Blogue do jornalista Frederico Duarte Carvalho, com coisas que tanto faz que se saibam porque em nada servem para o que sabemos. e-mail: paramimtantofaz@gmail.com
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20080812
Anatomia de uma história mal contada
“Há ainda muito para descobrir dentro do processo”, disse-me há dias o ex-coordenador da PJ, Gonçalo Amaral, quando, juntamente com o João Vasco Almeida, o entrevistei para a “Focus” – ver edição de amanhã, dia 13. O autor do livro “Maddie – A Verdade da Mentira” (140 mil exemplares já vendidos e com traduções previstas para Espanha e Alemanha) deu-nos aquela que terá sido a primeira entrevista já com o caso fora da alçada do segredo de justiça. Assim, o ex-coordenador aceitou olhar para o computador onde tínhamos o DVD com o processo aberto e apontou-nos com o dedo o momento onde está registada a contradição fatal dos testemunhos de alguns dos principais intervenientes da noite em que foi dado o alerta do desaparecimento da menina inglesa na Praia da Luz: “Nunca qualquer órgão de Comunicação Social fez um cruzamento desses depoimentos”, desabafou-nos então Gonçalo Amaral.
Está tudo no primeiro volume dos 17, que perfazem 4713 páginas. Foi a contradição entre o depoimento inicial de Janne Tanner, gerente de marketing, e o do seu companheiro, o médico Russel O’Brian, que levantou as suspeitas de que a gerente de marketing poderia estar a mentir quando disse ter visto um alegado raptor com uma criança ao colo. Tudo isto logo no dia 4 de Maio, nas primeiras horas após o desaparecimento.
Russel O’Brian, médico e marido de Jane Tanner, trabalhou seis meses directamente com o pai de Madeleine, Gerry McCann. Foram pais sensivelmente na mesma altura, sendo que a filha mais velha de Russel tem apenas um mês a mais do que Madeleine. Ao cruzarem os testemunhos de Gerry, Jane e Russel, os investigadores da PJ perceberam que “a história estava mal contada”.
De acordo com o depoimento testemunhal de Gerry McCann, registado nas instalações da PJ às 11h15 do dia 4 de Maio de 2007, catorze horas após os factos ocorridos, verifica-se que o pai de Madeleine ausentou-se do restaurante “Tapas” cerca de meia-hora depois de ter chegado àquele local. Antes de si, já um outro membro do grupo de veraneantes, Matthew Oldfield, fora ver as janelas e confirmara que as mesmas estavam fechadas e que todas as crianças do grupo deveriam estar a dormir. Quando Matthew regressou ao seio do grupo, comunicou isso aos presentes. Nesse mesmo momento, Gerry levantou-se e foi fazer uma nova verificação. Seriam as 21h05. O pai de Madeleine entrou no apartamento munido da respectiva chave, dirigiu-se ao quarto dos filhos, verificou que os gémeos estavam bem, assim como a filha mais velha. Gerry foi então ao WC, onde, disse, manteve-se alguns instantes. Saiu e cruzou-se com um amigo britânico, Jez, que conhecera nas férias e com o qual costumava jogar ténis. O amigo andava a passear o seu bebé, pois este estava com dificuldades em dormir. Estiveram ambos numa pequena conversa até que Gerry regressou ao restaurante.
O depoimento da testemunha Jane Tanner, recolhido às 11h30 de sexta-feira, 4 de Maio, regista o facto de esta ter-se ausentado do restaurante pelas 21h10, cerca de cinco minutos depois de Gerry. Jane deslocou-se ao seu apartamento para verificar se estava tudo bem com as filhas. Nessa altura, a caminho do apartamento, garante ter-se cruzado com Gerry no momento em que este falava com o amigo do ténis. À PJ frisou que passou por ambos sabendo que Gerry já tinha estado no apartamento a ver os filhos.
A contradição surge depois quando se cruza este depoimento com o do marido, Russel O’Brian. Este último, só falou com a PJ na noite de 4 de Maio, às 21h50, quase 24 horas após os factos. Russel confirmou que Gerry e Jane saíram quase em simultâneo. No entanto, disse que a mulher deve ter voltado primeiro porque teria encontrado Gerry a falar com o amigo do ténis. Aqui nasceu uma dúvida muito importante para que se percebesse o momento-chave do desaparecimento de Madeleine McCann. As perguntas assaltaram a mente dos investigadores da PJ: Afinal, Jane Tanner viu Gerry a falar com amigo quando ela regressva do apartamento, como sugeriu o marido, ou à ida?
