Lar do Comércio revisitado
Amanhã, dia 4 de Outubro, haverá missa de um mês pela memória da minha avó Alda. Por coincidência será no mesmo dia em que ela iria fazer 95 anos. O meu pai já foi buscar alguns dos pertences da sua mãe ao Lar do Comércio, mas o braço-de-ferro que manteve com o presidente daquela instituição ainda só lhe permitiu trazer os bens mais leves. Os móveis, segundo as indicações que recebeu, só podem ser levantados durante o horário normal de expediente – o que lhe dificulta a vida, pois se fosse permitida alguma hora extra poderia fazer a mudança com a ajuda dos meus irmãos. Mas, não deixaram, sendo mais um sinal da prepotência demonstrada e da falta de sensibilidade humana de quem manda naquela direcção.
Entre as fotos que a minha avó tinha em sua posse encontrei algumas que foram uma surpresa, pois nunca as tinha visto. Que pena não poder falar sobre a história que está por detrás de muitas delas, mas, na realidade, nunca consegui sentar-me com a avó Alda assim como o faço com muitas pessoas que não conheço para ouvir histórias de famílias que não conheço.
Assim, não sei o que ela fazia de patins na Foz, nem sei como foi a sua viagem a Roma nos anos 50...
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A ironia disto tudo é que a avó Alda, apesar de ter um jornalista na família, deu uma entrevista a outro jornalista há uns anos. Foi à jornalista Sandra Silva Costa, para uma reportagem do diário Público, a 26 de Julho de 2003, por ocasião do Dia dos Avós . O título, recordei-o há dias, era sintomático da minha situação com a avó Alda...
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Os laços com ela diminuiriam com a minha vinda para Lisboa, acabando por a ver quando ela ia almoçar a minha casa num ou outro fim-de-semana em que visitava a família no Porto. Ou então no Natal, quando ela pensava que aquele seria sempre o último Natal em família, mas que nunca era.
Dizia a avó Alda que queria morrer com a família junta, contudo tal era impossível. Desavenças familiares insanáveis impediam isso, mas quando ela fez 90 anos reuniram-se todos os filhos, netos e bisnetos quantos fora possível. E fomos muitos os presentes, mais do que os ausentes...
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Entre os bens da minha avó encontrei esta foto onde ela segura o meu pai, então com três meses…
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Encontrei ainda esta quadra, simples, mas linda de morrer...
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... e ainda a respectiva foto da Alda com os seus três filhos. O meu pai é o mais velho. O filho que está no meio, com aquele sorriso aberto, cabelo louro e ondulado, é o Nelo. Morreu de cancro e a avó Alda só foi informada disso quando já tinha sido o funeral… O terceiro é o Carlos, aquele que a avó Alda, numa demonstração de força única aos 84 anos, foi visitar ao Lubango, Angola, há 10 anos....
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Também encontrei uma outra coisa que andava à procura: o exemplar do jornal interno da instituição, o "Catassol", com o registo da vinda da avó Alda a Lisboa para cantar as Janeiras na Assembleia da República.
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Fora em Janeiro de 1999, pouco depois de ter entrado no Lar do Comércio como vitalícia. O que já não esperava encontrar – pois tinha-me esquecido de todo – foi o singelo texto que na altura eu mesmo escrevi para o jornal do Lar do Comércio...
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O mais importante, contudo, foi ler a mensagem que então assinou o Presidente do Lar do Comércio, sobretudo quando a nota introdutória do texto do jornal começava por enaltecer a "bonita idade" da minha avó - a mais idosa de todos - naquela deslocação ao Parlamento português...
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Serve isto para dizer que a avó Alda foi bastante útil para a promoção do nome do Lar do Comércio. Era uma pessoa jovial e energética, apesar da idade. E era linda, como prova a foto que ilustrou um artigo do diário "Comércio do Porto" quando o Lar do Comércio, em mais uma acção de exposição visual, organizou um passeio de carros antigos…
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A avó Alda, senhor presidente José Moura, não merecia depois o que lhe fizeram. Ela foi a imagem da alegria do Lar do Comércio. Ela ajudou muito aquela instituição. Estão aqui as provas do muito que deu e, como paga, quando o que ela precisava para acabar os dias finais era um pouco de humanidade, recebemos esta carta dias antes dela morrer.
Ainda haverá quem tenha coragem de dizer que foi justo o que lhe fizeram?
Entre as fotos que a minha avó tinha em sua posse encontrei algumas que foram uma surpresa, pois nunca as tinha visto. Que pena não poder falar sobre a história que está por detrás de muitas delas, mas, na realidade, nunca consegui sentar-me com a avó Alda assim como o faço com muitas pessoas que não conheço para ouvir histórias de famílias que não conheço.
