Recordação de Cunhal com o KGB pelo meio
Em Abril de 1995 estive uma semana em Moscovo para entrevistar alguns antigos agentes do KGB sobre o desvio de documentos da PIDE para a URSS após o 25 de Abril de 1974.
Gravei alguns testemunhos em vídeo, mas os originais dessas cassetes perderam-se na mesa de um responsável de Informação da SIC, pelo que aprendi a não confiar originais, especialmente quando ainda não fizera cópias...
Nessa altura, em 1995, foi aprovado na Assembleia da República uma comissão de inquérito parlamentar para investigar a transferência de arquivos da PIDE para o KGB, de modo a tentar apurar quem foram os responsáveis pelo seu envio e que tipo de chantagem foi depois exercida sobre as pessoas cujos dados supostamente acabaram por ser utilizados pelos serviços secretos soviéticos.
O inquérito PIDE/KGB, um pouco à semelhança do inquérito parlamentar aprovado em Março de 1987 que iria investigar o negócio ilegal do tráfico de armas norte-americanas por Portugal no âmbito do escândalo do "Iran-Contra", também nunca chegou a funcionar, visto que foi interrompido e nunca retomado porque, em 1995, houve eleições legislativas - onde Fernando Nogueira perdeu contra o socialista António Guterres.
Em 1999, contudo, foi editado em Inglaterra o livro "O Arquivo Mitrokhine" - tradução em português pela Dom Quixote com prefácio de José Pacheco Pereira.
Um antigo arquivista do KGB, Vasili Mitrokhin, tinha desertado da Rússia em 1992 e, com a ajuda dos serviços secretos britânicos, levara para Inglaterra imensos dados dos arquivos soviéticos.
O livro era apenas uma pequena parte do que tinha sido "autorizado" a ser divulgado publicamente.
Na página 388 da edição portuguesa afirmava-se que Álvaro Cunhal fora o responsável por grande parte da informação transmitida ao KGB e, entre vários documentos que o PCP enviou para Moscovo, havia mesmo material dos arquivos da PIDE.
Fui questionar Álvaro Cunhal sobre este assunto. Para tal, aproveitei uma deslocação sua ao Porto, à Cooperativa Árvore, onde o histórico líder do PCP ia apresentar o livro "A Verdade e Mentira na Revolução de Abril", numa sessão moderada pelo artista plástico José Rodrigues.
Fiz a minha pergunta na sessão de discussão pública. Confesso que estava algo nervoso já que sabia que não iria ser uma pergunta fácil, ainda por cima perante um público fiel ao líder...
Levantei-me, identifiquei-me devidamente como jornalista do "Tal&Qual" e perguntei directamente a Álvaro Cunhal o que tinha a dizer sobre aquela acusação constante do livro de Mitrokhin e, como disse Salgueiro Maia quando descreveu o momento em que acabara de transmitir pessoalmente a Marcello Caetano que estava sitiado no Terreiro do Paço, "deixei-me ficar".
Saliente-se que, até àquele altura, não me lembrava de alguma vez ter visto essa pergunta ter sido feita por qualquer outro jornalista...
Álvaro Cunhal respondeu-me:
"Tenho 86 anos e se tivesse de responder a tudo o que dizem sobre mim não me chegariam mais 86 anos. Se falei com agentes do KGB? É possível, pois falava com muita gente e não estava sempre a perguntar-lhes se eram ou não do KGB. Agora, também não me parece que se possa dar muita credibilidade a um agente do KGB que depois acaba por publicar um livro no território do antigo inimigo".
Aquilo chegou-me e acabei por publicar um artigo digno de primeira página.
Fiz o meu trabalho. Fiz a pergunta e, independentemente da polémica obtive uma resposta directa de Álvaro Cunhal, sem fugas ou os subterfúgios linguísticos dignos de outros grandes da política nacional que se dizem verdadeiros democratas.
Só por causa disso, obrigado Álvaro Cunhal.
Gravei alguns testemunhos em vídeo, mas os originais dessas cassetes perderam-se na mesa de um responsável de Informação da SIC, pelo que aprendi a não confiar originais, especialmente quando ainda não fizera cópias...
Nessa altura, em 1995, foi aprovado na Assembleia da República uma comissão de inquérito parlamentar para investigar a transferência de arquivos da PIDE para o KGB, de modo a tentar apurar quem foram os responsáveis pelo seu envio e que tipo de chantagem foi depois exercida sobre as pessoas cujos dados supostamente acabaram por ser utilizados pelos serviços secretos soviéticos.
O inquérito PIDE/KGB, um pouco à semelhança do inquérito parlamentar aprovado em Março de 1987 que iria investigar o negócio ilegal do tráfico de armas norte-americanas por Portugal no âmbito do escândalo do "Iran-Contra", também nunca chegou a funcionar, visto que foi interrompido e nunca retomado porque, em 1995, houve eleições legislativas - onde Fernando Nogueira perdeu contra o socialista António Guterres.
Em 1999, contudo, foi editado em Inglaterra o livro "O Arquivo Mitrokhine" - tradução em português pela Dom Quixote com prefácio de José Pacheco Pereira.
Um antigo arquivista do KGB, Vasili Mitrokhin, tinha desertado da Rússia em 1992 e, com a ajuda dos serviços secretos britânicos, levara para Inglaterra imensos dados dos arquivos soviéticos.
O livro era apenas uma pequena parte do que tinha sido "autorizado" a ser divulgado publicamente.
Na página 388 da edição portuguesa afirmava-se que Álvaro Cunhal fora o responsável por grande parte da informação transmitida ao KGB e, entre vários documentos que o PCP enviou para Moscovo, havia mesmo material dos arquivos da PIDE.
Fui questionar Álvaro Cunhal sobre este assunto. Para tal, aproveitei uma deslocação sua ao Porto, à Cooperativa Árvore, onde o histórico líder do PCP ia apresentar o livro "A Verdade e Mentira na Revolução de Abril", numa sessão moderada pelo artista plástico José Rodrigues.
Fiz a minha pergunta na sessão de discussão pública. Confesso que estava algo nervoso já que sabia que não iria ser uma pergunta fácil, ainda por cima perante um público fiel ao líder...
Levantei-me, identifiquei-me devidamente como jornalista do "Tal&Qual" e perguntei directamente a Álvaro Cunhal o que tinha a dizer sobre aquela acusação constante do livro de Mitrokhin e, como disse Salgueiro Maia quando descreveu o momento em que acabara de transmitir pessoalmente a Marcello Caetano que estava sitiado no Terreiro do Paço, "deixei-me ficar".
Saliente-se que, até àquele altura, não me lembrava de alguma vez ter visto essa pergunta ter sido feita por qualquer outro jornalista...
Álvaro Cunhal respondeu-me:
"Tenho 86 anos e se tivesse de responder a tudo o que dizem sobre mim não me chegariam mais 86 anos. Se falei com agentes do KGB? É possível, pois falava com muita gente e não estava sempre a perguntar-lhes se eram ou não do KGB. Agora, também não me parece que se possa dar muita credibilidade a um agente do KGB que depois acaba por publicar um livro no território do antigo inimigo".
Aquilo chegou-me e acabei por publicar um artigo digno de primeira página.
Fiz o meu trabalho. Fiz a pergunta e, independentemente da polémica obtive uma resposta directa de Álvaro Cunhal, sem fugas ou os subterfúgios linguísticos dignos de outros grandes da política nacional que se dizem verdadeiros democratas.
Só por causa disso, obrigado Álvaro Cunhal.
1 Comentários:
o Alvaro Cunhal sempre foi um traidor
que grande novidades
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