20090929

O que disse Cavaco

Desta vez, não é necessário qualquer comentário a negro para "decifrar" o que disse Cavaco Silva. Desta vez, ele foi mesmo directo...

Declaração do Presidente da República
Presidência da República, 29 de Setembro de 2009
1. Durante a campanha eleitoral foram produzidas dezenas de declarações e notícias sobre escutas, ligando-as ao nome do Presidente da República e, no entanto, não existe em nenhuma declaração ou escrito do Presidente qualquer referência a escutas ou a algo com significado semelhante.

Desafio qualquer um a verificar o que acabo de dizer.

E tudo isto sendo sabido que a Presidência da República é um órgão unipessoal e que só o Presidente da República fala em nome dele ou então os seus chefes da Casa Civil ou da Casa Militar.


2. Porquê toda aquela manipulação?

Transmito-vos, a título excepcional, porque as circunstâncias o exigem, a minha interpretação dos factos.

Outros poderão pensar de forma diferente. Mas os portugueses têm o direito de saber o que pensou e continua a pensar o Presidente da República.

Durante o mês de Agosto, na minha casa no Algarve, quando dedicava boa parte do meu tempo à análise dos diplomas que tinha levado comigo para efeitos de promulgação, fui surpreendido com declarações de destacadas personalidades do partido do Governo exigindo ao Presidente da República que interrompesse as férias e viesse falar sobre a participação de membros da sua casa civil na elaboração do programa do PSD (o que, de acordo com a informação que me foi prestada, era mentira).

E não tenho conhecimento de que no tempo dos presidentes que me antecederam no cargo, os membros das respectivas casas civis tenham sido limitados na sua liberdade cívica, incluindo contactos com os partidos a que pertenciam.

Considerei graves aquelas declarações, um tipo de ultimato dirigido ao Presidente da República.


3. A leitura pessoal que fiz dessas declarações foi a seguinte (normalmente não revelo a leitura pessoal que faço de declarações de políticos, mas, nas presentes circunstâncias, sou forçado a abrir uma excepção).

Pretendia-se, quanto a mim, alcançar dois objectivos com aquelas declarações:

Primeiro: Puxar o Presidente para a luta político-partidária, encostando-o ao PSD, apesar de todos saberem que eu, pela minha maneira de ser, sou particularmente rigoroso na isenção em relação a todas as forças partidárias.

Segundo: Desviar as atenções do debate eleitoral das questões que realmente preocupavam os cidadãos.

Foi esta a minha leitura e, nesse sentido, produzi uma declaração durante uma visita à aldeia de Querença, no concelho de Loulé, no dia 28 de Agosto.


4. Muito do que depois foi dito ou escrito envolvendo o meu nome interpretei-o como visando consolidar aqueles dois objectivos.

Incluindo as interrogações que qualquer cidadão pode fazer sobre como é que aqueles políticos sabiam dos passos dados por membros da Casa Civil da Presidência da República.

Incluindo mesmo as interrogações atribuídas a um membro da minha Casa Civil, de que não tive conhecimento prévio e que tenho algumas dúvidas quanto aos termos exactos em que possam ter sido produzidas.

Mas onde está o crime de alguém, a título pessoal, se interrogar sobre a razão das declarações políticas de outrem?

Repito, para mim, pessoalmente, tudo não passava de tentativas de consolidar os dois objectivos já referidos: colar o Presidente ao PSD e desviar as atenções.


5. E a mesma leitura fiz da publicação num jornal diário de um e-mail, velho de 17 meses, trocado entre jornalistas de um outro diário, sobre um assessor do gabinete do Primeiro-Ministro que esteve presente durante a visita que efectuei à Madeira, em Abril de 2008.

Desconhecia totalmente a existência e o conteúdo do referido e-mail e, pessoalmente, tenho sérias dúvidas quanto à veracidade das afirmações nele contidas.

Não conheço o assessor do Primeiro-Ministro nele referido, não sei com quem falou, não sei o que viu ou ouviu durante a minha visita à Madeira e se disso fez ou não relatos a alguém.

Sobre mim próprio teria pouco a relatar que não fosse de todos conhecido. E por isso não atribuí qualquer importância à sua presença quando soube que tinha acompanhado a minha visita à Madeira.


6. A primeira interrogação que fiz a mim próprio quando tive conhecimento da publicação do e-mail foi a seguinte: “porque é que é publicado agora, a uma semana do acto eleitoral, quando já passaram 17 meses”?

Liguei imediatamente a publicação do e-mail aos objectivos visados pelas declarações produzidas em meados de Agosto.

E, pessoalmente, confesso que não consigo ver bem onde está o crime de um cidadão, mesmo que seja membro do staff da casa civil do Presidente, ter sentimentos de desconfiança ou de outra natureza em relação a atitudes de outras pessoas.


7. Mas o e-mail publicado deixava a dúvida na opinião pública sobre se teria sido violada uma regra básica que vigora na Presidência da República: ninguém está autorizado a falar em nome do Presidente da República, a não ser os seus chefes da Casa Civil e da Casa Militar. E embora me tenha sido garantido que tal não aconteceu, eu não podia deixar que a dúvida permanecesse.

