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20130507

Camarate à porta fechada

Fernando Farinha Simões esteve hoje de manhã na Assembleia da República para testemunhar sobre Camarate. Mas, segundo me informou há pouco num telefonema, via o seu advogado, desde a prisão de Vale de Judeus, recusou-se a acrescentar dados para além daqueles publicados há um ano na carta colocada no YouTube. E explicou porquê: a sessão foi à porta fechada, contra a sua vontade. Os deputados quiseram que a sessão fosse à porta fechada, mas Fernando Farinha Simões não se sente protegido para avançar com mais dados sobre a morte do primeiro-ministro Sá Carneiro e do ministro da Defesa, Amaro da Costa, caso não possa falar livremente em público para o maior número possível de testemunhas. Daí exigir que a AR, como casa de Democracia e de transparência, o deixe falar à porta aberta. Acrescentou ainda que, quando um deputado do PSD o confrontou com o facto de ele ser o "assassino" de Sá Carneiro, Farinha Simões respondeu-lhe: "Assassinos são vocês, que andam a matar o povo à fome". Assim, 30 anos depois de Camarate, ainda há medo em conhecer a verdade. Mas, esse medo já não parte dos autores do caso. Parte agora dos deputados e, ainda, dos jornalistas. Estive presente esta manhã na AR para poder ouvir o testemunho de Fernando Farinha Simões. Falei com o presidente da comissão, o deputado Matos Rosa, e disse-lhe que estaria na sala não como jornalista, mas como autor de um livro sobre o caso e antiga testemunha da mesma comissão. Ele compreendeu o pedido, mas não podia autorizar, pois corria o risco de estar a abrir uma excepção. Não vi por ali nenhum jornalista e, à saída do edifício, reparei num carro da RTP estacionado no parque reservado aos órgãos de Comunicação Social. Não creio que a equipa da televisão do Estado estivesse lá para acompanhar os trabalhos da comissão que anda a investigar a morte do primeiro-ministro e ministro da Defesa, mas sei que, na RTP, há um ano que existem entrevistas que Farinha Simões e José Esteves deram à jornalista Sandra Felgueiras e que continuam inéditas. Talvez hoje, dia em que a Democracia funcionou à porta fechada, a RTP pudesse fazer jornalismo e fosse buscar essas entrevistas e explicasse ao povo português aquilo que anda a ser escondido. Mas isto, claro, seria pedir muito aos jornalistas do canal público.

6 comentários:

  1. É claro que é pedir muito, os jornalistas não querem ser despedidos, ou sabe-se lá mais o quê... E como não são imaginativos, não sabem como contornar esse problema.

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  2. A comissão também é mais uma para fazer de conta. Percebo que só falando em público é que irónicamente pode ser mais seguro. Na comissão, à porta fechada sabe-se lá o cambão que combinam consoante as conveniências, é realmente um drama trágico-cómico de tanta hipocrisia e vergonha.

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  3. Que vergonha...

    (Vergonha, que os políticos e jornalistas, obviamente, não têm...)

    Qual é que foi a justificação para o inquérito ser à porta fechada?

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  4. Também (e sei que o autor deste blogue só responderá se achar que tal se justifica) não percebi a parte em que diz que "segundo me informou há pouco num telefonema, via o seu advogado, desde a prisão de Vale de Judeus"...

    (Se quis isto dizer que foi Farinha Simões acompanhado, na sua deslocação à AR, desde a prisão, pelo seu advogado?...)

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  5. E uma outra coisa, a propósito da filmagem da carta, colocada no YouTube...

    Venho só avisar que: quis, há uns dias atrás, partilhar, com alguém interessado, o vídeo original onde tal aparecia, mas o mesmo (por uma qualquer razão) não está mais disponível...

    Contudo, consegui encontrar um outro vídeo, para onde alguém copiou excertos do original: http://www.youtube.com/watch?v=51WVWWIemiQ

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  6. Viriato Portucalle16 maio, 2013

    Frederico,

    Leia este "artigo" do JN, por favor:
    http://www.jn.pt/PaginaInicial/Seguranca/Interior.aspx?content_id=3222268#AreaComentarios

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