20130711

Já estava escrito...

Aquilo que tenho a dizer sobre o discurso de Cavaco é apenas que, em 2006, disse aqui que era isto que ele iria fazer... Não acreditam? Vão então ao arquivo deste blogue, mês de Abril de 2006, e, no dia 29, leiam o texto chamado "Apenas uma impressão"...


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20130703

Paulo antes de ser Portas

Paulo Portas, é o mais experientes político português no activo. Nem os líderes dos dois maiores partidos, Passos Coelho e António José Seguro, têm uma experiência política tão antigaNascido a 12 de Setembro de 1962, Paulo de Sacadura Cabral Portas ainda não tinha atingido a maioridade e já provocava polémicas políticas. Em 1978, escassos quatro anos após o 25 de Abril, assinou um texto no “Jornal Novo, então dirigido pela social-democrata Helena Roseta, onde atacou o Presidente da República de Portugal, Ramalho Eanes. Um processo judicialcontra o autor do texto ficou sem efeito quando o mais alto magistrado da Nação se mostrousensível ao facto de estar perante um menor de 16 anos e filho de boas famílias – o pai, o arquitecto Nuno Portas, tinha sido secretário de Estado da Habitação e Urbanismo do I Governo Provisório. A mãe, Helena Sacadura Cabral, era economista e sobrinha do herói da aviação, Artur Sacadura Cabral. Paulo Portas ainda não tinha 18 anos e, durante um congresso do Partido Social Democrata (PSD), no Hotel Roma, fez aquele que, para muitos, foi considerado o melhor discurso e chamou a atenção do então líder do partido, Francisco Sá Carneiro. Depois, ao serviço do semanário “Tempo”, dirigido por Nuno Rocha, o adolescente teve carta-branca para escrever sobre política. Era um jornalista com veia para a política, ou, se quisermos, um político que sabia usar o jornalismo como caminho para conquistaros corações e as mentes de leitores e eleitores. Eram tempos em que os jornais em Portugal estavammuito mais identificados com a corrente política que defendiam. E Paulo Portas militava na direita social-democrata. Hoje, está coligado com o seu antigo PSD, mas como líder do CDS que, naquela altura, com Freitas do Amaral à frente do partido, não tinha problemas em aliar-se com o PSDcomo com o PS de Mário Soares.

No início do ano de 1980, Sá Carneiro e Freitas do Amaral foram eleitos para o Governo da AliançaDemocrática (AD), juntamente com o Partido Popular Monárquico (PPM) de Gonçalo Ribeiro Telles, naquela que foi a primeira maioria absoluta em Portugal. Esse momento seria seguido com entusiasmo pelo jovem político/jornalista Portas. No semanário “Tempo”Paulo Portas assinoutextos sobre os bastidores do gabinete do Conselho de Ministros. Conceição Monteiro, a “histórica” secretária de Francisco Sá Carneiro, era uma das suas amigas pessoais. Foi ela quem, na altura em que Portas atingiu a maioridade, a 12 de Setembro de 1980, lhe deu a ficha de inscrição no PSDcom a assinatura de Sá Carneiro como um dos proponentes. Estava enrolada com uma fitinha, como se fosse um pergaminho simbólico. Meses depois, Sá Carneiro morreu na queda de um avião emCamarate, juntamente com o ministro da Defesa e número dois do CDS, Amaro da Costa. O jovem Paulo Portas ficou órfão político e andou à procura de um novo “pai”. Não seguiu a solução do partido, que apostou em Pinto Balsemão, o actual dono da televisão SIC, e, com o passar dos meses, escolheu apoiar uma alternativa: Cavaco Silva, o agora Presidente da República de Portugal e que fora ministro das Finanças de Sá Carneiro entre Janeiro de 1980 e Dezembro de 1980Depois da morte de Sá Carneiro, Cavaco Silva não aceitou fazer parte do Governo de Balsemão, mas, em Fevereiro de 1981foi nomeado pela Assembleia da República para o cargo de presidente do Conselho Nacional do Plano. Cavaco Silva mantinha a ambição de chegar mais longe e Paulo Portas ajudou-o a manter-se à tona da cena política. Em Junho de 1981, o jornalista e militante do PSD, então ao serviço do semanário “Tempo”, entrevistou Cavaco Silva no seu gabinete na zona da Lapa e exaltou as qualidades de um economista que nunca se assumiu como político. Percebia-se claramente que Paulo Portas, através dos seus escritos jornalísticos e das entrevistas que então assinou, apoiava claramente Cavaco para líder do PSD. Mas, quatro anos mais tarde, quandoCavaco Silva subiu ao poder, Paulo Portas já tinha saído do PSD e escrevia então crónicas políticas para um novo jornal, o “Semanário”, fundado em 1983 por políticos de Direita também com gosto pelo uso do jornalismo como arma política: Marcelo Rebelo de Sousa, Daniel Proença de Carvalho e José Miguel Júdice. Eram outros tempos, sem Internet, sem redes sociais. As experiências de um jovem que começara cedo na política, com o pós-25 de Abril, estavam a adaptar-se aos ventos da estabilidade do jogo político em Portugal, como foi o Bloco Central (1983), chegada de Cavaco a líder do PSD (1985), entrada de Portugal na CEE e eleição de Mário Soares como o primeiro civil Presidente da República (1986). Paulo Portas poderia estar ainda longe de imaginar que, um dia, iria ser um governante. O país crescia com o impacto económico da entrada no Mercado Comum e as noites de Lisboa eram locais de descobertas pessoais, culturais, amizades, troca de contactos e experiências. Até que, finalmente, a 20 de Maio de 1988, saiu o primeiro número do semanário “O Independente”. Era o início de uma nova era. O jornalista Paulo Portas, então com apenas 25 anos,estava à frente de um projecto jornalístico de grande envergadura e, acompanhado por uma reconhecida figura intelectual da época, Miguel Esteves Cardoso, usou esse semanário como o veículo que iria levá-lo a reconquistalugar junto do poder e abrir-lhe as portas para uma vidaque, afinal, sempre fora a que desejara: a da política, pura e dura.


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