Quinta carta a um estrangeiro sobre o Portugal de hoje
Caro estrangeiro,
Não sei o que sabes sobre a nossa revolução do dia 25 de Abril de 1974. Não sei se fazes parte daqueles estrangeiros que vieram até Portugal assistir, num acto poético de busca interior, às lutas políticas que se seguiram nos primeiros anos após o derrube da ditadura pelos militares.
Não sei se te recordas de que houve uma altura em que se falou da possibilidade de Portugal poder vir a ser "a Cuba da Europa".
O perigo da esquerda.. buhh! Que medo!!
Foi nessa altura quente do início da nossa democracia que se cimentou a amizade entre o líder do PS, Mário Soares, e o então embaixador norte-americano, Frank Carlucci. Foi também nessa altura que António Spínola (o Presidente da República depois do 25 de Abril) teve de se exilar após uma tentativa de contra-golpe a 11 de Março de 1975 e que provocou as nacionalizações. Até que o país entrou "nos eixos", com o golpe de 25 de Novembro de 1975.
São história já muito antigas...
Antigas?!
Não. Elas são actuais!
Actualíssimas, até!
E digo-te isto porque acabei de assistir na televisão ao debate entre os cinco principais líderes políticos com representação na Assembleia da República.
Já te expliquei em cartas anteriores que há dois grandes candidatos, os líderes do PSD e PS, respectivamente Santana Lopes (actual primeiro-ministro) e José Sócrates. Mas, também há, na direita, o PP e, à esquerda, o Partido Comunista (numa aliança com os verdes - CDU) e, mais à esquerda, o Bloco de Esquerda.
Caso o PSD ou o PS não obtenham uma maioria absoluta no domingo, terão de fazer coligações para não governarem em minoria.
E é aqui que entra a questão daquelas antigas histórias...
PSD e PP são de direita e já têm um acordo público que os une se tal vier a ser necessário após o dia 20. E nenhum dos dois deverá viabilizar um governo de esquerda.
O PS pede a maioria absoluta e não fala noutro cenário.
A razão pela qual o PS não fala hoje em união à esquerda remonta precisamente aos anos da revolução...
É verdade.
O meu caro estrangeiro, caso esteja a ler-me na Alemanha, procure numa biblioteca pública desse país um exemplar da revista "Extra" do início do ano de 1975. Caso esteja em Portugal, consulte a edição do dia 3 de Março de 1975 do diário "A Capital".
Aí vai encontrar o plano político que foi então desenhado para Portugal pelos dirigentes alemães e pelos EUA, e que ainda hoje está em prática: "Impedir que os socialistas portugueses se unam aos comunistas. Este objectivo deverá ser conseguido através de um pesado apoio financeiro da República Federal [da Alemanha] e dos Estados Unidos, destinado sobretudo à ala direita do partido de Mário Soares".
E, ainda hoje, é assim.
O PS está proibido de fazer uma coligação à esquerda numa altura em que não vai poder negociar à direita.
A maioria absoluta do PS seria a única solução para resolver esta situação, uma vez que o líder do PSD, Santana Lopes, não pede uma maioria absoluta. Apenas pede a vitória.
O líder do PP pede uma votação de 10 por cento (actualmente tem 8 por cento).
Sinto que há mais pessoas inclinadas em fortalecer o actual governo de direita do que dar uma maioria absoluta a estes socialistas...
Domingo, dia 20 de Fevereiro de 2005, vai ser assim o dia mais importante para este país desde a revolução de 25 de Abril de 1974.
E eu vou usar a minha arma: vou votar.
Não sei o que sabes sobre a nossa revolução do dia 25 de Abril de 1974. Não sei se fazes parte daqueles estrangeiros que vieram até Portugal assistir, num acto poético de busca interior, às lutas políticas que se seguiram nos primeiros anos após o derrube da ditadura pelos militares.
Não sei se te recordas de que houve uma altura em que se falou da possibilidade de Portugal poder vir a ser "a Cuba da Europa".
O perigo da esquerda.. buhh! Que medo!!
Foi nessa altura quente do início da nossa democracia que se cimentou a amizade entre o líder do PS, Mário Soares, e o então embaixador norte-americano, Frank Carlucci. Foi também nessa altura que António Spínola (o Presidente da República depois do 25 de Abril) teve de se exilar após uma tentativa de contra-golpe a 11 de Março de 1975 e que provocou as nacionalizações. Até que o país entrou "nos eixos", com o golpe de 25 de Novembro de 1975.
São história já muito antigas...
Antigas?!
Não. Elas são actuais!
Actualíssimas, até!
E digo-te isto porque acabei de assistir na televisão ao debate entre os cinco principais líderes políticos com representação na Assembleia da República.
Já te expliquei em cartas anteriores que há dois grandes candidatos, os líderes do PSD e PS, respectivamente Santana Lopes (actual primeiro-ministro) e José Sócrates. Mas, também há, na direita, o PP e, à esquerda, o Partido Comunista (numa aliança com os verdes - CDU) e, mais à esquerda, o Bloco de Esquerda.
Caso o PSD ou o PS não obtenham uma maioria absoluta no domingo, terão de fazer coligações para não governarem em minoria.
E é aqui que entra a questão daquelas antigas histórias...
PSD e PP são de direita e já têm um acordo público que os une se tal vier a ser necessário após o dia 20. E nenhum dos dois deverá viabilizar um governo de esquerda.
O PS pede a maioria absoluta e não fala noutro cenário.
A razão pela qual o PS não fala hoje em união à esquerda remonta precisamente aos anos da revolução...
É verdade.
O meu caro estrangeiro, caso esteja a ler-me na Alemanha, procure numa biblioteca pública desse país um exemplar da revista "Extra" do início do ano de 1975. Caso esteja em Portugal, consulte a edição do dia 3 de Março de 1975 do diário "A Capital".
Aí vai encontrar o plano político que foi então desenhado para Portugal pelos dirigentes alemães e pelos EUA, e que ainda hoje está em prática: "Impedir que os socialistas portugueses se unam aos comunistas. Este objectivo deverá ser conseguido através de um pesado apoio financeiro da República Federal [da Alemanha] e dos Estados Unidos, destinado sobretudo à ala direita do partido de Mário Soares".
E, ainda hoje, é assim.
O PS está proibido de fazer uma coligação à esquerda numa altura em que não vai poder negociar à direita.
A maioria absoluta do PS seria a única solução para resolver esta situação, uma vez que o líder do PSD, Santana Lopes, não pede uma maioria absoluta. Apenas pede a vitória.
O líder do PP pede uma votação de 10 por cento (actualmente tem 8 por cento).
Sinto que há mais pessoas inclinadas em fortalecer o actual governo de direita do que dar uma maioria absoluta a estes socialistas...
Domingo, dia 20 de Fevereiro de 2005, vai ser assim o dia mais importante para este país desde a revolução de 25 de Abril de 1974.
E eu vou usar a minha arma: vou votar.
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