No texto anterior analisei o vídeo da agressão à jornalista da AFP, Patrícia Melo Moreira, no Chiado, no passado dia 22. Na legenda da "Imagem 3", fiz notar o momento em que um jovem se baixa e, quando se levanta, surge ao mesmo tempo no ecrã as pernas de uma cadeira...
Embora tivesse tido depois o cuidado de explicitar que não se podia confirmar nas imagens se o jovem atirara ou não aquela cadeira contra a polícia, ficou presente na minha análise pessoal que ele era um elemento "provocador" e concluí depois que o mesmo jovem correra em direcção ao cordão policial e utilizara a jornalista como "escudo humano". E acrescentei que isto aconteceu numa altura em que Patrícia Melo Moreira estava a fazer o seu trabalho, ou seja, a tirar uma fotografia ao cordão policial. Achava eu que isto tudo acontecera antes da jornalista ser atacada pela bastonada do polícia, momento esse que ficou depois fixado na imagem que iria correr o mundo e mostrar a violência policial contra jornalistas que fazem a cobertura das manifestações. E conclui assim que a jornalista foi uma vítima inocente de um acto provocado por um manifestante, sendo esse o verdadeiro "alvo" da violência da polícia...
Totalmente errado!
Fui alertado na minha caixa de comentários por um leitor deste blogue - obrigado, Fernando - para analisar com redobrada atenção o momento em que o jovem se baixa. Disse-me para olhar com mais atenção para a cadeira, vendo o que se passava do lado do cordão policial. E, de facto, nessa segunda leitura, reparei que, afinal, a cadeira estava já junto do cordão policial e era afastada por um agente da autoridade no momento em que o jovem se levantava e resurgia na imagem do vídeo.
Quero então frisar aqui que aquela cadeira não tem qualquer relação com o jovem. Foi erro meu. Peço humildemente desculpa ao meus leitores.
Envergonhado por este grave erro de observação, procurei ver com mais cuidado o que levara então o jovem a baixar-se. E, de facto, está lá, límpido e claro - sem a "ilusão de óptica" da cadeira - que o jovem fora ajudar a jornalista Patrícia a levantar-se, pois esta estava caída no chão. Quando reparei nesse detalhe, tentei perceber qual o motivo que me levara a descurar o momento. Como podia eu ter descurado a altura em que o jovem ajudou a Patrícia a levantar-se do chão? Fui então ouvir de novo as declarações da jornalista, transmitidas "a quente" na SIC, onde ela disse o seguinte:
“Eu não me apercebi muito bem do que se passou quando lá cheguei… Eu estava a enviar o meu trabalho perto dos Armazéns do Chiado quando… com o José Goulão [jornalista da Lusa], quando nós começámos a ver várias carrinhas da polícia de choque na rua Garret a chegarem e bastantes polícias a subirem a rua. Entretanto, demos uma corrida até ali perto da pastelaria Benard e quando lá chegamos já havia esses confrontos entre os manifestantes e os polícias. Fizemos o nosso trabalho, começámos a fotografar, e o que se deu foi que os manifestantes foram recuando até quase à entrada do metro do Chiado e os polícias ficaram entre, com a esplanada, entre os manifestantes e os polícias e foi aí que se deu essa confusão toda que começaram a varrer literalmente a esplanada atirarem cadeiras, mesas, tudo, para cima dos manifestantes e para o lado, para todo o lado, e foi nesse momento que um polícia interage comigo, me manda ao chão e, depois de eu estar no chão, eu tento me levantar e identificar com o cartão de Imprensa e é aí que ele… eu vou direita a ele para lhe mostrar o cartão e ele aí manda-me ao chão de novo, e começa-me a bater com o cassetete, e foi depois aí que o manifestante interviu e me veio ajudar a levantar e recuar para junto dos outros manifestantes…”
Deste modo, Patrícia Melo Moreira nunca disse que o jovem que surge na fotografia da sua agressão, aquele que a agarrara pelas costas, aquele que a puxara para trás e que a fizera rodopiar num "bailado" perante a agressão do polícia, perpetuados na fotografia que correu o mundo, afinal já a ajudara a levantar-se numa primeira vez. Não quero estar a insinuar que a jornalista omitiu isto de propósito. Aquelas são, note-se, declarações "a quente". A voz da jornalista denota ainda a emoção dos acontecimentos. E, frise-se, quando somos os protagonistas, as nossas sensações guardam momentos mais amplificados e outros menos precisos. E foi precisamente por perceber isso que a minha interpretação dos factos não foi a mais correcta. Por não saber que o jovem ajudara a Patrícia por duas vezes num curto espaço de tempo - quando a ajudou a levantar-se do chão e quando a agarrou pelas costas - não associei naquele acto de baixar-se com a primeira ajuda que deu à Patrícia.
