Vamos lá ver se nos entendemos de uma vez por todas, pois mais vale 33 anos de atraso do que nunca. O primeiro-ministro Sá Carneiro não desistiu à última hora das reservas do voo da TAP, como veio na primeira página do semanário "O Jornal" no dia seguinte a Camarate. Estas reservas existiam sim, mas apenas como cautela caso o mau tempo de Dezembro não permitisse que o avião privado Cessna pudesse descolar. Logo, é falsa a informação na primeira página daquele jornal. Não que os jornalistas de então tenham mentido de propósito, mas foram induzidos em erro. Conceição Monteiro, assessora de Sá Carneiro ajudou a propagandear esta informação como sendo a maneira mais correcta de interpretar algo que, não sendo propriamente uma mentira, também não era exactamente a verdade que depois se construiu. Da mesma forma, uma semana depois, quando o semanário "Expresso" revelou que, pouco antes do Cessna fatídico descolar, Sá Carneiro perguntou pelas reservas na TAP, este é um facto verdadeiro, mas esconde um outro dado que ficou de fora e dá igualmente uma imagem diferente. Sim, Sá Carneiro perguntou pelo avião da TAP, mas porque desconhecia que, ao lado do Cessna, estava um outro aparelho Cessna, propriedade da empresa Refinarias de Açúcar Reunidas - RAR - que tinha voado do Porto para Lisboa, de propósito, nessa manhã, para o transportar ao comício extra no Porto. Recentemente, na Xª Comissão de Camarate, foi ouvida pela primeira vez a secretária de Sá Carneiro, Isabel Veiga Macedo, que confirmou estes factos e acrescentou que Pinto Balsemão, o homem que estava no Porto há 33 anos à espera de Sá Carneiro, foi informada por ela, à hora do almoço, que o primeiro-ministro iria no avião de campanha, com Adelino Amaro da Costa, e não viajaria no avião da RAR, pelo que não era necessário mandar ir este aparelho do Porto para Lisboa. Balsemão, se calhar, não sabia que o avião já estava em Lisboa, pois não o transmitiu à secretária. E, se depois o soube, não terá conseguido avisar Sá Carneiro a tempo de ele poder ter a hipótese de trocar o avião fatídico pelo avião da RAR. O avião da TAP é que, ao fim destes anos todos, continua a surgir como sendo aquele que foi trocado. Não. Não e não. Foi o avião da RAR. E 33 anos depois, basta de mentiras. Por favor, basta.
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