Afinal, se Gerry e Jane saíram quase em simultâneo, com apenas cinco minutos de intervalo entre si, então como foi possível que Gerry tivesse ido ao quarto ver os filhos, fosse depois ao WC - onde se demorou algum tempo -, voltasse ao restaurante e parasse ainda para falar com o amigo do ténis em apenas cinco minutos, ao ponto de Jane garantir que, quando passou por ambos, a caminho do seu apartamento, Gerry já estava de regresso? Será que Gerry, afinal, conversava com Jez quando ainda ia a caminho do seu apartamento? E, como explicar ainda o facto de que nem Gerry nem o amigo – interrogado mais tarde em Inglaterra – se recordam alguma vez de ter visto Jane, apesar de esta ter afirmado que quando passou por eles estavam todos no mesmo lado do passeio?
Toda esta contradição é relevante para o caso quando se constata que, de acordo com o testemunho de Jane Tanner – comprovado com um esquema por si elaborado sobre estes movimentos -, ela afirma que foi depois de ter passado por Gerry e Jez, quando caminhava em direcção ao seu apartamento, que viu, uns metros mais acima, na esquina, um indivíduo com uma criança ao colo. Nunca no regresso. Seria esse testemunho a base que sustenta toda a tese de rapto que ainda hoje permanece na mente de muita gente. E o suspeito seguia no sentido da vivenda de Robert Murat. Foi, portanto, o testemunho de Jane, apesar de contraditório, que passou a sustentar toda a tese do rapto que apontava para Robert Murat.
A primeira descrição desta amiga do casal apontava para um homem na casa dos 35 e 40 anos, magro, 1,70m de altura, cabelo muito escuro, espesso, curto mas longo até ao pescoço. Como só o vira de costas, não conseguiu dar detalhes do rosto. Mas, isso não a impediu de mais trade garantir que vira, de facto, Robert Murat.
Jane contou ainda que regressou ao restaurante após ter visto os seus filhos e garantiu à PJ que Gerry já não estava na rua a falar com o amigo, pois foi encontrá-lo no “Taps” na companhia da mulher, Kate. Passado cerca de 15 a 20 minutos, foi a vez do marido de Jane, Russel O’Brian, ir ver as filhas, na companhia de Matthew Oldfield. Este último terá depois passado pelo apartamento dos McCann, mas não viu se Madeleine estava ou não na cama, pois admite que apenas estava interessado em ouvir algum barulho vindo do seu interior. Russel, no entanto, terá ficado no seu quarto a cuidar da filha, pelo que Jane comeu rapidamente e foi ter com o marido ao quarto para o render. Russel regressou ao restaurante e foi nesse momento que Kate se levantou para ir verificar o sono do três filhos. Seriam as 22h00 ou 22h15, e estava Jane Tanner no seu apartamento quando ouviu Kate McCann e uma outra amiga do grupo, Fiona Payne, a gritarem que Madeleine tinha desaparecido. A partir dali, seria a confusão total que nos levou a uma situação que se arrastou durante meses e, finalmente, terminou por enquanto com o caso a ser arquivado sem que alguma vez tivesse aparecido um corpo ou um raptor.
Se alguém raptou ou ocultou o cadáver de Madeleine McCann, isso foi, até ao momento, o crime perfeito.
Para mim, que tanto faz, dava uma carga de porrada na Jane Tanner a ver se nao abria a boquinha!
ResponderEliminarDesculpem la a selvajaria portuguesa mas e mesmo assim!
Espero que o seu trabalho saia de forma desenvolvida, porque merece a pena saber mais. Estarei atento à revista, então
ResponderEliminarParabens pelo blog, deixo lhe um repto, será que o sistema vigente não fez de tudo para limpar a imagem dos país??
ResponderEliminarEm nome de que influências???
Que interesses, quem ganhou com esta palhaçada???
Abraço,
Magno.
Quem ganhou com esta palhaçada?
ResponderEliminarPara mim foram os pais!
É certo que perderam uma filha, mas ganharam a liberdade e a pena dos menos inteligentes que ainda pensam que eles são inocentes.
Isto para não falar no dinheiro do fundo (mais um ganho!).E a Método 3 que já encheu os bolsos.
Pelo menos consola-me que os pais perderam a vergonha mas ganharam muita culpa para o resto da vida deles.