Entretanto, já depois de ter descoberto estes meus graves erros de interpretação, fui ver outros vídeos. E, deste modo, consegui ver uma história mais completa e cronologicamente válida que levou a esta foto e, inclusive, o que se seguiu pouco depois de ter sido tirada...
Assim, a nossa história começa no Rossio quando se inicia a marcha da CGTP em direcção à Assembleia da República. Os organizadores gostam deste percurso porque, como as ruas são estreitas, formam-se filas mais compactas e dão logo a sensação de que há muita gente na marcha. Isso pode proporcionar fotografias mais positivas para a organização. Se partissem do Marquês de Pombal, subindo ao Largo do Rato, só tinham essa imagem na Rua de S. Bento, ou seja, quase no fim da manifestação. Assim, ao fazerem o percurso pelo Rossio e subindo a rua Garret, os jornais podem ter as fotos mais cedo. E, quando a manifestação da CGTP chegou à zona das esplanadas, Patrícia Melo Moreira e José Goulão estavam a mandar fotos junto aos Armazéns do Chiado, no fundo da rua.
Este é momento em que os manifestantes da CGTP estão na rua Garret, em marcha ordeira, sem qualquer incidente (foto publicada no seu "site" oficial da greve da CGTP)...
Só que quando a marcha ordeira da CGTP chegou à zona da esplanada da pastelaria Benard, os manifestantes não seguiram em frente, para o Chiado, em direcção ao Largo do Camões...
Não. A marcha da CGTP virou depois à direita, na rua Serpa Pinto.
E o que fez a polícia? Fechou a rua.
A polícia fechou a rua Serpa Pinto e não deixou outros manifestantes seguirem na marcha "oficial" da CGTP. Assim, para trás, no cruzamento entre a rua Serpa Pinto e a rua Garret, ao lado da Livraria Sá da Costa, junto à pastelaria Bernard, ficaram os elementos "indesejáveis" à CGTP. Estes eram os jovens conotados com movimentos anarquistas, os "anónimos" ou cidadãos solidários com a greve, mas não identificados com grupos sindicais ou políticos. E, claro, rebentou a confusão: insultos e objectos arremassados. Cabeças partidas. De acordo com as palavras de Patrícia, foi nesse momento que ela e o jornalista da Lusa subiram a correr em direcção à esplanada da pastelaria Benard:
"Entretanto, demos uma corrida até ali perto da pastelaria Benard e quando lá chegamos já havia esses confrontos entre os manifestantes e os polícias. Fizemos o nosso trabalho, começámos a fotografar".
Esta terá então sido uma das fotografias que a jornalista da AFP tirou quando lá chegou e que confirma o relato cronológico dado ainda "a quente", pois vemos os polícias na esquina da rua Serpa Pinto com a rua Garret. Repare-se então que o polícia que vai agredir Patrícia está também neste grupo. É o agente um pouco mais recuado, de colete, mas ainda assim perfeitamente identificável com os óculos escuros...
