Fernando Farinha Simões esteve hoje de manhã na Assembleia da República para testemunhar sobre Camarate. Mas, segundo me informou há pouco num telefonema, via o seu advogado, desde a prisão de Vale de Judeus, recusou-se a acrescentar dados para além daqueles publicados há um ano na carta colocada no YouTube. E explicou porquê: a sessão foi à porta fechada, contra a sua vontade. Os deputados quiseram que a sessão fosse à porta fechada, mas Fernando Farinha Simões não se sente protegido para avançar com mais dados sobre a morte do primeiro-ministro Sá Carneiro e do ministro da Defesa, Amaro da Costa, caso não possa falar livremente em público para o maior número possível de testemunhas. Daí exigir que a AR, como casa de Democracia e de transparência, o deixe falar à porta aberta. Acrescentou ainda que, quando um deputado do PSD o confrontou com o facto de ele ser o "assassino" de Sá Carneiro, Farinha Simões respondeu-lhe: "Assassinos são vocês, que andam a matar o povo à fome". Assim, 30 anos depois de Camarate, ainda há medo em conhecer a verdade. Mas, esse medo já não parte dos autores do caso. Parte agora dos deputados e, ainda, dos jornalistas. Estive presente esta manhã na AR para poder ouvir o testemunho de Fernando Farinha Simões. Falei com o presidente da comissão, o deputado Matos Rosa, e disse-lhe que estaria na sala não como jornalista, mas como autor de um livro sobre o caso e antiga testemunha da mesma comissão. Ele compreendeu o pedido, mas não podia autorizar, pois corria o risco de estar a abrir uma excepção. Não vi por ali nenhum jornalista e, à saída do edifício, reparei num carro da RTP estacionado no parque reservado aos órgãos de Comunicação Social. Não creio que a equipa da televisão do Estado estivesse lá para acompanhar os trabalhos da comissão que anda a investigar a morte do primeiro-ministro e ministro da Defesa, mas sei que, na RTP, há um ano que existem entrevistas que Farinha Simões e José Esteves deram à jornalista Sandra Felgueiras e que continuam inéditas. Talvez hoje, dia em que a Democracia funcionou à porta fechada, a RTP pudesse fazer jornalismo e fosse buscar essas entrevistas e explicasse ao povo português aquilo que anda a ser escondido. Mas isto, claro, seria pedir muito aos jornalistas do canal público.
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