A revista "Pública" de hoje tem uma história que merece o meu aplauso...
A jornalista Margarida Santos Lopes conseguiu um exclusivo mundial ao entrevistar a viúva do Xá do Irão, Farah Diba. Conta a ex-imperatriz que, a 23 de Março de 1980, quando viajava com o marido entre o Panamá e o exílio do Cairo, o avião ficou retido durante algumas horas na base aérea norte-americana nos Açores. Aquelas horas foram de grande dramatismo onde tudo poderia acontecer, pois a administração Carter ponderava trocar o Xá do Irão pelos reféns norte-americanos da embaixada dos EUA em Teerão. No fim, o avião acabou por seguir viagem para o Egipto...
Anos mais tarde, em visita a Portugal, a ex-imperatriz do Irão conheceu um ex-ministro dos Negócios Estrangeiros português, André Gonçalves Pereira, que lhe contou alguns detalhes sobre o caso...
Reportagens deste género são raras no jornalismo de hoje. Investigar casos do passado e dar-lhes honra de primeira página é algo, infelizmente, pouco visto. Por isso, os meus parabéns à minha camarada e aos editores da "Pública". Contudo, não há bela sem senão... Cumpre-me assim registar que há um pequeno erro quando a jornalista escreveu que os reféns norte-americanos ficaram retidos em Teerão durante 144 dias.
Nada disso.
Foram 444 dias. Mais de um ano, portanto. Aliás, foi devido ao facto do assalto à embaixada dos EUA ter ocorrido a 4 de Novembro de 1979 que Jimmy Carter perdeu a reeleição nas eleições de 4 de Novembro de 1980. Os eleitores foram votar no dia em que se evocava o primeiro aniversário do início do cativeiro dos reféns. Estes só seriam libertados a 20 de Janeiro de 1981, poucos minutos após o juramento do novo presidente dos EUA, Ronald Reagan - cujo vice era George Bush pai, que quatro anos antes havia sido despedido da chefia da CIA por Jimmy Carter. A partir desta crise dos reféns nasceu a ideia de que teria havido uma negociação secreta entre elementos da candidatura Reagan/Bush e elementos iranianos para a não libertação dos reféns de modo a enfraquecer Jimmy Carter. Por isso é que não interessava entregar o Xá nos Açores, por isso é que Jimmy Carter teve depois de tentar uma operação militar fracassada a 25 de Abril de 1980.
Lamento ainda que a jornalista não tenha enriquecido a sua história com um simples telefonema, contacto - ou menção de tentativa do mesmo - junto do homem que era o ministro dos Negócios Estrangeiros em exercício naquela noite de 23 de Março de 1980. E nem é difícil saber quem era.
Se bem me lembro, esse mesmo ex-ministro até já abordou publicamente este caso - embora de forma vaga - num programa da RTP emitido no dia 11 de Setembro de 2002, quando declarou que naquela noite foi pessoalmente a casa do primeiro-ministro da altura, Sá Carneiro, que o recebeu de pijama. E quase aposto que durante a próxima semana, quando for editado o segundo volume do livro de memórias desse ex-ministro dos Negócios Estrangeiros, iremos ficar a saber mais detalhes sobre esta história...
Fiquemos atentos...
Também li a reportagem e fiz a mesma pergunta: "Caramba, então ela consegue falar com a ex-embaixatriz do irão e não consegue falar com o nosso Freitas do Amaral?"...
ResponderEliminarRui Janeiro
Ò Rui, não é "ex-embaixatriz", mas sim "ex-imperatriz"... Aliás, uma embaixatriz é menos do que um ministro dos Negócios Estrangeiros, mas um ex-ministro dos Negócios Estrangeiros é menos do que uma ex-imperatriz que é bem mais do que uma ex-embaixatriz, mas que é mais do que um ex-ministro dos Negócios Estrangeiros que nem sequer esteve envolvido no caso...
ResponderEliminarSó hoje aqui parei. Tenho pena de não ter chegado mais cedo. Obrigada pelos elogios e pelas críticas certeiras. Tentarei fazer melhor noutra oportunidade. As falhas não têm justificação. Mas podem ter perdão?
ResponderEliminarMargarida Santos Lopes