20050924

Qual papel?!

É uma pena.
É uma pena que o semanário “Tal&Qual” não tenha esclarecido esta sexta-feira o processo judicial que o opôs ao agora candidato do PS, Manuel Maria Carrilho, a propósito do episódio da casa de banho, e que motivou a famosa cena do não cumprimento com o candidato do PSD, Carmona Rodrigues.
É uma pena que o semanário não tenha explicado que nunca Carrilho desmentiu a notícia dos gastos faustosos na casa de banho no Palácio da Ajuda, e nunca o jornal foi condenado em tribunal. É uma pena que os actuais “jornalistas” que fazem aquele jornal – e que à data dos factos estavam longe de imaginar que algum dia trabalhariam numa histórica publicação por onde “passaram grandes nomes da imprensa nacional” (como disse Alexandre Pais, actual director do “Record” e ex-director do “Tal&Qual, na sua crónica na revista “Sábado” de 23 de Setembro, pág 89) – nunca tenham contactado antigos jornalistas, chefe de redacção ou directores da publicação para repor a verdade dos factos.
Deixaram assim passar, cobardemente e irresponsavelmente, uma imagem de desconfiança em relação ao trabalho sério de reportagem de muitos camaradas que os antecederam.
É uma pena.
Perante o silêncio do único jornal com direito e propriedade para restabelecer a verdade, é natural que agora surjam pessoas responsáveis perfeitamente convencidas de que, afinal, Carrilho venceu um processo judicial contra o “Tal&Qual”.
O que não é verdade.
Veja-se como andam confusas certas pessoas, como a “Bomba Inteligente” (Carla Hilário Quevedo), que na revista “Única” do semanário “Expresso” de hoje, numa crónica intitulada “Filho de boa gente não se sente”, começa precisamente por dizer: “Na incómoda troca de palavras na SIC Notícias, Manuel Maria Carrilho, ao ouvir de Carmona Rodrigues uma referência a uma questão passada resolvida em tribunal, inocentando-o...”
Estão a ver no que isto deu?! “Inocentando-o”?!
É uma pena que os actuais responsáveis do “Tal&Qual”, que, repito, não são os mesmos do tempo dos acontecimentos, não tenham sabido enfrentar a questão com o brio jornalístico que se impunha e não tenham, mais uma vez repito, sabido ir ouvir os camaradas intervenientes daquela altura. Tivesse o actual “T&Q” feito jornalismo e saberíamos por que razão o jornal só pediu "desculpas" a Carrilho...
Quer isto dizer que Manuel Maria Carrilho nunca foi provar em tribunal que o “Tal&Qual” mentira!
Quer isto dizer que Manuel Maria Carrilho não pode dizer que está inocente das acusações que o jornal fez porque o ex-ministro contentou-se apenas com um simples pedido de “desculpas” em vez de 50 mil contos...
Se Carrilho realmente estivesse “inocente”, será que desistira de ir a tribunal apenas com um simples pedido de “desculpas”?!
É uma pena que o “Tal&Qual” não tenha explicado isso esta semana e preferiu apresentar um texto asséptico, com informações repetidas e perfeitamente deslocadas do seu rico património jornalístico. E, ainda por cima, a prova de que os jornalistas do actual “Tal&Qual” não honram os que os antecederam está no início de um texto na edição desta semana: “Manuel Maria Carrilho e Bárbara Guimarães tinham casamento marcado para 5 de Agosto de 2001. Mas o que celebraram nesse dia foi apenas uma união de facto. É que o “T&Q” descobrira, dias antes do enlace, que Bárbara era já casada, desde 1997, com o apresentador Pedro Miguel Ramos”. Esta afirmação é um erro tremendo, pelo que agora o “T&Q” até erra quando fala de si próprio!...
Bastava consultar a colecção do semanário do ano de 2001 para notar que o jornal só revelou as provas do casamento entre Bárbara e Pedro no dia 9 de Agosto, na quinta-feira (antecipou-se um dia a edição...) seguinte à cerimónia da união de facto. Foi precisamente por haver um acordo judicial entre Carrilho e o “Tal&Qual” que o jornal teve de enviar à pressa um jornalista (eu) até Punta Cana, na República Dominicana, para investigar “toda a verdade” de uma notícia que tinha sido revelada pelo semanário “O Independente” a 3 de Agosto, dois dias antes da cerimónia.
Este outro semanário (honra lhe seja feita) apenas falava de um vídeo, mas não tinha as provas documentais. E, no dia seguinte, 4 de Agosto, o semanário “Expresso” noticiava o facto de que Carrilho tinha contratado “uma sociedade de advogados da República Dominicana para fazer o escrutínio de todos os registos de casamento do ano de 97. O objectivo é provar que Bárbara Guimarães e Pedro Miguel Ramos não casaram naquele país...”, conforme se podia ler num texto de primeira página.