E, para perceber o ambiente tenso que então se vivia, vemos este primeiro filme, captado precisamente nesse local, onde também podemos reconhecer o jovem que irá, daí a pouco, ajudar a jornalista Patrícia Melo Moreira a levantar-se...
Assim, de acordo com as imagens deste primeiro filme, a polícia saiu depois da esquina da rua Serpa Pinto em carga e juntou-se aos elementos das forças anti-motim que, entretanto, subiram a rua Garret para uma primeira carga policial. Foi essa carga que "limpou" a área da esplanada da pastelaria Benard. Nesse momento, a jornalista da AFP tirou uma fotografia onde se vê o jovem que depois a vai ajudar a ser corrido à bastonada pela polícia e, num plano mais aproximado, está também o tal polícia que a irá agredir...
A jornalista da AFP continuou a fazer o seu trabalho até ao meio das esplanadas, conforme se pode ver nesta sua outra (excelente, diga-se) foto...
E, analisando de novo as declarações de Patrícia, o que aconteceu depois foi o seguinte:
"E o que se deu foi que os manifestantes foram recuando até quase à entrada do metro do Chiado e os polícias ficaram entre, com a esplanada, entre os manifestantes e os polícias e foi aí que se deu essa confusão toda que começaram a varrer literalmente a esplanada atirarem cadeiras, mesas, tudo, para cima dos manifestantes e para o lado, para todo o lado, e foi nesse momento que um polícia interage comigo, me manda ao chão".
Sendo assim, quando a Patrícia estava no chão, o jovem foi ter com ela e ajudou-a a levantar-se. A jornalista correu depois em direcção ao polícia com a finalidade de se identificar, mas o jovem vai atrás dela para a puxar e tudo acontece de forma tão rápida que a jornalista é novamente agredida. Foi então que o fotógrafo da Reuters, Hugo Correia, captou a sequência da agressão a Patrícia, onde esta é puxada por detrás pelo mesmo manifestante que fotografara, e, ambos, ao rodopiarem, caem no chão, com Patrícia a bater no degrau da esplanada da Brasileira. Se tivesse sido um pouco mais atrás, o embate poderia ter sido com a cabeça. E Patrícia descreveu este momento dramático da seguinte forma:
"Eu vou direita a ele [polícia] para lhe mostrar o cartão e ele aí manda-me ao chão de novo, e começa-me a bater com o cassetete, e foi depois aí que o manifestante interviu e me veio ajudar a levantar e recuar para junto dos outros manifestantes…”
Segue-se depois a segunda carga policial, aquela que vai varrer a esplanada da Brasileira e que está no "site" do "Expresso". Não há dúvidas quanto à ordem cronológica desta acção, pois o local da carga está bem identificado pela estátua de Fernando Pessoa e da famosa cadeira que faz parte do conjunto da mesmo e que um manifestante tenta pegar...
O vídeo do "Expresso".
Ora, neste filme do "Expresso", vemos ainda a jornalista Patrícia já depois da agressão, ao lado do jornalista da Reuters. E, quando a polícia anti-motim começa a aproximar-se, o que acontece? O mesmo jovem que já a ajudara por duas vezes, vem ter com ela, dá-lhe um toque no braço e fá-la correr atrás dele. É a cena final deste terceiro vídeo...
Por fim, já a chegar em segurança, ao Largo do Camões, a jornalista da AFP, faz, finalmente, estas fotos já depois da agressão...
Obrigado, F. pela tua correcção da tua analise previa.
ResponderEliminarAssim se vê a fibra de um jornalista decente.
Devo dizer que na MINHA opinião, é mais que certo que existem agentes provocadores infiltrados nos grupos de oposição. O grupo Anonymous é um bom exemplo, se verificarem eles são convictamente gnósticos (ver sua pagina religiosa na net), tem um partido politico em Inglaterra (Partido do Mérito) e são uma cambada de aldrabões que se mascaram de ovelhas para seduzir os indignados. Eles pertencem ao sistema que corrói o mundo, mas fazem-se passar por oposição.
