Dizem-nos que se chama Paul Ekman, é professor de Psicologia do Departamento de Psiquiatria da Universidade da Califórnia. Segundo o diário "Público" (3/4/08), será ele "um dos cem psicólogos mais influentes do século XX". Foi entrevistado há dias aquando uma passagem sua pelo Porto e sabe-se ainda que se especializou na "análise das expressões faciais", pelo que é tido como "a maior referência mundial na detecção de mentiras, segundo uma técnica que ficou consagrada numa ferramenta chamada Micro Expression Training Tool". Tem 75 anos e ainda é consultor do FBI e da Scotland Yard.
A dada altura da entrevista há este diálogo:
" - E quanto a George Bush?
- Vou abrir uma excepção porque ele não é candidato. Eu acredito que ele acredita no que diz.
- Mesmo na questão do armamento nuclear e de Saddam Hussein?
- Acredito que ele acreditava que isso era verdade. E que lhe foram dadas informações incorrectas. O que acho é que ele quis acreditar que isso era verdade. Num livro de um jornalista norte-americano, conta-se que Bush disse ao chefe da CIA, George Tennant, que as provas não eram suficientes e que os americanos iam pensar que andavam à procura de pretextos para a guerra. E Tennant respondeu-lhe que estavam absolutamente seguros do que estavam a dizer. Nós sabemos hoje que Tennant estava a mentir a Bush, porque a CIA não tinha visto as armas. Mas Bush não sabia. Por isso, não mentiu. E quem eu responsabilizo é Tennant, embora possamos dizer que Bush não queria ouvir a verdade. Muitas pessoas discordam de mim mas é porque odeiam Bush. Eu não apoio George Bush, mas não penso que ele sabia que estava a dizer algo que não era verdade.
- É mais difícil detectar uma mentira num político que sabe que está a mentir?
- Sim. Por três razões. Primeiro porque não se chega a um cargo político importante a não ser que se seja excelente actor. Em segundo, os políticos quase sempre conseguem antecipar as perguntas e ensaiam as respostas. Terceiro: mesmo que estejam a mentir, eles não se sentem culpados por isso. Os políticos, hoje em dia, estão sempre a ser pressionados para assumir compromissos e isso deixa-os numa posição difícil. Hillary e Obama, salvaguardadas as diferenças, dizem que retiram as tropas do Iraque se ganharem as eleições. Mas nenhum deles pode na verdade antecipar o que vai encontrar se chegar ao poder. E isso não vai acontecer antes de Janeiro. Ora, é impossível prever como estará a situação em Janeiro ou se teremos condições de fazer a retirada sem causar um derramamento de sangue ainda maior. Mas os dois acreditam no que estão a dizer".
Para começar, não conheço nenhum ex-chefe da CIA chamado George "Tennant". Conheço um chamado, isso sim, George Tenet que, em 2004, um ano depois da invasão do Iraque recebeu uma medalha do Presidente Bush...
Este mesmo George Tenet (penso ser esse o nome correcto que o diário "Público" queria mencionar) lançou um livro há um ano: "At the Center of the Storm", onde segundo as notícias da época se citava George Tenet a garantir que "nunca houve um debate sério no seio da administração Bush sobre a iminência da ameaça iraquiana" nem "qualquer discussão substancial" sobre a possibilidade de evitar a invasão. Foi também dito há um ano que "George Tenet admite que se enganou ao garantir em 2002 que o líder iraquiano, Saddam Hussein, tinha armas de destruição em massa, mas refere que estava certo ao negar a existência de indícios claros de ligação entre o Iraque e a Al-Qaeda, como pretendiam alguns altos responsáveis da Casa Branca. Ao que acrescento estas outras linhas em inglês: "But he confirms the role of Cheney and other officials in deliberately exaggerating the WMD issue and seizing on it as a pretext for war".
E ainda: "Tenet claims that what was merely a passing comment on his part became turned into a main line of defense for the administration’s decision to go to war. He casts himself as a scapegoat, claiming that the false allegations had injured his 'reputation' and 'personal honor'".
Ora, isto é muito diferente daquilo que o tal especialista entrevistado pelo "Público" deu a entender quando afirmou: "Nós sabemos hoje que Tennant estava a mentir a Bush, porque a CIA não tinha visto as armas. Mas Bush não sabia. Por isso, não mentiu. E quem eu responsabilizo é Tennant, embora possamos dizer que Bush não queria ouvir a verdade. Muitas pessoas discordam de mim mas é porque odeiam Bush. Eu não apoio George Bush, mas não penso que ele sabia que estava a dizer algo que não era verdade".
Depois desta exposição de factos, a conclusão a que chego é a de que nem Tenet mentiu, nem Bush mentiu, nem o "Público" ou o resto da Imprensa mundial mentiu, nem o respeitável doutor norte-americano mentiu.
O que há aqui é a confirmação daquilo que mencionei há dias: Ignorância.
E com isso, milhares de pessoas morreram, morrem ainda e vão continuar a morrer... Boa.
Mas a verdadeira arte de mentir está no fato de, no fim, se conseguir provar que ninguém estava a mentir.
ResponderEliminarAqui ninguém é acusado de mentir mas todos sabemos que as WMD nunca existiram. E eles também!
Admiro-lhes a ligeireza com que o fazem e, sobretudo, o maquiavelismo.
Não é para todos, lá isso não é!
Aiii!!! Que horror!!
ResponderEliminarFoi completamente involuntário mas escrevi fato em vez de facto!
As minhas desculpas...
Ignorância da parte deles ou inocência de quem acredita na sua ignorância?
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