20040321

"Paixão" e teorias da conspiração

Fui ver a "Paixão de Cristo", filme realizado por Mel Gibson.
Há uns anos, dizia-se que, entre os livros mais vendidos no mundo, a "Bíblia" era o primeiro, sendo seguido de perto pelo "Mein Kampf" ("A Minha Luta"), de Adolf Hitler...
As cenas violentas da "Paixão de Cristo" levam-nos a reflectir sobre a violência de todos os dias, onde tantas guerras pelo mundo poderiam ser perfeitamente evitadas, caso os seres humanos seguissem o princípio revolucionário de Jesus Cristo de amar o inimigo. Daí que a proposta de Mário Soares, um republicano laico, em relação à possibilidade de negociações com os terroristas, seja bem mais católica do que a posição do ministro Paulo Portas, um confesso católico, que diz não poder dialogar com inimigos do Estado de Direito... Cristo morre assim todos os dias na cruz.
As ideias de Jesus de Nazaré perduraram até hoje graças ao facto de se ter transformado num mártir, ao dar a sua vida pelos nossos pecados.
O filme, contudo, não nos explica que ele já tinha tudo previsto na sua mente, como numa grande teoria da conspiração - aliás, um outro filme com este título, por coincidência, teve Mel Gibson como principal protagonista.
Leia-se então o Evangelho segundo São Mateus, onde este fala sobre o primeiro anúncio da Paixão de Cristo: "A partir desse momento, Jesus Cristo começou a fazer ver aos seus discípulos que tinha de ir a Jerusalém e sofrer muito, da parte dos anciãos, dos sumos sacerdotes e dos doutores da Lei, ser morto e ao terceiro dia, ressuscitar".
Cristo já sabia o que lhe ia acontecer, tinha tudo planeado. Friamente planeado, o que só me faz pensar em muitos planos dos nossos líderes de hoje, que conseguem anticipar acções e reacções populares, manipularem o uso da Imprensa e da Lei.
Veja-se como Pilatos lavou as mãos e transmitiu a responsabilidade para os senhores manipuladores.
Cristo acabou por ser condenado à morte sem que fosse encontrada qualquer culpa.
O seu plano funcionou.
"Quid est veritas?", foi a pergunta de Pilatos a Jesus. Foi a última pergunta do romano, conforme ralata o Evangelho de São João, e não consta que Pilatos tenha obtido uma resposta.
Pelo menos que se saiba.
E com isto Cristo deu seguimento ao seu plano. Ele que até dizia conhecer a verdade toda...
Depois de "Eis o homem", segue-se a via sacra, onde Simão de Cirene ajuda Jesus a carregar a cruz.
E, no Evangelho de São João, já quando Jesus entregara o "espírito", explica-se que "Como era o dia da preparação da Páscoa, para evitar que no sábado ficassem os corpos na cruz, porque aquele sábado era um dia muito solene, os judeus pediram a Pilatos que se lhe quebrassem as pernas e fossem retirados. Os soldados foram e quebraram as pernas ao primeiro e também ao outro que tinha sido crucificado juntamente. Mas, ao chegarem a Jesus, vendo que já estava morto, não lhe quebraram as pernas. Porém, um dos soldados traspassou-lhe o peito com uma lança e logo brotou sangue e água. Aquele que viu estas coisas é que dá testemunho delas e o seu testemunho é verdadeiro. E ele bem sabe que diz a verdade, para vós crerdes também".
Temos então aqui o relato (com 2000 anos de distância e a devida compensação na tradução e na simbologia das histórias da Bíblia) que nos indica que, a Cristo não partiram nenhum osso do seu corpo, e que brotou "água" quando um soldado romano (logo um menos interessado naquela morte) traspassou o peito (lá em cima altura) com uma lança. E, em São João, houve a necessidade de enfatizar o facto de que há testemunhas e o "seu testemunho é verdadeiro"...
O que temos aqui? Efeitos especiais, ilusão, conspiração e manipulação? Enfim, estão lá todos os ingredientes da teoria da conspiração que, até hoje, sustenta o Vaticano.
Cristo, afinal, nem sequer morreu, pois não?
Ressucitou em carne, ao fim de três dias de descanso, não foi?
Maria Madalena viu-o e Jesus apareceu a seguir aos apóstolos.
Disse ainda, mais tarde, a Tomé (que não acreditava na ressurreição uma vez que não tinha presenciado a sua aparição): "Porque me viste, acreditaste. Felizes os que crêem sem terem visto!"
Felizes pois esses que acreditam no que lhes dizem, pois deles será o reino dos céus...

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