20190311

"Snu"

“Snu” é um filme a ver. É obrigatório. Não digo isto por achar que seja um grande filme, daqueles de Hollywood, nem conceptual. Mas, é uma obra com boa cinematografia, uma música hipnotizante da portuguesa Surma – aquela da canção no Festival da Canção que faz o Conan Osíris parecer um vulgar artista Pop e comercial -, e uma história baseada em factos históricos. A história de amor entre o ex-primeiro-ministro Sá Carneiro e Snu foi um facto político entre 1976 e 1980. Sobretudo durante este último ano, o da morte de ambos. O registo possível, foi este. Porque ainda há muitas pessoas dessa altura que estão vivas. Podia ter sido outro, noutro filme, mas acabou dar este. E é melhor do que nada. Estou habituado a produções estrangeiras sobre factos verídicos bem mais recentes, como “A Rainha”, de Stephen Frears, sobre os dias da morte da Princesa Diana, que fora precedido ainda pelo telefilme do mesmo realizador, “The Deal”, baseado na alegada conversa secreta entre Tony Blair e Gordon Brown em que ambos decidiram quando é que cada deles seria primeiro-ministro do Reino Unido. Este “Snu” é sobre um caso com quase mais de 40 anos, mas que, de uma forma colateral, ainda envolve muitos segredos actuais. O filme não quis dizer que o embaixador dos EUA se chamava Frank Carlucci. Não quis mencionar que o artigo da revista “Time” que tanto irritou o casal teria sido instigado pela CIA – co-dirigida então por Carlucci. E Sá Carneiro achava que era uma manobra contra si, alimentada pelo amigo americano de Mário Soares, o mesmo que naquela altura disse que um homem que não consegue governar a sua própria casa não serve para governar o País. Não, o filme também não contou o episódio do telefonema de Snu para o ex-marido sobre a possibilidade da CIA estar a vigiar Sá Carneiro devido à alegada investigação de um negócio secretos de armas para o Irão. Tudo isso ficou de fora. Mas, ide ver o filme. O mínimo que nos mostra já é muito bom para contextualizar depois os factos verdadeiros.
P.S. – No filme, é recriado o ambiente do “Botequim”, o bar de Natália Correia, a confidente do amor entre Sá Carneiro e Snu. As filmagens, no entanto, não tiveram lugar no local original, à Graça. Escolheram – e bem - o ambiente do “Procópio”, nas Amoreiras. Não pude deixar de ficar particularmente tocado com essa escolha, sobretudo devido a um detalhe que, creio, nem os responsáveis do filme devem ter notado: a data altura, Sá Carneiro e Snu saem do bar e descem as escadas em direcção ao carro estacionado no fim das mesmas. A porta de uma casa atrás deles é onde, ainda hoje, vive José Esteves, antigo motorista de Freitas de Amaral e um dos homens que sempre se disse estar envolvido no atentado de Camarate. Detalhes do destino.

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