As coisas que o grande arquitecto me faz dizer...
Gostei de ler a entrevista do director do "Expresso" ao mesmo.
Acho que foi uma decisão correcta por parte de quem a tomou, por isso não vou discutir esse assunto.
Lamento apenas não ter ficado muito informado sobre o real valor que tem o tal prémio espanhol de carreira que provocou uma entrevista de 13 páginas. Apenas fiquei a saber que distinção resultou de uma proposta do dono do jornal...
Mais uma vez, tal como no caso de Carrilho, arrisco estar a falar de uma pessoa que, é público, deverá estar um bocadinho chateada comigo uma vez que, em Novembro de 2003, foi vítima de uma queixa da minha autoria na Alta Autoridade para a Comunicação Social. Foi por causa de uma crónica - "Lágrimas de Crocodilo", 30 de Agosto de 2003, logo após a morte de Sérgio Vieira de Mello -, onde o director do "Expresso" defendia a intervenção norte-americana no Iraque com o exemplo de uma família que faz Justiça pelas próprias mãos.
Nunca tive a oportunidade de lhe explicar que, na realidade, telefonara para a AACS apenas para perguntar sobre a hipotética possibilidade daquela comparação poder ser interpretada como "apologia pública de um crime" e "incentivo à desobediência colectiva". No entanto, como a AACS pediu que fizesse a pergunta por e-mail, acabou depois por ser transformada numa queixa sem que eu o tivesse sugerido...
Não há, portanto, qualquer sentimento pessoal.
Apenas profissional.
É na sequência desse respeitinho profissional e graças à liberdade de expressão que dizem existir neste País, que gostaria muito de um dia poder ver uma resposta por parte do director do "Expresso" a algumas dúvidas minhas. São perguntas algo longas, pois precisam de uma certa introdução ao assunto, mas eis o que eu gostaria de saber:
- Há dias, eu disse ao director de um diário que tinha resolvido o caso Camarate. Ele perguntou-me como era isso possível, uma vez que, em 1980, eu só tinha oito anos. Respondi-lhe que, entretanto, estivera a crescer e foi no dia em que me confirmaram que, em 1980, houve um negócio ilegal de tráfico de armas para o Irão por Portugal e que esse negócio poderia ter servido para Ronald Reagan e George Bush - antigo director da CIA e pai do actual presidente dos EUA - impedirem a libertação dos reféns norte-americano em Teerão e assim "roubar" a reeleição de Jimmy Carter, eu percebi que Camarate escondia grandes implicações internacionais e ainda influir gravemente na actualidade política, pelo que seria conveniente manter um silêncio sobre o assunto. Pergunto então ao director do "Expresso" se também já chegou a esta conclusão - baseada nas declarações de Nuno Melo no passado dia 7 de Dezembro de 2004 - e se é conivente com o silêncio por parte do seu jornal ou tem uma opinião diferente?
- Numa análise política por si feita no início de 1987 dizia que Cavaco Silva, caso provocasse a dissolução da Assembleia da República, numa altura em que governava em minoria, arriscava-se a perder as eleições. Contudo, se fosse derrubado sem motivo, ganharia a maioria absoluta. O certo é que, dias depois, a 4 de Abril de 1987, o PRD apresentou uma moção de censura devido a um incidente diplomático num país que até então poucos conheciam e o governo PSD foi mesmo derrubado. O presidente Mário Soares não chamou o PS e PRD a formarem governo e preferiu convocar as célebres eleições antecipadas que, tal como o senhor previa, deram a primeira maioria absoluta a Cavaco Silva. Pergunto-lhe por que achou então desinteressante noticiar o facto de que, quatro dias antes da moção do PRD, a Assembleia da República tinha aprovado uma comissão de inquérito parlamentar para investigar o negócio de tráfico de armas norte-americanas por Portugal no tempo do Bloco Central (quando Mário Soares era primeiro-ministro e Mota Pinto ministro da Defesa) e, precisamente devido à convocação de eleições por parte de Mário Soares, esse inquérito só poderia funcionar se viesse a ser novamente votado e aprovado na legislatura seguinte? Apesar do "Expresso", entre Janeiro e Abril de 1987, ter feito grandes reportagens - uma delas premiada - sobre esse negócio conhecido internacionalmente como "Irangate" ou "Iran-Contra", o certo é que o assunto foi "esquecido" desde o dia em que foi derrubado o governo minoritário de Cavaco Silva. Acrescento ainda a esta pergunta: teve ao menos conhecimento da constituição dessa comissão de inquérito?