Assim, não sei o que ela fazia de patins na Foz, nem sei como foi a sua viagem a Roma nos anos 50...
A ironia disto tudo é que a avó Alda, apesar de ter um jornalista na família, deu uma entrevista a outro jornalista há uns anos. Foi à jornalista Sandra Silva Costa, para uma reportagem do diário Público, a 26 de Julho de 2003, por ocasião do Dia dos Avós . O título, recordei-o há dias, era sintomático da minha situação com a avó Alda...
Os laços com ela diminuiriam com a minha vinda para Lisboa, acabando por a ver quando ela ia almoçar a minha casa num ou outro fim-de-semana em que visitava a família no Porto. Ou então no Natal, quando ela pensava que aquele seria sempre o último Natal em família, mas que nunca era.
Dizia a avó Alda que queria morrer com a família junta, contudo tal era impossível. Desavenças familiares insanáveis impediam isso, mas quando ela fez 90 anos reuniram-se todos os filhos, netos e bisnetos quantos fora possível. E fomos muitos os presentes, mais do que os ausentes...
Entre os bens da minha avó encontrei esta foto onde ela segura o meu pai, então com três meses…
Encontrei ainda esta quadra, simples, mas linda de morrer...
... e ainda a respectiva foto da Alda com os seus três filhos. O meu pai é o mais velho. O filho que está no meio, com aquele sorriso aberto, cabelo louro e ondulado, é o Nelo. Morreu de cancro e a avó Alda só foi informada disso quando já tinha sido o funeral… O terceiro é o Carlos, aquele que a avó Alda, numa demonstração de força única aos 84 anos, foi visitar ao Lubango, Angola, há 10 anos....
Também encontrei uma outra coisa que andava à procura: o exemplar do jornal interno da instituição, o "Catassol", com o registo da vinda da avó Alda a Lisboa para cantar as Janeiras na Assembleia da República.
Fora em Janeiro de 1999, pouco depois de ter entrado no Lar do Comércio como vitalícia. O que já não esperava encontrar – pois tinha-me esquecido de todo – foi o singelo texto que na altura eu mesmo escrevi para o jornal do Lar do Comércio...
O mais importante, contudo, foi ler a mensagem que então assinou o Presidente do Lar do Comércio, sobretudo quando a nota introdutória do texto do jornal começava por enaltecer a "bonita idade" da minha avó - a mais idosa de todos - naquela deslocação ao Parlamento português...
Serve isto para dizer que a avó Alda foi bastante útil para a promoção do nome do Lar do Comércio. Era uma pessoa jovial e energética, apesar da idade. E era linda, como prova a foto que ilustrou um artigo do diário "Comércio do Porto" quando o Lar do Comércio, em mais uma acção de exposição visual, organizou um passeio de carros antigos…
A avó Alda, senhor presidente José Moura, não merecia depois o que lhe fizeram. Ela foi a imagem da alegria do Lar do Comércio. Ela ajudou muito aquela instituição. Estão aqui as provas do muito que deu e, como paga, quando o que ela precisava para acabar os dias finais era um pouco de humanidade, recebemos esta carta dias antes dela morrer.
Ainda haverá quem tenha coragem de dizer que foi justo o que lhe fizeram?
Etiquetas: Alda Augusta, Lar do Comércio
4 Comentários:
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Excelente reportagem!
Pena que os jornais e revistas de hoje em dia sejam incapazes de fazer reportagens do género...
Força, Frederico ! Para quando um novo livro seu ? Depois do Eu sei que você sabe, o Enigma da Praia da Luz e Poeta & Espião gostava de continuar a ler mais obras suas ! Fazem falta mais jornalistas como o senhor a este país.
Uma conclusão retiro detoda a triste situação com que fomos confrontados:
" O Lar do Comércio" está a ser gerido como um autocarro que já não tem para onde ir! O Sr. Presidente José Moura denuncia cansaço e mostra sinais evidentesde que está esgotado nas suas capacidades de gestão e liderança. O "Lar" está a funcionar pela força da inércia. É tempo de renovação. Oxalá apareçam pessoas que, com outra dinâmica, com jovialidade e força, sejam capazes de retirar esta respeitável Instituição do marasmo em que se arrasta, de modo a ser um criado um ambiente mais vivo e actuante.
A manter-se a actual situação o "Lar do Comércio" corre o sério risco de passar a ser mais um armazém de idosos, triste e rotineiro onde os dias se arrastam penosamente para todos que ali habitam.
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