20050123

O puto do recreio

As pastas da escola faziam de balizas. No intervalo das aulas ou quando havia um "furo", lá íamos jogar à bola para o recreio da escola. No Carolina Michaelis havia um espaço de cimento que era uma autêntica "passerelle" de estrelas. Lembro-me de um tipo que jogava com uma camisola do FC Porto que lhe tinha sido oferecida pelo Madjer. Lembro-me de um outro, bem magrinho, mas cheio de fintas e de técnica que jogava nos juniores do Boavista. E lembro-me de um puto, baixinho, que estava sempre a jogar à bola. Lembro-me dele sempre a suar. Sempre a jogar à bola, a correr ali no recreio e sempre a suar.
Lembro-me que num fim de dia, frio e escuro, fui com ele aos treinos dos juniores do Salgueiros. Ele já lá treinava e eu iria ver se me davam uma oportunidade de mostrar o que valia. Mas a equipa já estava formada e nunca mais voltei ao Campo dos Ferroviários, para os lados de Campanhã. De certo modo, fiquei aliviado, pois Campanhã ficava muito longe de minha casa. Ainda não havia o metro. Acabava ali a minha curta carreira futebolística, pois a equipa da minha zona, o Francos, não tinha juniores. O Boavista, ali ao lado, pertencia a uma outra liga de exigência, tanto mais que nem o fininho que jogava no recreio, apesar de ser um grande jogador, não tinha corpo para seguir mais em frente.
Nunca mais vi o puto do recreio e nunca mais soube dele.
Passados uns anos, ao ver a televisão, estranhei e perguntei a um outro amigo do tempo do recreio: "Aquele ali não é o Sá?" Sim, era ele. Como tinha crescido!... A gente só o chamava de Sá, mas hoje todos ouviram o seu nome: Ricardo Sá Pinto, que marcou dois golos pelo Sporting.
Grande Sá!

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