- Também eu já escrevi vários artigos jornalísticos críticos em relação ao Dr. Balsemão - um deles, por exemplo, no "24 Horas", criticava o facto de ele não se lembrar de ter estado com o doutor Henry Kissinger cerca de 15 dias antes da morte de Sá Carneiro e Amaro da Costa. Acha, portanto, que à semelhança do que lhe aconteceu, também eu poderei ambicionar um dia poder vir a trabalhar no "Expresso"? Não digo que venha a ser director, pois isso, para já, não está nos meus planos. Se acha que não é possível, diga-me então uma outra coisa: qual é o segredo do seu sucesso?
-Por que razão o "Expresso" noticia com antecedência a participação de alguns políticos portugueses nos encontros secretos com os empresários do grupo de Bilderberg, e depois não faz uma entrevista ou reportagem com esses mesmos políticos sobre o que ali se combinou? Bem sei que uma das condições da participação nos encontros é o secretismo, mas nesse caso, por que aceitam estas regras políticos que são eleitos pelo povo? Não cabe a um jornal com a expressão do "Expresso" lutar pela transparência da vida política? Sobre o último encontro, depois da notícia do "Expresso", apenas "O Crime" fez jornalismo quando publicou as fotos de António Guterres à porta do hotel em Munique à procura de emprego na ONU... No "Expresso", nem uma única linha sobre o pós-Bilderberg. Até na secção de "Emprego" fui procurar, mas nada...
- Finalmente, e pegando nas suas palavras logo ao início da entrevista (garanto que, sim senhor, lia-a todinha, as 13 páginas! mas esta parte do início é mesmo a que agora mais me interessa), diz que "pelo passado, pode aferir-se da qualidade das análises feitas hoje" e, ainda na mesma resposta, "a história tem-me dado razão". Pergunto-lhe então, olhando para o estado actual da Nação e vendo que nos últimos 20 anos foi o senhor o principal e único responsável pela melhor análise política (a ponto de achar que, sim senhor, se até a Catarina Furtado merece uma medalha no 10 de Junho, porque não o senhor?!), o que se passou foi:
a)Os políticos simplesmente não lhe ligam nenhuma e não tomam em consideração as suas análises?
b)As suas análises são apenas explanações evidentes e repletas de obviedades que até mesmo uma criança de 12 anos (como era o meu caso) pode ler e entender e mais nada?
c)Ainda está para nascer o político que vai mudar isto tudo e, por isso, enquanto esse dia não chegar, o senhor não pensa em demitir-se e vai continuar a escrever, nem que seja por mais 20 anos? (Altura em ganhará o Nobel e se reformará, mas nunca de forma antecipada).
P.S. Gostei imenso da paisagem que se vê desde "a sua nova casa". Para quando uma reportagem na "Caras"?!
Acho que foi uma decisão correcta por parte de quem a tomou, por isso não vou discutir esse assunto.
Lamento apenas não ter ficado muito informado sobre o real valor que tem o tal prémio espanhol de carreira que provocou uma entrevista de 13 páginas. Apenas fiquei a saber que distinção resultou de uma proposta do dono do jornal...
Mais uma vez, tal como no caso de Carrilho, arrisco estar a falar de uma pessoa que, é público, deverá estar um bocadinho chateada comigo uma vez que, em Novembro de 2003, foi vítima de uma queixa da minha autoria na Alta Autoridade para a Comunicação Social. Foi por causa de uma crónica - "Lágrimas de Crocodilo", 30 de Agosto de 2003, logo após a morte de Sérgio Vieira de Mello -, onde o director do "Expresso" defendia a intervenção norte-americana no Iraque com o exemplo de uma família que faz Justiça pelas próprias mãos.
Nunca tive a oportunidade de lhe explicar que, na realidade, telefonara para a AACS apenas para perguntar sobre a hipotética possibilidade daquela comparação poder ser interpretada como "apologia pública de um crime" e "incentivo à desobediência colectiva". No entanto, como a AACS pediu que fizesse a pergunta por e-mail, acabou depois por ser transformada numa queixa sem que eu o tivesse sugerido...
Não há, portanto, qualquer sentimento pessoal.
Apenas profissional.
É na sequência desse respeitinho profissional e graças à liberdade de expressão que dizem existir neste País, que gostaria muito de um dia poder ver uma resposta por parte do director do "Expresso" a algumas dúvidas minhas. São perguntas algo longas, pois precisam de uma certa introdução ao assunto, mas eis o que eu gostaria de saber:
- Há dias, eu disse ao director de um diário que tinha resolvido o caso Camarate. Ele perguntou-me como era isso possível, uma vez que, em 1980, eu só tinha oito anos. Respondi-lhe que, entretanto, estivera a crescer e foi no dia em que me confirmaram que, em 1980, houve um negócio ilegal de tráfico de armas para o Irão por Portugal e que esse negócio poderia ter servido para Ronald Reagan e George Bush - antigo director da CIA e pai do actual presidente dos EUA - impedirem a libertação dos reféns norte-americano em Teerão e assim "roubar" a reeleição de Jimmy Carter, eu percebi que Camarate escondia grandes implicações internacionais e ainda influir gravemente na actualidade política, pelo que seria conveniente manter um silêncio sobre o assunto. Pergunto então ao director do "Expresso" se também já chegou a esta conclusão - baseada nas declarações de Nuno Melo no passado dia 7 de Dezembro de 2004 - e se é conivente com o silêncio por parte do seu jornal ou tem uma opinião diferente?
