entrevista não era para falar do teatro?"

A entrevista segue depois para a peça de teatro na qual Diogo Infante trabalha actualmente, "EndGame".
Quero aqui saudar a "coragem" jornalística que a "TV Guia" teve em assumir a existência do boato e de ter atacado o mal pela raíz, apesar da evidente incómodo do visado. Contudo, considero esta entrevista muito mais honesta do que aquela capa da "Visão" que não dizia nada, assim como todos aqueles que falam e falam dos boatos, mas não concretizam a sua acusação de uma forma evidente para que eles possam desaparecer de vez.

P.S. Cumprem-se hoje dois anos desde que foi determinada a prisão preventiva de Carlos Cruz no âmbito do processo da Casa Pia.