O meu querido camarada Carlos Narciso queixa-se da pouca eficácia da greve dos jornalistas do grupo Controlinveste: "Ontem, houve uma greve no 'Diário de Notícias', 'Jornal de Notícias', '24 Horas' e 'O Jogo', títulos do grupo da Controlinveste. Alguém deu por isso? Os jornais saíram na mesma e, na mesma, foram vendidos…".
Carlos, as greves de jornalistas são inúteis nos dias de hoje. Há folhas de alface que podem ser feitas com estagiários não remunerados que copiam notícias da Internet ou reproduzem comunicados de agências de comunicação. Fazem um "Copy-Paste" directamente do ecrã do computador ou de um e-mail sem ir ao rigor da informação, à confirmação da origem ou à escolha criteriosa da verdadeira notícia. Mastigam aquilo e mandam para a paginação, a tempo e horas para o fecho da edição. O problema é que uma greve sem a solidariedade de paginadores e funcionários da gráfica que imprime os jornais, o pasquim acaba mesmo por chegar à rua.
Quem percebeu isso foi o empresário Rupert Murdoch quando, no início de 1986, conseguiu colocar a funcionar uma gráfica própria para imprimir o "The Times" escapando assim à pressão dos sindicatos dos grafistas, afinal o último bastião de solidariedade da luta de quem produzia conteúdos. Isso entrou para história do jornalismo com o tristemente nome de "Wapping Riots" ou "Wapping Dispute"...
Foto daqui.
Os jornais continuam a chegar à rua onde, como há dias nos disse o Fernando Dacosta, não devemos surpreender-nos que vendam cada vez menos mas, face à qualidade do que lá trazem, surpreende-nos é que ainda continuem a vender.
A crise não está na Imprensa face à Internet ou na falta de leitores. A crise está nos jornalistas que acreditam que escrevem para leitores parvos, mas como estes de parvos não têm nada, deixam obviamente de comprar jornais. Talvez seja isso mesmo: são os leitores que há muito fazem greve e ainda ninguém viu isso...
A crise está mesmo nesses jornalistas que há muito colocaram a verdade em greve.
ResponderEliminar