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20090918

O e-mail dos jornalistas do "Público" é falso! (e explico porquê com todos os detalhes)

Estive a ler a transcrição do alegado e-mail dos jornalistas do "Público" que o "DN" tornou hoje "público". Cheguei à conclusão de que aquele e-mail é completamente falso, fabricado por alguém totalmente alheio ao ofício de jornalista. Deixo aqui a cópia da transcrição com os comentários que explicam a razão de tal conclusão(comentários a negro):

De: Luciano Alvarez
Enviado: quarta-feira, 23 de Abril de 2008 14:18 (Dia 23 de Abril de 2008, uma quarta-feira, dois dias antes do feriado do 25 de Abril, data em que Cavaco Silva discursou na AR e apresentou um inquérito encomendado por Belém sobre os jovens não ligarem nada à política. Logo, o assessor tinha mais do que fazer. Diga-se também que nenhum jornalista que se preze está numa redacção a esta hora, pois estão ainda a almoçar. Muitos deles com assessores...)

Para: José Tolentino Nóbrega

Assunto: Lê (O assunto... "Lê" é uma ordem, um comando. Deveria ser acompanhada, no mínimo, por um "S.F.F.")

Caro Tolentino
Vou fazer esta conversa por e-mail e não por telefone porque a situação é tão grave que é melhor não correr riscos de ser escutado (Ok. Não vai por telefone, nem via fax ou por sinais de fumo. Mas, hoje em dia, também há maneiras de ter acesso a e-mails... Se o caso era assim tão importante e implicava riscos de escutas, não seria melhor fazer uma viagem à Madeira ou pedir ao correspondente que fosse até Lisboa para uma reunião pessoal?...).

Como verás mais à frentenem os homens do Presidente da República arriscam a falar dela por telefone. Pode ser paranóia da parte deles, mas a verdade é que é melhor não correr riscos. (Ah! Os paranóicos são os outros, mas aqui o jornalista, que não é paranóico, também acha melhor não falar ao telefone e, por isso, conta tudo, tintin por tintin, em e-mail. E, repara-se, é para evitar riscos. Mas, quais riscos? Será que é para depois não haver dúvidas sobre o que ele disse em vez de contar com uma qualquer transcrição telefónica, ilegal e cheia de gralhas de um qualquer tipo do SIS ou lá que o valha? Aliás, viu-se bem para que serviu não correr riscos...)

Primeira advertência: lê este mail sentado. (Esta tirada faz lembrar a carta que Otelo Saraiva de Carvalho mandou a Vasco Gonçalves pedindo-lhe que se sentasse antes de ler a missiva e que depois meditasse sobre o assunto. Mas, desta vez, acho que não foi o Otelo quem escreveu a mensagem)

Secunda advertência: a história não vai ser fácil de fazer, mas se a conseguir-mos pode ser a bomba atómica. (As gralhas e os erros juvenis de ortografia são indicadores de que este e-mail nunca poderia ter sido concebido por um jornalista. E, novamente, se o assunto era assim tão "explosivo" e secreto, o que impediu o jornalista de ir à Madeira falar pessoalmente com o camarada ou por que não chamaram o correspondente a Lisboa? Contenção de despesas? Pois, como o Belmiro anda a cortar nas despesas, depois acontecem estas confusões...)

Vamos por partes
1- Na noite de terça-feira o Fernando Lima, do PR, telefonou-me a dizer queprecisava de falar comigo hoje de manhã num local discreto. Encontramo-nos hoje às 9 h da manhã num café discreto na avenida de Roma (Aqui é de ir ao tecto! Lima, a dois dias do discurso de Cavaco na AR pede um encontro de urgência para um assunto que ainda vai ter de ser investigado? E, depois, se Lima não confia nos telefones, por que marca o encontro pelo telefone? E por que foi escolhida a Avenida de Roma, uma das zonas mais movimentadas da capital, como local "discreto"? Lima e Alvarez não são propriamente a Luciana Abreu nem o Djaló, mas para alguém do mundo da política e dos serviços secretos, Lima é bastante conhecido e perfeitamente identificável. Depois, o encontro foi nessa manhã e o jornalista , às 14.18, já estava a mandar e-mails para a Madeira sem ter verificado com outras fontes o assunto que lhe foi passado?)