Nem sei se dormirão descansados à noite.
Frederico, mais uma vez, parabéns pelo blog, pelo trabalho desenvolvido e pelos excelentes artigos na Focus.
ResponderEliminarEu cá o que realmente gostava de saber, é como foi a PJ descobrir que os factos ocorreram entre as 21.05 e as 22h - baseados no testemunho de um dos arguidos?!
Uma noção apenas ultrapassada pelo Senhor Procurador que conseguiu deduzir que os paizinhos só podem ser inocentes da suspeita do crime de exposição e abandono, pois não estavam presentes à hora dos factos.
Ou seja, se o seu filho vai sofrer um acidente, ou mesmo ser raptado, assegure-se que você estará a 100 metros de distância, no mínimo, e deixa de ser problema seu.
Brilhante.
por momentos tive a esperança de que 'magno' tivesse dito: "Será que o sistema vigente não fez tudo para limpar a imagem do País?" ... pois, nesse caso, a resposta seria mais simple: Não, não fez :)
ResponderEliminarFrederico, serão pessoas como você a não deixar morrer esta vergonha.
ResponderEliminarJá li o artigo da Focus.
ResponderEliminarInfelizmente ainda não foi desta vez que alguém fez a vontade ao Dr.Gonçalo Amaral e ANALISOU públicamente as discrepancias das declarações dos "TAPAS 9", de acordo com a cópia do processo que teem em Vosso poder.
Continuo a aguardar, tenho esperança que ALGUM jornalista o faça, em Portugues, para os Portugueses entenderem.
Este "Anonimo" tem toda a razão :
ResponderEliminar"Já li o artigo da Focus.
Infelizmente ainda não foi desta vez que alguém fez a vontade ao Dr.Gonçalo Amaral e ANALISOU públicamente as discrepancias das declarações dos "TAPAS 9", de acordo com a cópia do processo que teem em Vosso poder.
Continuo a aguardar, tenho esperança que ALGUM jornalista o faça, em Português, para os Portugueses entenderem."
Também estou aguardando, mas cada dia que passa com mais duvidas... legitimas...
Em particular a respeito da PJ e do MP que foram mais que ligeiros ao negligenciarem os 4 testemunhos dos Smiths. Quem acreditará que não ligaram mais porque G.McC estava no Tapas quando os Smiths cruzaram o homem com a miúda descalçada ? Ninguem perceberá nunca porque o único testemunho objectivo foi para o caixote de lixo. O homem não podia parecer com o G. sem se-lo ? Não é evidente que se houve rapto ele é o raptor ? E aonde podia então ir o raptor a pé ? Com certeza tão perto que não se justificava um carro... E porque que o homem arriscou atrair a atenção ao não responder aos Smiths ? Como se houvesse muitas explicações... a não ser evidentemente que era surdo e mudo...
Porque não há UM jornalista neste pais a por os pontos em cima dos is ? Para o quê serve o privilegio (há de rever a noção de privilégios sem deveres...) de ter o famoso DVD que, outra ironia do MP, afinal é apenas um terço do dossier...
E já alguém se lembrou de perguntar ao porco que se alimentou da Joana se lhe deram Madeleine à seia?
ResponderEliminarE o Rui Pedro? Queres ver que a mãe do Rui Pedro também o deu ao tal suíno?
Torquemada! Volta, que estás perdoado!
Se foram os pais de Meddie que a fizeram desaparecer, então PROVEM-NO! Ou então, espanquem-nos como fizeram com Leonor Cipriano.
Só espero que NUNCA, mas NUNCA vos desapareça um filho. Vocês calculam a quantidade de crianças que são raptadas e vendidas?
Não! Não se encontra o corpo, culpa-se os pais e pronto.
"Ah, mas as provas... As evidências..." Bah! "A mulher viu à ida ou viu à vinda? Isso é importante..."
Contem lá como foi a vossa noite passada. Em pormenor. Agora perguntem a alguém que estava convosco e vejam se bate certo. Ah! E em stress!
A Madeleine continua desaparecida e é importante encontrá-la. O resto é conversa especulativa.
"A pressão inglesa..." Mas que pressão?
Desculpem o meu desabafo, mas esta é a minha opinião.
Gerry e Kate são INOCENTES até PROVAS (e não confissões sob pressão e espancamento) em contrário.
Ora!Ora!
ResponderEliminarFrederico
Ele há tanto crime perfeito e tanta coisa mal explicada nesta terra!