Mário Soares, fundador do PS (1973), ministro dos Negócios Estrangeiros (1974-1975), primeiro-ministro por duas vezes (1976-1978 e 1983-1985), Presidente da República por duas vezes (1986-1996), eurodeputado (1999-2004), candidato derrotado a um terceiro mandato a Belém (2006) e presidente da fundação com o seu nome, resolveu agora encabeçar um manifesto onde defende que "é o momento de mobilizar os cidadãos de esquerda que se reveem na justiça social e no aprofundamento democrático como forma de combater a crise". No dia 6 de Novembro de 1975, naquele que foi um dos mais importantes debates políticos em Portugal após o 25 de Abril de 1974, o líder comunista, Álvaro Cunhal, olhou Mário Soares nos olhos e explicou-lhe o que era uma revolução: "Uma revolução faz-se por alguém e, naturalmente, contra alguém". E Cunhal concluiu a ideia ao esclarecer que "não se pode fazer uma revolução se os órgãos de poder têm representantes desse alguém contra quem é feita essa revolução". Mário Soares, como bom democrata que é, também fitou o líder dos comunistas nos olhos e retorquiu que Álvaro Cunhal não podia excluir a vontade majoritária da população que votara a 25 de Abril de 1975 para a Assembleia Constituinte e dera apenas 15 por cento aos comunistas, enquanto o PPD de Sá Carneiro - que Cunhal queria excluir da governação - tivera mais de 20 por cento. E o líder do PC respondeu com o exemplo das perseguições aos membros do seu partido nos Açores: "Naturalmente, nestas condições, temos uma fantochada eleitoral nos Açores e depois apresenta-se o resultado majoritário daqueles que recebem os votos. Nós queremos eleições, mas não queremos essas eleições". Nos Açores, nessa mesma noite, fora assaltada, pela primeira vez, uma sede do PS, ao que o líder dos comunistas, sempre arguto, comentou: "O PS soprou bastante fogo anticomunista que ateou um pouco as chamas em que arderam as sedes do PCP, mas, enfim, talvez com a direita reaccionária fascista, dos ELP ao MDLP, de outros sectores, enfim, com a ultradireita, chegue o dia em que os próprios socialistas, que, no momento, parecem inclinar-se, na prática, objectivamente, para uma aliança com as forças da direita, acabem por ser vítimas dessas forças de direita". Álvaro Cunhal sabia que os atentados à bomba vinham da direita. Nessa noite, na Rua da Emenda, José Esteves - o presumível autor da bomba que, cinco anos mais tarde, mataria Sá Carneiro - lançou uma granada chinesa contra a sede do PS enquanto decorria o debate. "Foi Mário Soares quem pediu que fosse atacada a sede do PS", contou-me há dias o autor da façanha. O mesmo José Esteves fora um dos fundadores de uma organização terrorista que ficaria conhecida como CODECO e actuava como braço armado do CDS. José Esteves, quando foi preso pela GNR, a 18 de Novembro de 1975, era motorista de Freitas do Amaral (que esteve coligado com Mário Soares entre 1977 e 1978 e foi depois ministro dos Negócios Estrangeiros do "socialista" José Sócrates). Dias depois da eleição do actual governo de Passos Coelho, Mário Soares encontrou-se com um velho amigo: o ex-embaixador da CIA em Portugal, Frank Carlucci. Responderam com imensos sorrisos aos jornalistas embebecidos que não havia problemas neste nosso jardim, pois a democracia delineada nas águas-furtadas da residência norte-americana à Lapa, em 1975, ainda estava a funcionar. Apesar da subida do PC nas eleições e a descida do PS, o PSD - agora sem o incómodo Sá Carneiro - e o CDS (liderado por um ex-militante social-democrata), assumiam a matemática e previsível alternância "democrática". O 1089. Sendo assim, a próxima revolução não pode contar com Mário Soares, pois é precisamente contra Mário Soares e seus amigos "republicanos" e "democratas" que esta terá de ser feita.
Ver aqui o debate Soares-Cunhal, a 6 de Novembro de 1975.
Reportagem de Mário Crespo, da SIC, sobre o reencontro de Soares com Carlucci...
«José Esteves - o presumível autor da bomba que, cinco anos mais tarde, mataria Sá Carneiro - lançou uma granada chinesa contra a sede do PS enquanto decorria o debate. "Foi Mário Soares quem pediu que fosse atacada a sede do PS", contou-me há dias o autor da façanha.»
ResponderEliminarQuem duvide que os nossos líderes ocidentais são capazes deste tipo de "atentados de bandeira falsa", em que engendram ataques às suas próprias instalações, para com isto gerar uma onda de simpatia e de apoio às suas acções, têm um outro exemplo recente do mesmo tipo de ataques a ocorrer na Europa aqui.