20031217

Pais "natais" e outros que tais

Quem acredita no Pai Natal?
Eu recordo-me do tempo em que acreditava.
Lembro-me de, uma noite de Natal, o meu avô ter-me levado até à sala de estar lá de casa e colocou-me a olhar para o prédio em frente. A ver se víamos o Pai Natal.
Na minha memória de sensações recordo-me das luzes dentro dos apartamentos em frente, e lembro-me de conjecturar como é que o Pai Natal entraria naquelas habitações num curto espaço de tempo e será que eu o conseguiria ver em algum lado...
Era já o início do pensamento lógico, racional e muito próximo do método científico da observação e experimentação. Porém, ainda muito longe da idade adulta.
Ainda me recordo que, depois, a campaínha de casa tocou, mandaram-me ir abrir a porta e vi, no patamar, um belo triciclo à minha espera. Tinha fitinhas nas manetes... ainda me lembro. Verdes, acho.
Noutros anos, o meu irmão mais velho vestia-se de Pai Natal e entregava prendas. Eu olhava assustado para aquele ser de vermelho e barbas. Até que um dia descobri onde a minha mãe guardava as falsas barbas do falso Pai Natal, interpretado pelo meu irmão mais velho. Como já desconfiava de algo, nem fiquei muito chateado com o facto de ter andado a ser enganado...
Anos mais tarde, quis ser eu o Pai Natal para os meus irmãos mais novos...
Nesse dia descobri a minha vocação: definitivamente não tinha jeito para Pai Natal.
No momento de entregar uma prenda, olhei olhos nos olhos o meu mano mais novo e senti a desconfiança. Não tive arte para o enganar e lembro-me que, quando estava a sair da sala, ele disse alto a toda a família: "Era o Frederico"...
Hoje sou jornalista e digo muita vezes aos adultos que não existe Pai Natal. Não sei mentir e continuo a fazer as mesmas perguntas que fazia quando era criança. O "porquê das coisas"...
Alguns ainda me ouvem a fazer perguntas e pensam comigo...
Outros, paciência...
Serve isto para dizer que amanhã, entre as 7h15 e as 7h30, na Antena1, deverá passar uma peça sobre o meu livro.
Pode ser que mais alguns adultos fiquem a saber que não existem pais natais...

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