O Murdoch do Porto
Sei que quando uma fábrica ou uma empresa fecha é uma tragédia, pelo que muita gente acha que os jornalistas de "O Primeiro de Janeiro" não devem ter um tratamento muito diferente daqueles casos gerais do país. Mas, desculpem a ousadia, acho que ainda assim este caso é muito diferente. Quando temos licença de porte de arma não vamos começar aos tiros às pessoas que trabalham para nós. Se fizermos isso, vamos presos. Quando somos donos de um jornal e despedimos de forma ilegal toda uma redacção e pomos outra no seu lugar, mas com menos pergaminhos públicos e apenas para cumprir compromissos comerciais, também deveríamos ser punidos pela sociedade. Os anunciantes deveriam cancelar a publicidade, pois estão a ser cúmplices na ilegalidade. Os leitores deveriam exigir ser informados por jornalistas livres e recusavam-se a comprar o jornal. O Estado deveria tirar a licença a um proprietário que demonstrasse não estar à altura de gerir de forma legal e leal uma empresa de Comunicação Social.
É que sem jornalistas livres, qualquer outro empresário de um qualquer ramo industrial poderá também amanhã despedir os seus trabalhadores de forma ilegal. Ninguém irá informar o resto da sociedade, ninguém questionará publicamente os responsáveis. E, daqui a uns anos, se ainda houver país, este será governado por ladrões.
Os 32 jornalistas do "O Primeiro de Janeiro", na ânsia de resistir à ilegalidade, entregaram um manifesto no Governo Civil do Porto. Toda esta situação lembrou-me o o caso de Wapping, quando, em 1986, o proprietário do londrino "The Times", o milionário australiano Rupert Murdoch, decidiu acabar com o poder das empresas gráficas que condicionavam a produção dos jornais e montou uma gráfica própria - é que quando os jornalistas queriam fazer greve, só tinham sucesso se tivessem o apoio das gráficas que se recusavam a imprimir jornais enquanto os jornalistas mantivessem a luta pelos seus direitos, impedindo que os patrões fizessem edições com empregados secundários.
O poder do dono do "O Primeiro de Janeiro" foi o de ser dono de uma gráfica, em Oliveira de Azeméis. Eu fui um dos jovens jornalistas vindos directamente da Escola Superior de Jornalismo que, em 1992, o ajudou a salvar o diário. Foram dois anos gloriosos, onde fiz muitos amigos e fazíamos o melhor jornal do mundo, do nosso mundo.
Hoje, é sempre pedagógico recordar o que se diz de Wapping 20 anos depois, lembrar os desacatos a 15 de Fevereiro de 1986 e constatar que o problema da crise do jornalismo está localizado e não é só de cá: "His promises of a bright new future for journalism never materialised, just like the swimming pool he promised for the new plant. Wages for journalists have slumped in real terms. Far too many are desk-bound, and staffing levels are inadequate in many national titles as well as in the regional press. Instead of investing in quality journalism, companies are spending millions on promotional gimmicks, and as a result we're awash with CDs that nobody wants to listen to".
É que sem jornalistas livres, qualquer outro empresário de um qualquer ramo industrial poderá também amanhã despedir os seus trabalhadores de forma ilegal. Ninguém irá informar o resto da sociedade, ninguém questionará publicamente os responsáveis. E, daqui a uns anos, se ainda houver país, este será governado por ladrões.
Os 32 jornalistas do "O Primeiro de Janeiro", na ânsia de resistir à ilegalidade, entregaram um manifesto no Governo Civil do Porto. Toda esta situação lembrou-me o o caso de Wapping, quando, em 1986, o proprietário do londrino "The Times", o milionário australiano Rupert Murdoch, decidiu acabar com o poder das empresas gráficas que condicionavam a produção dos jornais e montou uma gráfica própria - é que quando os jornalistas queriam fazer greve, só tinham sucesso se tivessem o apoio das gráficas que se recusavam a imprimir jornais enquanto os jornalistas mantivessem a luta pelos seus direitos, impedindo que os patrões fizessem edições com empregados secundários.
O poder do dono do "O Primeiro de Janeiro" foi o de ser dono de uma gráfica, em Oliveira de Azeméis. Eu fui um dos jovens jornalistas vindos directamente da Escola Superior de Jornalismo que, em 1992, o ajudou a salvar o diário. Foram dois anos gloriosos, onde fiz muitos amigos e fazíamos o melhor jornal do mundo, do nosso mundo.
Hoje, é sempre pedagógico recordar o que se diz de Wapping 20 anos depois, lembrar os desacatos a 15 de Fevereiro de 1986 e constatar que o problema da crise do jornalismo está localizado e não é só de cá: "His promises of a bright new future for journalism never materialised, just like the swimming pool he promised for the new plant. Wages for journalists have slumped in real terms. Far too many are desk-bound, and staffing levels are inadequate in many national titles as well as in the regional press. Instead of investing in quality journalism, companies are spending millions on promotional gimmicks, and as a result we're awash with CDs that nobody wants to listen to".
Etiquetas: O Primeiro de Janeiro, Rupert Murdoch, Wapping
1 Comentários:
e o resultado disto é ... um jornalismo à rasta, que resiste, subsiste, porque ainda quer ser bom jornalismo, ou um jornalismo rendido, escravo de outros interesses, sem espaço para a liberdade e independencia, essenciais à actividade jornalistica de qualidade, íntegra e completa.
Enviar um comentário
Subscrever Enviar feedback [Atom]
<< Página inicial