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20040426

Notícias do Porto

Para que conste, isto veio hoje no "Diário de Notícias".
Esta é uma crónica de Paulo Morais, o número 2 da Câmara do Porto.
Não parece, mas ele é do PSD.
Do PSD do Porto, entenda-se, por isso é que não parece ser do PSD que conhecemos.

"O novo Estado Novo
Vivemos o início da Primavera de 1974. Setenta e quatro? Digo 2004. São tempos estranhos e pantanosos. O País não tem estratégia. O poder económico pertence a meia dúzia de famílias que, indirectamente, controlam os principais grupos de poder político. Os órgãos de comunicação social são meras correias de transmissão dos diversos tipos de corporativismo.
Como todos os regimes de génese totalitária, este tem os seus apaniguados: como nos tempos de má memória, há hoje uma televisão do regime, que vive da corte e para a corte lisboeta; temos também a rádio do regime, qual Emissora (maçadora) Nacional dos anos 60; mas há ainda o banco do regime ou as obras faraónicas do regime, como a Ota ou os estádios do Euro, dignas sucessoras desse elefante-branco que foi o porto de Sines. Os ícones que simbolizam o regime não acabam por aqui; há pregadores de serviço, catedráticos de encomenda, eminências pardas a cada esquina. Não falta sequer um megaescândalo sexual, envolvendo poderosos e pedófilos, sucedâneo a cores dos ballets rose dos anos 60.
Os órgãos representativos dum Estado que não serve, mas se serve do País, têm por missão a manutenção do status quo e garantem a cosmética do sistema. O Presidente da República pouco mais faz do que cortar fitas, atribuir comendas ou proferir discursos; o Parlamento transformou-se em câmara representativa de partidos tomados pelas corporações; os dirigentes locais são, na sua maioria, escolhidos pelos directórios partidários. Os partidos, quais pequenas uniões nacionais, institucionalizaram o estado corporativo com que Salazar havia sonhado.
Sempre que no pântano alguma voz crítica se exprime, agitando as águas fétidas, logo aparecem as habituais brigadas do reumático, quais velhos do Restelo da modernidade, em defesa da manutenção do imobilismo geral; juntam-se agora a estes as novas brigadas, as da mão fria (fim de tarde de copo na mão!). Se necessário, à imagem de Salazar, acusam os críticos de radicalismo, de terem eventualmente razão no conteúdo da denúncia, mas jamais na forma de a exprimir. Em desespero, lançam até o anátema de antipatriotismo sobre aqueles que não pactuem com os símbolos deste regime decrépito.
Os portugueses, todos nós enfim coitados, vamos modestamente trabalhando. Para quê? Para que no final de cada mês o fisco nos possa extorquir os impostos necessários para sustentar um aparelho de Estado imperial. Distraem-nos com futebol e fado, para que não tomemos consciência colectiva da dura realidade deste povo, condenado a suportar com o suor do seu trabalho uma corte que, na capital do império, se alimenta da intriga, distribui as habituais prebendas pelos seus protegidos e impede o progresso do País.
É claro que as consequências, em termos de desenvolvimento e qualidade de vida, não podem deixar de fazer-se sentir; apesar da pouca fiabilidade das estatísticas, conseguimos, contudo, concluir que somos o mais atrasado país da Europa, com os piores indicadores em termos de saúde e educação.
Trinta anos volvidos, os portugueses, na senda desse crónico sebastianismo, continuam à espera de um novo regime. Já perceberam que esta república de Abril mais não é do que um novo_ velho Estado Novo."

Depois de ler isto só tenho a dizer uma coisa:

Obrigado Paulo.

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