- Numa análise política por si feita no início de 1987 dizia que Cavaco Silva, caso provocasse a dissolução da Assembleia da República, numa altura em que governava em minoria, arriscava-se a perder as eleições. Contudo, se fosse derrubado sem motivo, ganharia a maioria absoluta. O certo é que, dias depois, a 4 de Abril de 1987, o PRD apresentou uma moção de censura devido a um incidente diplomático num país que até então poucos conheciam e o governo PSD foi mesmo derrubado. O presidente Mário Soares não chamou o PS e PRD a formarem governo e preferiu convocar as célebres eleições antecipadas que, tal como o senhor previa, deram a primeira maioria absoluta a Cavaco Silva. Pergunto-lhe por que achou então desinteressante noticiar o facto de que, quatro dias antes da moção do PRD, a Assembleia da República tinha aprovado uma comissão de inquérito parlamentar para investigar o negócio de tráfico de armas norte-americanas por Portugal no tempo do Bloco Central (quando Mário Soares era primeiro-ministro e Mota Pinto ministro da Defesa) e, precisamente devido à convocação de eleições por parte de Mário Soares, esse inquérito só poderia funcionar se viesse a ser novamente votado e aprovado na legislatura seguinte? Apesar do "Expresso", entre Janeiro e Abril de 1987, ter feito grandes reportagens - uma delas premiada - sobre esse negócio conhecido internacionalmente como "Irangate" ou "Iran-Contra", o certo é que o assunto foi "esquecido" desde o dia em que foi derrubado o governo minoritário de Cavaco Silva. Acrescento ainda a esta pergunta: teve ao menos conhecimento da constituição dessa comissão de inquérito?
- Também eu já escrevi vários artigos jornalísticos críticos em relação ao Dr. Balsemão - um deles, por exemplo, no "24 Horas", criticava o facto de ele não se lembrar de ter estado com o doutor Henry Kissinger cerca de 15 dias antes da morte de Sá Carneiro e Amaro da Costa. Acha, portanto, que à semelhança do que lhe aconteceu, também eu poderei ambicionar um dia poder vir a trabalhar no "Expresso"? Não digo que venha a ser director, pois isso, para já, não está nos meus planos. Se acha que não é possível, diga-me então uma outra coisa: qual é o segredo do seu sucesso?
-Por que razão o "Expresso" noticia com antecedência a participação de alguns políticos portugueses nos encontros secretos com os empresários do grupo de Bilderberg, e depois não faz uma entrevista ou reportagem com esses mesmos políticos sobre o que ali se combinou? Bem sei que uma das condições da participação nos encontros é o secretismo, mas nesse caso, por que aceitam estas regras políticos que são eleitos pelo povo? Não cabe a um jornal com a expressão do "Expresso" lutar pela transparência da vida política? Sobre o último encontro, depois da notícia do "Expresso", apenas "O Crime" fez jornalismo quando publicou as fotos de António Guterres à porta do hotel em Munique à procura de emprego na ONU... No "Expresso", nem uma única linha sobre o pós-Bilderberg. Até na secção de "Emprego" fui procurar, mas nada...
- Finalmente, e pegando nas suas palavras logo ao início da entrevista (garanto que, sim senhor, lia-a todinha, as 13 páginas! mas esta parte do início é mesmo a que agora mais me interessa), diz que "pelo passado, pode aferir-se da qualidade das análises feitas hoje" e, ainda na mesma resposta, "a história tem-me dado razão". Pergunto-lhe então, olhando para o estado actual da Nação e vendo que nos últimos 20 anos foi o senhor o principal e único responsável pela melhor análise política (a ponto de achar que, sim senhor, se até a Catarina Furtado merece uma medalha no 10 de Junho, porque não o senhor?!), o que se passou foi:
a)Os políticos simplesmente não lhe ligam nenhuma e não tomam em consideração as suas análises?
b)As suas análises são apenas explanações evidentes e repletas de obviedades que até mesmo uma criança de 12 anos (como era o meu caso) pode ler e entender e mais nada?
c)Ainda está para nascer o político que vai mudar isto tudo e, por isso, enquanto esse dia não chegar, o senhor não pensa em demitir-se e vai continuar a escrever, nem que seja por mais 20 anos? (Altura em ganhará o Nobel e se reformará, mas nunca de forma antecipada).
P.S. Gostei imenso da paisagem que se vê desde "a sua nova casa". Para quando uma reportagem na "Caras"?!
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