20031027

Ora escutem lá!...

Já começo a estar farto desta história das escutas telefónicas.
Desde já, calcula-se que a capacidade tecnológica de organizar escutas não é da exclusiva responsabilidade das autoridades judiciais mandatas para tal.
Temos de aprender a viver permanentemente com essa possibilidade.
O facto do teor das conversas "pingar" para a opinião pública também não me escandaliza. E tratando-se de políticos, escandaliza-me ainda menos.
Intriga-me muito mais aquilo que, por exemplo, NÃO VIMOS em cada programa do "Big Brother", onde era suposto termos visto tudo... Como dizia a publicidade, que não se quer enganosa.
Se Ferro Rodrigues disse que tinha uma opinião escatológica sobre o segredo de justiça, acho muito bem que isso tenha vindo a público. Um homem político deve ter orgulho em falar como o povo. Mesmo que diga palavrões.
Só que o problema dos políticos é estarem precisamente divorciados do povo. Acham as conversas devem manter-se secretas, quando a causa pública deveria ser causa pública.
Se não houver segredos, nem mesmo os de mera estratégia partidária interna, não seria esta uma sociedade mais livre e mais justa?
Para quê tentar manter conversas com mensagens de código?!
Eu, quando falo ao telefone com as minhas "fontes" (que raio de palavra! A única fonte que me lembro de ter recorrido é a das Sete Bicas, na Senhora da Hora, antes de considerarem a água imprópria para consumo. Penso que ainda hoje isso se mantém...), aviso logo que tudo o que eu digo é para ser divulgado, pois sou jornalista e essa é a minha função.
O que não querem que se saiba, não me digam!
Não sei guardar um segredo!
Sou uma escuta permanente e uma eterna fuga de informação. Apenas, porque sinto que não devo nada a ninguém e acredito que sou livre!
Reconheço, contudo, que também às vezes digo aos meus interlocutores que seria bom que me contassem todos os aspectos da sua história "para eu depois saber o que não devo contar", porém só o peço em situações de contacto pessoal e faço-o na convicção de que poderá ser matéria irrelevante para a história em causa, mas essencial para o entendimento geral das circunstâncias que me levaram a ter de ter conhecimento das informações apresentadas.
No meu mundo perfeito não existem escutas, porque não há segredos.
Se os políticos querem utopia, então que larguem o telemóvel! Em alternativa, gravem as suas conversas e depois vendam-nas em CD's nas feiras que visitam durantes as campanhas eleitorais.
Talvez assim haja mais gente que vote em vocês...
Até lá, quem tem vergonha do que fala ao telefone, só merece mesmo a vergonha.

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