Imaginemos por um instante que somos Deus e vemos tudo o que se passa no mundo.
Ou, em alternativa, somos um escritor que vai inventar um mundo de ficção.
Ou uma mosquinha que por ali voa e assiste sem ser topada...
Tudo que vou dizer a seguir é parte dessa experiência imaginativa, de ficção, pois em nada podemos dizer que é igual ao mundo que hoje temos. Se, porventura, alguém tiver a tentação de o reconhecer como verdadeiro, que fique desde já a saber que tudo o que aqui descrevo não é mais do que o produto da minha imaginação - delirante, para alguns, perigosa, para outros, ridícula, para mais uns tantos, subversiva, para certos observadores, triste e desiludida, para uns poucos, avisada e reveladora para outros tantos.
Imaginemos, portanto, que existem terroristas que os governos podem controlar.
Imaginemos que há um "exército" escondido, nas sombras, que actua quando é necessário à manutenção da sensação de existência de um Estado de Direito.
Não é difícil se quisermos.
Exemplos não faltam e isso explica-se pelo apoio que os EUA deram a grupos terroristas em São Salvador ou até a Savimbi em Angola... enquanto lhes foi útil. Aliás, bin Laden é um produto dos norte-americanos e foi "inventado" para lutar contra os soviéticos no Afeganistão - cuja invasão ocorreu em plena administração de Jimmy Carter e foi outro dos factores que contribuiu para a sua não reeleição (ver post anterior, "Eleições nos EUA").
Espanha não seria muito diferente... ainda há uns anos havia os GAL, que lutavam secretamente contra a ETA... é um exemplo.
Estes exércitos são controlados por superiores hierárquicos. São figuras que raramente surgem nas páginas dos jornais e, com o derrube das ditadura, aproveitaram bem as vantagens oferecidas pela manipulação da democracia (sempre é melhor ter os jornalistas presos pela carteira, achando que sabem tudo, do que tê-los a queixar-se contra a censura que sentem na carne. A Liberdade não é necessária. O que é preciso é a mera sensação de Liberdade. Isso basta para o animal humano. É isso que se aprende nas escolas das Américas).
A alternância democrática é um jogo, cujas regras têm de ser cumpridas pelos adversários que controlam todo o jogo.
O PSOE tem de respeitar o PP, mas este, para se dar ao respeito, também tem de respeitar o PSOE.
O primeiro passo foi dado com a não recandidatura de Aznar.
As políticas necessárias a todos, PP e PSOE, não foram populares e alguém tinha de as fazer.
Para o PP foi mais fácil, pelo que o PSOE aguentou o jogo democrático e limitou-se a queixar...
Cumpriu calendário - isto para quem gosta de linguagem futebolística.
Há um ano, foi a invasão do Iraque.
Tudo bem. Faz parte do jogo...
É um jogo por ciclos: a Direita gere as crises de segurança, e a esquerda gere as crises de economia.
Em Portugal, o socialista Mário Soares marchou há um ano contra a guerra no Iraque (ele, que, enquanto foi primeiro-ministro ajudou os EUA nos seus negócios secretos de tráfico de armas para o Médio Oriente... O "Irangate" foi naquela altura do governo do "Bloco Central", com Mário Soares e Mota Pinto à frente do destino de todos nós...).
Mas não culpem Mário Soares. Ele fez o seu papel no jogo da democracia, como um jogador que atrasa mal a bola para o seu guarda-redes e permite que o adversário marque um golo decisivo em período de descontos (e que foi de propósito, mas feito tão bem que ninguém o topou, pelo que ficou só a sensação de desconfiança).
O PP e o PSOE analisaram as intenções de voto e viram que o desgaste do governo não era assim tão grande, pelo que o PP até poderia ganhar as eleições.
Mas, mesmo assim, ia perder a maioria absoluta e teria de fazer uma coligação.
Com quem? Com os nacionalistas da catalunha.
Mas toda a esquerda unida poderia ter mais votos... um pesadelo, até para o PSOE (já imaginaram um governo com Ferro Rodrigues como primeiro-ministro, Carlos Carvalhas como ministro do Emprego e Francisco Louçã como ministro da Defesa? Para alguns isso até seria bem visto... Mas acho que não teríamos Paulo Portas ou Durão Barroso na Oposição... Estes estariam na prisão ou emigrados).
Então, entra o Rei em cena, que convoca os dois líderes ao seu palácio e dá-se o seguinte diálogo:
- Como vão resolver este problema? Espanha não pode ficar transformada numa ingovernável manta de retalhos! - observa o soberano.
- Temos uma solução - responde Zapatero, que aponta para Aznar.
- Só uma grave crise poderá mudar o sentido de voto. O PP poderá então obter a maioria absoluta - defende Aznar.
O Rei olha para Zapatero, que sorri, e afirma:
- Mas, Aznar, "hombre", tu estás de saída!... É a vez de Zapatero. Foi isso que se decidiu com Bush...
- Pensei que podíamos continuar por mais dois anos... Um escândalo financeiro daqui a uns tempos...
- Não. Tem de ser agora - afirma o Rei. É a melhor altura, pois existe cada vez mais um sentimento de reacção na rua e não podemos continuar a enganar todos durante mais tempo...
- Temos de "cambiar" de mentira... - interrompe Zapatero.
- "Entonces", tem de ser o plano secreto - diz Aznar.
- Mas gente irá morrer! - exclama o rei
- Para que mais possam sobreviver. Inclusive a Monarquia... - aponta Aznar. Zapatero mantém o silêncio.
- Vou cometer tantos erros nos últimos dias que ninguém vai desconfiar de nada... - diz Aznar.
- E eu irei aproveitar todos esses erros como nunca consegui até hoje. E todos vão pensar que a democracia funciona - acrescenta Zapatero.
- Sim, mas lembra-te: nada de acordos à esquerda. O PP tem de manter-se em condições de ser alternativa no futuro, para que tu possas também vir a ser a outra alternativa! - salienta o Rei.
- Claro! Claro! Isto aqui é como em Portugal. Olha só como o Ferro Rodrigues, apesar do que se passou com a Casa Pia, ainda é visto como um líder da Oposição - sorri o líder do PSOE.
- Não me obriguem a falar de Portugal! Aquilo é muito mais complicado do que parece. Ai se esta boca falasse... Enfim, está tudo acordado? E, já há uma data?
- Amanhã de manhã. É só fazer uma chamada... - ouve-se.
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