Outro bom exemplo é o Wikileaks que sob a máscara de divulgação informação confidencial, subliminarmente confirma aos mais indecisos as teorias (sem nexo) vigentes, como a existência da Al-Qaeda como grupo islâmico, ou mesmo o que se passou no 9/11.
Existem muitas provas (ver manifs no Canadá, para ex. mais flagrantes) de agentes policiais infiltrados nos grupos de oposição, que provocam os conflitos, dando desculpas às forças policiais para executarem suas ordens de opressão.
Não digo que no nosso pais isso acontece, mas que acontece noutras partes do mundo democrático, lá isso acontece.
Agora também não posso estar a dizer que os policias são todos uns sádicos, brujeços pois não são todos!
Existem muitos policias com moral e que não acatam as ordens imorais, existem policias com sentido de cidadania e ordem, mas existem também policias que se julgam acima da lei, sádicos e bestas.
Não concordo com o Fernando quando ataca a policia como uma massa bruta e sádica. Mas que tem lá alguns elementos assim, lá isso tem.
Existem até alguns que nestas ocasiões de impor a ordens, é ver espumarem-se de raiva, e os seus olhos!... os seus olhos cheios de raiva e ódio!
Só quero dizer que a respeito do debate anterior concordo com ambas as partes. Nenhum dos lados tem totalmente razão, pois ambos os lados são influenciados pela seita que destrói o nosso mundo.
É como a Casa Pia, ambos os lados escondem coisas...
Cuidado com os lobos mascarados de ovelhas!
"E não é de admirar, porquanto o próprio Satanás se disfarça em anjo de luz. Não é muito, pois, que também os seus ministros se disfarcem em ministros da justiça; o fim dos quais será conforme as suas obras." 2Cor 11:14-15
Quando falo de "quem gosta da profissão que tem" - que é bater em pessoas - falo da polícia de choque. E não de toda e qualquer polícia. (Há alguém que, não gostando de fazer tal coisa, seja capaz de a fazer a vida inteira?)
ResponderEliminarFalo desses seres fardados que, haja ou não justificação para tal, e sabendo eles perfeitamente que não há em muitos casos, à mínima ordem para o fazer, correm atrás de, e espancam, qualquer pessoa, sem qualquer problema.
Para além disso, estava, acima de tudo, a referir-me ao agente em particular que agrediu a jornalista.
Observem o comportamento deste agente em particular. Ele destaca-se claramente dos outros. Com o cassetete virado ao contrário - para aleijar mais - e com uma vontade tal de bater em alguém que até sai, da maneira que saiu, da sua linha para o fazer.
Mas não acreditem no que eu digo sobre estes seres ou pessoas. Interajam com, e observem, estes em manifestações que sejam verdadeiramente incómodas para o "sistema" e depois contem-me o que lá viram.
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ResponderEliminar"A cara do polícia que me bateu era de raiva, até a língua estava a morder. Repeti não sei quantas vezes que era jornalista, em pânico, e nem assim ele parou, ainda deu com mais força. Nunca pensei que aquilo pudesse acontecer no meu país."
ResponderEliminar--- José Sena Goulão
[Ainda não sabe é ele, e muita gente, em que país, em que continente, e em que Mundo é que vive...]
Quanto mais o "conheço" porque infelizmente só através da via virtual, mais me convenço que hoje em dia, há poucos Homens com letra grande como o Frederico... e é claro, que o mesmo se aplica ao Fernando!
ResponderEliminarObrigada a ambos pelo trabalho da busca da Verdade, e pela vossa integridade.
Bem Hajam.
Paradoxo engraçado, é ver ver os anarquistas imporem as suas ideias aos outros. Ou não deviam ?
ResponderEliminarConfesso que já estou ansioso por outro post com um tema diferente no blog.
Isto já enjoa.
over and out
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ResponderEliminarA diferença do nível e da honestidade entre dois blogues...
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