Só a 9 de Agosto de 2001, quatro dias após a união de facto, é que o “T&Q” revelou os documentos que provavam o casamento entre Bárbara e Pedro e ainda algo muito mais sério: alguém tinha cortado do livro oficial de actas na República Dominicana a folha que provaria aquilo que os advogados de Carrilho não queriam que se provasse!
E esta história do papel desaparecido tem sido agora sistematicamente “branqueada”.
- O papel!
- Qual papel?!
- O papel!
- Qual papel?!
- O papel!
- Qual papel?!...
A 20 de Agosto do presente ano de 2005, o “24 Horas”, edição em revista ao sábado, trazia como tema de capa uma reportagem sobre as várias histórias de Carrilho e Bárbara e, a propósito do episódio do casamento nas Caraíbas, explicava assim aos seus leitores: “Apenas ao fim de quase dois anos é que o casal deu o nó. Tudo após Carrilho ter contratado uma equipa de advogados, para evitar que a noiva fosse acusada de bigamia. O objectivo era demonstrar que Punta Cana fora apenas uma brincadeira. Mas tiveram mesmo que esperar que Pedro Miguel Ramos assinasse os papéis do divórcio”. Como podem constatar, nem uma única menção ao papel roubado no livro de actas que o “T&Q” – semanário do mesmo grupo editorial do “24 Horas” – descobrira...
Também a revista “Sábado” desta semana, numa reportagem igual à do “24 Horas” de Agosto passado, ao falar do episódio das Caraíbas, diz assim: “Ao que parecia, ela [Bárbara] já era casada, desde 26 de Julho de 1997 (...). E se a apresentadora começou por negar a validade do ‘sim’ dado nas areias da República Dominicana, acabou por se acautelar e fazer uma festa apenas simbólica antes de, finalmente, casar de papel passado com o ex-ministro”. Pois, e sobre o papel que desapareceu no registo civil na República Dominicana, também nem uma palavra! Contudo, quem pode censurar estes jornalistas de outras publicações se o próprio “Tal&Qual”, o semanário que tinha a obrigação de, face a estes eventos da actualidade, lembrar “toda a verdade” – e que tem lá os vários documentos –, também não o faz?!
É uma pena.
É uma pena que, ainda a propósito desta coisa dos advogados contratados na República Dominicana pelo candidato socialista à Câmara de Lisboa e o desaparecimento de um papel oficial, ninguém se tenha igualmente lembrado de umas singelas linhas assinadas em conjunto por Bárbara Guimarães e Manuel Maria Carrilho na revista do semanário “Expresso”, a 11 de Agosto de 2001, na altura do “casamento de facto”: “Foi dado, há alguns dias, um inexplicável destaque a um rumor sobre um suposto acontecimento realizado há anos, que condicionaria as nossas vidas e as nossas decisões mais pessoais.
Infelizmente, hoje, é quase impossível desmentir rumores, sobretudo quando são – como é o caso – insidiosamente montados e perfidamente divulgados.
Este rumor, que já havia sido tão noticiado como desmentido anos atrás, serviu-se agora de inclassificáveis procedimentos anónimos e teve, infelizmente, a cumplicidade de quem, apesar das suas responsabilidades, parece não saber o que é informar com rigor os cidadãos.
A dimensão de toda esta sórdida maquinação, urdida em zonas do mundo onde tudo se obtém, tudo é longínquo e tudo está à venda, impõe-nos uma especial obrigação de transparência – e de verdade.
Sobretudo a quem, como nós, se conduz por princípios éticos muito claros, o que nos leva à decisão de festejar a nossa união e de celebrar o nosso casamento em circunstâncias a preservarmo-nos integralmente de quaisquer intromissões na nossa vida. E na nossa felicidade.
B.G. e M.M.ªC.”
Os “rumores” nunca foram desmentidos. Aliás, o divórcio de Bárbara e Pedro, em Outubro de 2002, apenas os confirmaram... Já o episódio do papel, que aparentemente terá sido urdido numa zonas do mundo “onde tudo se obtém, tudo é longínquo e tudo está à venda”, nunca foi devidamente esclarecido.
Nada me move pessoalmente contra Carrilho e Bárbara, mas como me conduzo por princípios éticos muito claros e tenho um compromisso com a senhora verdade, sou obrigado a escrever estas linhas...
Tal e qual.

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