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20031101

Harry Potter e Portugal

No domingo passado, ao ouvir Marcelo Rebelo de Sousa na TVI (não atentamente, mas entre várias coisas que então fazia ao mesmo tempo), reparei que ele criticara a utilização do Panteão Nacional para o lançamento da mais recente tradução do sucesso de literatura juvenil, Harry Potter.
Escrevi logo aqui um "post" a manifestar também o meu espanto no caso. Mas, as minhas razões da indignação nem eram tanto pela utilização do Panteão Nacional para um evento cultural. Sobre isso, até me sinto inclinado a concordar com Francisco José Viegas, que escreveu no seu Aviz que a escolha do local é uma forma de dar vida aos nossos heróis das letras e artes que ali repousam.
A minha crítica tem outras raízes.
Para quem me conhece, sabe que sou do Porto. Em 1992, trabalhava então no diário "O Primeiro de Janeiro", onde, para além dos trabalhos de jornalista, escrevia ainda aos domingos uns pequenos contos de Roque Gomes, "O detective da baixa portuense".
Isso durou perto de um ano, até 1993.
Não vou, nem sequer pretendo aqui dizer ou sugerir, que a autora de Harry Potter, JK Rowling, leu algumas das minhas histórias. Mas, por coincidência, esta foi a altura em que ela esteve a viver no Porto, casou, teve uma filha e depois separou-se do marido e regressou a Edimburgo, na Escócia.
Há uns tempos tentei entrevistar o ex-marido de JK Rowling. Não quis dar nenhuma entrevista, mas fiquei ainda a saber que, por exemplo, ele tem laços familiares com um outro autor português de livros juvenis. Também do Porto. Sei bem, portanto, o poder criativo que aquela cidade nos inspira. Que o Harry Potter tenha lá também um personagem malvado chamado Salazar, igualmente se entende a alusão ao nome do nosso ditador, fruto dos anos que a autora viveu entre nós.
Por muito que lhe custe lidar com o passado, JK Rowling, tem uma dívida para com Portugal, em especial para com a cidade do Porto.
A nível criativo.
Não acho, por isso, que Portugal tenha uma dívida qualquer para com ela a nível pessoal.
No dia do lançamento da sua mais recente obra, JK Rowling não esteve presente na festa que se organizou em honra da sua personagem. Sei ainda que esteve recentemente perto do nosso País, em Espanha mais precisamente, para receber o prémio Príncipe das Astúrias.
Portugal continua ostracizado da sua rota pessoal.
Que terríveis segredos estarão aqui enterrados?
Foi só por causa disto que estranhei que lhe tivessem dado já, em vida, uma festa no Panteão Nacional.
Amália Rodrigues, por exemplo, ainda esteve uns tempos no Prado do Repouso antes de ser levada para aquele monumento nacional.

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