20150108

Ser "Charlie"...

Como anda agora toda a gente no jornalismo a dizer uma coisinha da moda, que fica sempre muito bem, que é o "Je Suis Charlie”, gostava que ficasse claro que soubessem bem o que andam a dizer. Ou seja, que aproveitem para conhecer a história da revista satírica francesa e a sua importância social. O humor é uma das armas mais fortes que uma sociedade tem. Eu, por exemplo, ficava imediatamente informado sobre a cena política francesa quando lia os cartoons do "Charlie Hebdo". Eram as piadas que se discutiam no café, no metro, nos escritórios de Paris. Era ali que sentia o pulsar da sociedade. Saber o que os fazia rir, pensar. Aquilo era mesmo muito sério. Não sei se os camaradas que ostentaram ontem e hoje as folhas negras a dizer que eram "Charlie", alguma vez conseguiram ser "Charlie". Ou se alguma vez conseguirão ser uma aproximação sequer de um "Charlie". Para isso, apresento uma versão muito resumida da sua história: em Setembro de 1960, o autor de BD, Fred – de origem grega - faz a capa do primeiro número de uma revista satírica que se escolheu chamar "Hara-Kiri". Dez anos mais tarde, em Novembro 1970, esta revista, que teve altos e baixos, publicou uma capa polémica logo após a morte do antigo presidente da República e herói da II Guerra Mundial, o general De Gaulle. Uma semana antes houvera um incêndio numa discoteca que se saldara em 146 mortos. A imprensa generalista francesa – os antecessores dos que hoje dizem “Je Suis Charlie” – já dava sinais de informação-espectáculo e noticiou as mortes debaixo da capa de “Baile Trágico – 146 mortos”. Assim, oito dias depois, quando morreu De Gaulle, na localidade de Colombey, o "Hara-Kiri" publicou, e bem, a manchete “Baile Trágico em Colombey – 1 morto”. Pretendia assim demonstrar a falta de profissionalismo dos camaradas dos outros jornais. Conclusão: a revista foi suspensa pela ministério da Administração Interna da França e, na resposta, nasceu então a "Charlie Hebdo". E "Charlie" vinha de Charlie Brown, mas também do diminutivo do primeiro nome do falecido presidente da França, Charles...

2 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

"...oito dias depois, quando morreu De Gaulle, na localidade de Colombey, o 'Hara-Kiri' publicou, e bem, a manchete 'Baile Trágico em Colombey – 1 morto'. Pretendia assim demonstrar a falta de profissionalismo dos camaradas dos outros jornais."

Ou pretendia antes desvalorizar e gozar com quem foi o Presidente, apresentando o grande luto nacional que se seguiu como: "Tanta coisa, só porque morreu uma pessoa?..."

Para além de ter liderado uma boa parte da Resistência contra o Fascismo, na Segunda Grande Guerra, o De Gaulle foi o último grande presidente verdadeiramente patriota que a França teve. E, não foi por acaso que foi alvo de tantas tentativas de assassinato. E, este jornal "Charlie não-sei-das-quantas" é uma clara arma mediática ao serviço de (os traidores pertencentes a) o mesmo poder que repetidamente tentou matar fisicamente o De Gaulle - e que, após a morte do último, tratou de menosprezar e desvalorizar tal Presidente.

Décadas depois, o que faz este jornal?... Publica uns "cartoons", temos mais um atentado terrorista em solo ocidental e...: Dêem as boas vindas a militares a patrulhar as ruas! (Mais um passo na direcção do que quer o poder sinarquista, semelhante ao Fascismo - desde a morte do De Gaulle agora bem - estabelecido, transnacional e oculto.)

"Je Suis Charlie" devia-se ler: "Sou mais uma pessoa que emite propaganda mediática com vista à instauração de um Estado Policial Europeu."

12 janeiro, 2015  
Anonymous Anónimo disse...

Sobre o general De Gaulle e tentativas de remoção do mesmo:

http://blackfernando.blogs.sapo.pt/o-celebre-maio-de-68-explicado-em-muito-78960

16 maio, 2015  

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