20081019

O Xá nos Açores

A revista "Pública" de hoje tem uma história que merece o meu aplauso...



A jornalista Margarida Santos Lopes conseguiu um exclusivo mundial ao entrevistar a viúva do Xá do Irão, Farah Diba. Conta a ex-imperatriz que, a 23 de Março de 1980, quando viajava com o marido entre o Panamá e o exílio do Cairo, o avião ficou retido durante algumas horas na base aérea norte-americana nos Açores. Aquelas horas foram de grande dramatismo onde tudo poderia acontecer, pois a administração Carter ponderava trocar o Xá do Irão pelos reféns norte-americanos da embaixada dos EUA em Teerão. No fim, o avião acabou por seguir viagem para o Egipto...



Anos mais tarde, em visita a Portugal, a ex-imperatriz do Irão conheceu um ex-ministro dos Negócios Estrangeiros português, André Gonçalves Pereira, que lhe contou alguns detalhes sobre o caso...




Reportagens deste género são raras no jornalismo de hoje. Investigar casos do passado e dar-lhes honra de primeira página é algo, infelizmente, pouco visto. Por isso, os meus parabéns à minha camarada e aos editores da "Pública". Contudo, não há bela sem senão... Cumpre-me assim registar que há um pequeno erro quando a jornalista escreveu que os reféns norte-americanos ficaram retidos em Teerão durante 144 dias.
Nada disso.
Foram 444 dias. Mais de um ano, portanto. Aliás, foi devido ao facto do assalto à embaixada dos EUA ter ocorrido a 4 de Novembro de 1979 que Jimmy Carter perdeu a reeleição nas eleições de 4 de Novembro de 1980. Os eleitores foram votar no dia em que se evocava o primeiro aniversário do início do cativeiro dos reféns. Estes só seriam libertados a 20 de Janeiro de 1981, poucos minutos após o juramento do novo presidente dos EUA, Ronald Reagan - cujo vice era George Bush pai, que quatro anos antes havia sido despedido da chefia da CIA por Jimmy Carter. A partir desta crise dos reféns nasceu a ideia de que teria havido uma negociação secreta entre elementos da candidatura Reagan/Bush e elementos iranianos para a não libertação dos reféns de modo a enfraquecer Jimmy Carter. Por isso é que não interessava entregar o Xá nos Açores, por isso é que Jimmy Carter teve depois de tentar uma operação militar fracassada a 25 de Abril de 1980.



Lamento ainda que a jornalista não tenha enriquecido a sua história com um simples telefonema, contacto - ou menção de tentativa do mesmo - junto do homem que era o ministro dos Negócios Estrangeiros em exercício naquela noite de 23 de Março de 1980. E nem é difícil saber quem era.
Se bem me lembro, esse mesmo ex-ministro até já abordou publicamente este caso - embora de forma vaga - num programa da RTP emitido no dia 11 de Setembro de 2002, quando declarou que naquela noite foi pessoalmente a casa do primeiro-ministro da altura, Sá Carneiro, que o recebeu de pijama. E quase aposto que durante a próxima semana, quando for editado o segundo volume do livro de memórias desse ex-ministro dos Negócios Estrangeiros, iremos ficar a saber mais detalhes sobre esta história...
Fiquemos atentos...

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3 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

Também li a reportagem e fiz a mesma pergunta: "Caramba, então ela consegue falar com a ex-embaixatriz do irão e não consegue falar com o nosso Freitas do Amaral?"...

Rui Janeiro

19 outubro, 2008  
Anonymous Anónimo disse...

Ò Rui, não é "ex-embaixatriz", mas sim "ex-imperatriz"... Aliás, uma embaixatriz é menos do que um ministro dos Negócios Estrangeiros, mas um ex-ministro dos Negócios Estrangeiros é menos do que uma ex-imperatriz que é bem mais do que uma ex-embaixatriz, mas que é mais do que um ex-ministro dos Negócios Estrangeiros que nem sequer esteve envolvido no caso...

20 outubro, 2008  
Anonymous Anónimo disse...

Só hoje aqui parei. Tenho pena de não ter chegado mais cedo. Obrigada pelos elogios e pelas críticas certeiras. Tentarei fazer melhor noutra oportunidade. As falhas não têm justificação. Mas podem ter perdão?
Margarida Santos Lopes

31 outubro, 2008  

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