Blogue do jornalista Frederico Duarte Carvalho, com coisas que tanto faz que se saibam porque em nada servem para o que sabemos. e-mail: paramimtantofaz@gmail.com
20060623
Martin Adler assassinado
Será que estamos a falar do mesmo Martin Adler, aquele que também escrevia para a nossa "Grande Reportagem"?...
Jornalista pedro.roloduarte@gmail.com Pedro Rolo Duarte
No fim-de-semana passado vi uma noticia no Público e no DN com um título basicamente igual que dizia: "Jornalista sueco assassinado na Somália." Todos os dias morrem jornalistas por esse mundo fora, nomeadamente nos países de alto risco, e este seria mais um profissional morto em combate, que é como que diz, em serviço. Vi o título, mas não li a notícia. No dia seguinte, no blogue de Francisco José Viegas, percebi que o jornalista sueco não era um anónimo para os portugueses, pelo contrário, e que a notícia dos jornais deveria ter sido escrita por alguém muito distraído. Tão distraído que passara ao lado do essencial: o profissional assassinado era Martin Adler, um dos repórteres que encheram de talento as páginas da Grande Reportagem e do Expresso, com textos e imagens captadas no centro dos furacões políticos e sociais do globo, da Chechénia ao Afeganistão, da Etiópia ao Sudão. Um jornalista cuja relação com a imprensa portuguesa não era puramente comercial, mas antes de envolvimento e colaboração. Nunca conheci Martin Adler nem sei como ele "chegou" até nós, mas sentia-o sempre como um sueco "um bocadinho" português.
Incomodou-me, por isso, a frieza e distância das notícias sobre a sua morte. Como se Martin não tivesse uma fatia da sua vida profissional inscrita nas páginas da imprensa portuguesa. Como se o facto de ser sueco, e de ser mais um jornalista assassinado em serviço, desvalorizasse a informação ao ponto de ser remetida para um registo breve de ocorrências e óbitos.
Martin Adler tinha 47 anos, era casado, duas filhas. Trabalhou para a televisão britânica e para jornais como o The Indepen-dent e Daily Telegraph, além de publicações do seu próprio país. Ganhou prémios internacionais. Leio Pedro Almeida Vieira no blogue de Francisco José Viegas: "Era um 'missionário do jornalismo'; e com ele (com os seus olhos e a sua pena) morreu, um pouco mais, a nossa (ténue) esperança de um Mundo são."
Penso nesta ironia suprema que me cerca: foi através de um blogue que eu percebi que o "jornalista sueco assassinado" era afinal Martin Adler - e é nesse mundo de opiniões livres que eu encontro a notícia e a homenagem que os jornais portugueses se esqueceram de fazer. Um sinal dos tempos, não restam dúvidas...
3 Comentários:
A morte do Adler e' lixada. Eu conheci o Adler no Haiti. Bom companheiro, bom amigo. Nao sei que dizer. Apenas chorar.
Rui Ferreira/Miami
Pelas costas(que dizer...)pelas costas... .
DN 29 Julho...
Martin Adler
Jornalista pedro.roloduarte@gmail.com
Pedro Rolo Duarte
No fim-de-semana passado vi uma noticia no Público e no DN com um título basicamente igual que dizia: "Jornalista sueco assassinado na Somália." Todos os dias morrem jornalistas por esse mundo fora, nomeadamente nos países de alto risco, e este seria mais um profissional morto em combate, que é como que diz, em serviço. Vi o título, mas não li a notícia. No dia seguinte, no blogue de Francisco José Viegas, percebi que o jornalista sueco não era um anónimo para os portugueses, pelo contrário, e que a notícia dos jornais deveria ter sido escrita por alguém muito distraído. Tão distraído que passara ao lado do essencial: o profissional assassinado era Martin Adler, um dos repórteres que encheram de talento as páginas da Grande Reportagem e do Expresso, com textos e imagens captadas no centro dos furacões políticos e sociais do globo, da Chechénia ao Afeganistão, da Etiópia ao Sudão. Um jornalista cuja relação com a imprensa portuguesa não era puramente comercial, mas antes de envolvimento e colaboração. Nunca conheci Martin Adler nem sei como ele "chegou" até nós, mas sentia-o sempre como um sueco "um bocadinho" português.
Incomodou-me, por isso, a frieza e distância das notícias sobre a sua morte. Como se Martin não tivesse uma fatia da sua vida profissional inscrita nas páginas da imprensa portuguesa. Como se o facto de ser sueco, e de ser mais um jornalista assassinado em serviço, desvalorizasse a informação ao ponto de ser remetida para um registo breve de ocorrências e óbitos.
Martin Adler tinha 47 anos, era casado, duas filhas. Trabalhou para a televisão britânica e para jornais como o The Indepen-dent e Daily Telegraph, além de publicações do seu próprio país. Ganhou prémios internacionais. Leio Pedro Almeida Vieira no blogue de Francisco José Viegas: "Era um 'missionário do jornalismo'; e com ele (com os seus olhos e a sua pena) morreu, um pouco mais, a nossa (ténue) esperança de um Mundo são."
Penso nesta ironia suprema que me cerca: foi através de um blogue que eu percebi que o "jornalista sueco assassinado" era afinal Martin Adler - e é nesse mundo de opiniões livres que eu encontro a notícia e a homenagem que os jornais portugueses se esqueceram de fazer. Um sinal dos tempos, não restam dúvidas...
E quem avisou o Viegas?
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