Foi por isso, e só por isso, que procedi a alterações na minha Casa Civil.


8. A segunda interrogação que a publicação do referido e-mail me suscitou foi a seguinte: “será possível alguém do exterior entrar no meu computador e conhecer os meus e-mails? Estará a informação confidencial contida nos computadores da Presidência da República suficientemente protegida?”

Foi para esclarecer esta questão que hoje ouvi várias entidades com responsabilidades na área da segurança. Fiquei a saber que existem vulnerabilidades e pedi que se estudasse a forma de as reduzir.


9. Um Presidente da República tem, às vezes, que enfrentar problemas bem difíceis, assistir a graves manipulações, mas tem que ser capaz de resistir, em nome do que considera ser o superior interesse nacional. Mesmo que isso lhe possa causar custos pessoais. Para mim Portugal está primeiro.

O Presidente da República não cede a pressões nem se deixa condicionar, seja por quem for.

Foi por isso que entendi dever manter-me em silêncio durante a campanha eleitoral.

Agora, passada a disputa eleitoral, e porque considero que foram ultrapassados os limites do tolerável e da decência, espero que os portugueses compreendam que fui forçado a fazer algo que não costumo fazer: partilhar convosco, em público, a interpretação que fiz sobre um assunto que inundou a comunicação social durante vários dias sem que alguma vez a ele eu me tenha referido, directa ou indirectamente.

E sabendo todos que a Presidência da República é um órgão unipessoal e que, sobre as suas posições, só o Presidente se pronuncia.

Uma última palavra quero dirigir aos portugueses: podem estar certos de que, por maiores que sejam as dificuldades, estarei aqui para defender os superiores interesses de Portugal.

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15 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

Ficamos de boca á banda!
Sim senhor... explícito!!!

29 setembro, 2009  
Anonymous Zézinho disse...

Adoro quando o Cavaco faz de zangado... Excita-me...

30 setembro, 2009  
Blogger Karocha disse...

Só uma perguntinha fred!
O que é que o PR foi fazer a Londres em visita ao Gordon Brown?
Se não descobrires a data eu descubro e não foi oficial!
Passou em rodapé nos noticiários,ninguém deu por isso, mas eu dei!!!

30 setembro, 2009  
Anonymous Anónimo disse...

Karocha, eu também vi isso de fugida... que diabo! Descubram lá a data.

30 setembro, 2009  
Blogger Karocha disse...

Fada
Eu tenho andado a deitar jornais fora,o Fred estava lá, se calhar é mais fácil para ele.
Acho que foi no fim da Primavera, lembro-me de ter comentado, que raio ia o PR falar com o Prime!!!

30 setembro, 2009  
Anonymous Anónimo disse...

Karocha, estamos a ser manietados de fora há muiiitos anos!

30 setembro, 2009  
Blogger Karocha disse...

Alterar tamanho de letra
D.R. Cavaco SilvaCavaco Silva
18 Junho 2009 - 11h50
Homenagem em Edimburgo
Cavaco Silva recebido por Gordon Brown
O Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, vai ser recebido na segunda-feira em Londres pelo primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, durante uma visita de dois dias ao Reino Unido.

De acordo com uma nota de imprensa da Presidência da República, os dois dirigentes irão encontrar-se na residência oficial do primeiro-ministro, Downing Street.



No dia seguinte, 23 de Junho, Cavaco Silva vai ser homenageado em Edimburgo, recebendo o grau Doutor Honoris Causa pela Universidade Heriot-Watt, uma das mais antigas instituições de ensino superior o Reino Unido, fundada em 1821.



Esta é a primeira deslocação de Aníbal Cavaco Silva ao Reino Unido enquanto Presidente da República.

30 setembro, 2009  
Blogger Karocha disse...

Sou boa ou não sou fada?

E vamos continuar.
Aquele discurso foi estranho!
Vou ficar à espera dos próximos capítulos.

30 setembro, 2009  
Anonymous Anónimo disse...

É mesmo boa Karocha! Espete com isto no Escrita em Dia, por favor...

30 setembro, 2009  
Blogger Karocha disse...

Já está Fada.
Como o CN modera os comentários agora é esperar.
Infelizmente, tive que fazer o mesmo no meu blog!

30 setembro, 2009  
Anonymous Anónimo disse...

Obrigada Karocha. Fez muito bem... é preciso divulgar estes podres.
Um beijo. :)

30 setembro, 2009  
Anonymous Anónimo disse...

Política Suja 6 Portugal 0
Que cabazada e que Vergonha
Alguem já comparou a semelhança existente entre alguns dos nossos políticos e alguns Presidentes dos nossos Clubes de Futebol?Só pensam
que é preciso ganhar, não importa como.
Caramba. Se o Salazar voltasse, teria muito de aprender com os políticos da Nova União Nacional.

30 setembro, 2009  
Blogger para mim disse...

Obrigado Karocha...

30 setembro, 2009  
Anonymous Anónimo disse...

Para que fique claro o comentário anterior saiu Anónimo por engano.Não era minha intenção esconder a cara

30 setembro, 2009  
Anonymous JAC disse...

Mais uma vez o comentário saiu Anónimo.Vamos lá ver se agora sai certo.

30 setembro, 2009  

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