20031004

Inimigo expresso

Que me desculpem os esforçados senhores que fazem o "Inimigo Público", mas vou explicar-vos porque prefiro o "Expresso" para me rir:

Primeira página: "Freitas compara Portas a Estaline". Digam lá se este não é um tí­tulo que vocês nunca se lembrariam? E vejam só esta tirada, alegadamente proferida por Freitas: "Estaline levou a sua fúria ao ponto de mandar assassinar Trotsky no México. Pelo sim, pelo não evitarei nos próximos tempos fazer férias em Cancun". Desculpem lá, mas esta afirmação, pela sua ousadia ao invocar um episódio de assassinato fí­sico e real, pela imaginação associada ao exemplo, pela ironia contida e ainda pelo facto de imputar, de uma forma mais do que directa, a possibilidade verídica de algum dia o actual líder do PP, e ministro da Defesa -note-se -, poder vir a ser capaz de mandar matar alguém, é algo que vocês estariam longe de pensar ser possível ver escrito nas páginas impressas de algum órgão de comunicação social.

Continuemos: "O Paí­s não está preparado para o terramoto que aí­ vem", diz Catalina Pestana em entrevista e que, inclusive, acrescenta que "Pode ser um terramoto de grau 7 na escala de Richter". O que me faz rir nesta entrevista é o facto de a entrevista não estar toda na edição em papel do jornal e, pelos vistos, temos depois de aceder à versão paga na Internet! Genial! Quem é que entre vocês se iria lembrar de dar uma informação aos leitores desta maneira? - A propósito, a escala Richter vai até 8 e, apesar de não ter ido ver na Internet, calculo que o terramoto a que Catalina Pestana se refere deve ser sobre a Casa Pia, pois não a imagino a opinar sobre a segurança da baixa pombalina... Mas, pode ser que na versão Internet esteja tudo clarificado. Não sei. Paguei pela versão papel, mas não me explicam lá nada. Estou a pensar pedir o meu dinheiro de volta... sinto-me defraudado... Mas teve piada, não teve?!

A "pérola" é sempre a crónica do grande arquitecto (a propósito, para quando o livro do senhor? Está atrasado? Ou está à espera de ver primeiro o meu para saber o que digo sobre o "Expresso?): "O ministro que não devia demitir-se", é o tí­tulo da "coisa". Mais um tí­tulo cuja imaginação é superior a muitos dos vossos! "Confesso que não compreendo", afirma o autor a certa altura da sua crónica. Reparem na sinceridade, nesta humildade. Mil vezes mais longe da sobranceria que vocês colocam em certos textos do "Inimigo". Depois, estas afirmações: "Nenhum paí­s aguenta uma constante instabilidade ministerial", "Portugal precisa de tranquilidade" e "Nenhuma acção política coerente é compatí­vel com a dança permanente de governantes". Jamais o "Inimigo" trará frases deste alcance! Jamais! Desafio-vos! Contudo, creio que nem Mao ou Lenin, ou Estaline, ou Hitler ou George W. Bush, muito menos Durão Barroso e Paulo Portas, conseguissem ser tão clarividentes e profundos nestes pensamentos democráticos.

E, para "Bingo", a gargalhada final: Depois do director defender na sua crónica o ministro que não se devia demitir, na última página, na rubrica "O que eles dizem", começa-se assim o texto: "Então e o ministro Martins da Cruz?". Realmente! Já me tinha esquecido! E, de novo.... sem palavras. Genial! Brilhante! Um humor ingês, ao melhor estilo dos "Monty"! Quem é que se iria de lembrar de guardar esta grande questão para esta pequena rubrica? Este jornal mostra mesmo como também é plural nas opiniões e, se o director defende que "Portugal precisa de tranquilidade", este é o o "retrato" do Paí­s feito naquela pequena rubrica: "A verdade é que este caso da filha do MNE, indiciando tratamento de favor e abuso de poder, se segue a outros episódios desagradáveis envolvendo princípios de ética e responsabilidade polí­ticas. Da colocação diplomática em Londres da deputada Maria Elisa às demissões provocadas pelos passeios turí­sticos no helicóptero dos bombeiros de Lamego. Do 'azar' da queda da ponte do IC-19 às escutas de recebimento em notas pelo líder do PSD/Lisboa, António Preto. Das contas na Suíça de Isaltino Morais à imunidade do deputado Cruz Silva. Guilherme Silva, lí­der parlamentar do PSD, que mantém o deputado Cruz Silva refugiado na sua bancada, dizia ontem que a demissão de Pedro Lynce é um 'gesto a registar na história da nossa vida democrática, pela sua elevada estatura'. Pois, pois" - Aprenderam como se faz o melhor humor de Portugal? Viram estes "Pois, pois"? - Caramba! (para citar um Presidente da República) -, ninguém escreve tão bem como estes tipos. Eles são mesmo impagáveis! (ainda por cima, esta rubrica tem o corpo da letra num tamanho mais pequeno do que o dos restantes artigos. O tal semanário de referência não vos faz lembrar aqueles contratos de seguros com letrinhas pequeninas?)

Por isso é que me rio com o "Expresso", mais do que com o "Inimigo Público". Desculpem lá.

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