e foi logo direito ao assunto, estava ali a falar comigo a pedido do presidente da república, que o assunto era grave e que tinha escolhido escolhido falar comigo porque me achava um jornalista séria (isto seria a dar-me graxa) e porque o acha a presidência da república que o PÚBLICO é o único jornal português que não está vendido ao poder. (Mas, que necessidade tem o Alvarez de transmitir todos estes detalhes ao Tolentino por escrito? Que necessidade tem para a história estas explicações?)

2- O assunto era o seguinte (estás sentado?): o presidente da república acha queo gabinete do primeiro-ministro o anda espiar e que a prova grande disso tinha sido dada na Madeira onde o primeiro-ministro tinha enviado um tipo que trabalha para o MAI só para espiar os passos do Presidente e dos homens do seu gabinete. (mesmo que seja mentira o que não passe de uma paranóia do PR estás a ver a gravidade do facto do o presidente pensar que o PM o anda a espiar). Está a ver como estarão as relações entre eles e a opinião que o PR tem do PM) (Agora imagino o pobre do Tolentino, sentado, a ler este e-mail... Ele deveria ter pensado que não são só os tipos da Presidência da República que estão paranóicos: os seus camaradas em Lisboa também não devem andar a raciocinar bem... Então se o PM anda a espiar o PR, acham que isso comprova-se através de um tipo que vem para a Madeira, às claras, no seio de um comitiva presidencial, e que, ainda por cima, está perfeitamente identificado com o MAI?. Coitado do Tolentino se alguma vez teve mesmo de ler este e-mail...)

3- Depois entregou-me um dossier sobre um Rui Paulo da Silva Figueiredo que é adjunto jurídico do PM, trabalha para o MAI, já passou pelos gabinetes de diversos ministro e, segundo o Fernando Lima, terá tentado entrar para o SIS mas chumbou. (Prontos! Está aqui a "assinatura" de quem encomendou esta confusão. Foi alguém dentro do SIS, pois só alguém dentro do SIS é que poderia saber que determinada pessoa concorreu ao SIS e chumbou... Não é suposto que um assessor do PR saiba isto excepto se não tiver sido o SIS a dizer-lhe isto...)

4- Este tal Rui Paulo acompanhou a visita do PR, não se sabe como e e segundo o Lima “procurou observar”, o mais por dentro possível, os passos da visita do Presidente e o modo de funcionamento interno do satff presidencial”. Ao satff do PR terá percebido isso bastante cedo e redobrou os cuidados. (Mais uma vez, imagino Tolentino a interrogar-se sobre as capacidades mentais do Alvarez e a interrogar-se sobre o fundamento da história e o que, afinal, querem dele...)

5- Estou a contactar-te porque esta história, que pode ser uma bomba ou não dar em nada, tem de começar pela Madeira com todo o cuidado e porque sei que posso contar com a tua discrição e habitual profissionalismo (isto não é graxa). (Aqui o Tolentino deveria ter ficado doente do estômago...)


6- O Lima garantiu-me que Esta tal Rui Paulo foi colocado na mesa dos assessores do PR no jantar oferecido pelo Representante da República no Palácio da São Lourenço e foi também convidado para o jantar que o Jardim ofereceu no último dia na Quinta da Velga. Isto é verdade e facilmente confirmável. (Sim... E?)

