Escrevi aqui na passada quarta-feira que desejava a derrota de Portugal contra a Grécia e, embora não acreditasse muito na possibilidade, tal facto ocorreu.
Lá por a ter desejado, não pensem que fui celebrar o acontecimento na noite de sábado, mas confesso que fiquei mais aliviado, a bem de uma mente sã, livre do futebol como elemento falsamente catalisador de uma qualquer pseudo-retoma na auto-estima e na economia, aliás já ensaiada com o "decreto presidencial" de Jorge Sampaio, logo após a vitória da equipa do FC Porto na final da Liga dos Campeões.
No domingo, ao comprar o jornal, um outro cliente tinha na mão o diário espanhol "El País" e disse isto à vendedora: "Está a ver como é que se faz? Dão a vitória da sua selecção de futebol, mas ao lado, com igual destaque, dizem que hoje há eleições europeias. Agora, compare isto com os nossos".
Fui ver e constatei que, de facto, entre os diários nacionais, só o "Público" é que tinha uma primeira página algo semelhante ao espanhol... "Diário de Notícias", "Jornal de Notícias" ou "Correio da Manhã", apenas tinham uma chamadinha do apelo ao voto de Jorge Sampaio...
O problema da derrota de Portugal contra a Grécia é agora esta ideia que por aí corre de que, contra os russos, vamos ganhar e depois tudo se decidirá numa nova "Aljubarrota" frente aos espanhóis. Isso até poderá acontecer, mas teria sido bem mais avisado se alguém tivesse vindo a terreno, sábado, após o apito final do jogo, dizer que Portugal ainda ia tempo de perceber que, tal como no futebol, também na Europa há muito que foi ultrapassado pela Grécia. E, por isso, deveríamos agarrar a bandeira - não a falsa, a do supermercado do Figo com os seus obscenos pagodes chineses -, mas sim a verdadeira, aquela que nos vai na alma lusa, e ir votar.
Votar, raios! Não importa em quem, mas ir votar!
Já morreu gente por esse direito...
Mas 61 por cento dos portugueses optou por não o fazer.
Esses cuspiram na cara de quem acredita que votar faz a diferença.
Agora, entre muitos deles, estão aqueles que depois até se agarram à bandeira a pensar no jogo da bola de quarta-feira.
E lá vamos adiar mais uma vez o País se tivermos o azar de ganharmos contra os russos.
É que mesmo que a gente depois perca contra os espanhóis, de certeza que não iremos aprender aproveitar a oportunidade para construir um novo País, pois iremos culpar essa fado histórico dos dois povos Ibéricos e reduzir tudo a uma questão de números e estatísticas de provas desportivas entre portugueses e espanhóis.
Com honras de primeira página nos jornais e tudo.
E depois, vão usar as bandeiras para limpar as beiças... e vão continuar a encher latrinas, pois este País já nada produz.
Por isso é que digo que é necessário um novo País.
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