7- O Lima sugere e eu acho bem duas perguntas para inicio do trabalho (até porque a eles também lhe interessa que isto começa na Madeira para não parecer que foi Belém que passou esta informação , mas sim alguém ligado ao Jardim) (Aqui o Tolentino, se é que alguma vez leu este e-mail, deveria ter pensado em mandar os camaradas de Lisboa às malvas, pois estaria a arriscar numa história que lhe passava completamente ao lado e que, ainda por cima, era sugerida pela Presidência da República. Por muito que isso até pudesse agradar ao PSD e ao presidente Jardim, seria sempre o nome do jornalista que, em última análise, estaria no cepo)

8- Perguntas sugeridas pelo Lima: Perguntar à dr. Helena Borges, chefe do gabinete do representante da república se o conhece e se é verdade que, no jantar oferecido pelo representante no Palácio de São Lourenço ele ficou na mesa dos assessores do PR (a gente já sabe que é verdade mas vamos fingir que não sabemos) e Porque ficou ele neste mesa sem antes ser dado conhecimento ao staff do PR. 2 Pergunta: Perguntar a Paulo pereira, responsável pela informação do gabinete do Jardim, em que qualidade o tal Rui Paulo foi convidado para o jantar que Jardim ofereceu no último dia na Quinta de Veiga. ("Pois", pensou Tolentino, "Vão mesmo às malvas")

9- Agora digo eu: quem meteu este tipo na visita e em que comitiva é que ele entrou. (E que tal, por exemplo, perguntar isso oficialmente ao Lima?)

10- Como já te disse isto tudo pode ser paranóia dos do PR e do Lima, mas, mesmo sendo paranóia, não deixe de ser grave que o PR pense isto e que ande a passar a informação ao PÚBLICO manifestando uma grande vontade de a história vir ao público (estás a ver a bronca). Acho também que se nós conseguirmos que houve um tipo do MAI e do gabinete do PM metido à sucapa na visita do PR já é um inicio da história. (Então por que razão é preciso ir meter o tipo da Madeira a fazer perguntas?)

11- O Lima sugeriu-me que tratasse com ele (Lima) desta história por e-mail porque estão com medo das escutas. (Mais uma vez, um conselho que uma pessoa com a experiência de Fernando Lima nunca poderia dar...)

12- Esta história só é do conhecimento do PR, do Lima, minha, do Zé Manuel Fernandes (que me pediu para não a contar a ninguém por enquento, mas que eu tenho que ta contar para tu te pores em campo com o conhecimento total do que estamos a falar). Peço-te por isso toda a discrição. (E, se algum dia alguém encontrar este e-mail, nega tudo. Aliás, engole esta mensagem se mesma não se auto-destruir em 10 segundos)

13- O Lima passou-me um dossier completo sobre este Rui Paulo. (Fixe. Fica com ele...)

14- Eu estou de folga, vim só ao jornal tratar disto e vou para casa. Estou sem computador em casa (a minha mulher levou-mo para o trabalho). Quando acabares de ler o e-mail pudemos falar por telefone. (Está de folga, mas às 14.18 ainda foi à redacção depois de ter tido um encontro às nove da manhã na Avenida de Roma e, como disse no e-mail, já falou com o director que, eventualmente, o mandou contar tudo, tintin por tintin, ao correspondente na Madeira. Já é mais de meio-dia de trabalho... Depois, no início do e-mail explica por que não devem falar pelo telefone, mas como lá em casa só há um computador - e pelos vistos o Alvarez não tem ainda e-mail no telemóvel nem um computador que possa pedir emprestado na redacção-, pede então para falarem mais tarde sobre o assunto explosivo pelo... telefone?!)

Um abraço e vai-te a eles (Esta última expressão, estilo exército, permite então concluir que o e-mail é falso e criado apenas com o intuito de deixar mal os jornalistas do "Público", pois eles nunca teriam tamanha falta de inteligência em lidar com matérias tão sensíveis. O que vale é que o director do "Público" vai sair para dar lugar à Bárbara Reis - esta última informação não me foi dita por e-mail. Logo, não há registos. Temos pena)

3 comentários:

  1. Isso do PR (ou alguém) achar que «o PÚBLICO é o único jornal português que não está vendido ao poder» só pode ser piada.

    Realmente nem me tinha dado ao trabalho de ler este mail até agora, ele é completamente ridículo do início ao fim.

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  2. Ainda quero ver como o DN se vai safar desta história...

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  3. Desmontagem espectacular, é isso mesmo!

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