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20060223

Toda a História de Portugal em 252 frases

Nasceu uma nova editora em Portugal. É a "Esfera dos Livros", que adopta o nome da original espanhola.
E um dos primeiros livros já à venda é este...




Uma obra que tem a particularidade de ser da autoria de dois jornalistas com quem já trabalhei e com os quais aprendi a aprender, Ferreira Fernandes e João Ferreira...
É, de facto, uma livro de consulta que há muito fazia falta para a biblioteca lá de casa. Parabéns a ambos! Temos ali à mão as explicações para frases que muitas vezes proferimos sem sequer sabermos a sua origem. Ainda me lembro a primeira vez que, por exemplo, ouvi a expressão "Mudam as moscas mas a merda é a mesma!".
A obra procura explicar o melhor possível a origem de algumas frases mais marcantes da nossa História desde a fundação da nacionalidade até aos dias de hoje.
É um divertido e interessante passeio pela História de Portugal em poucas frases (são 252).
Sempre que podem, os autores localizam a origem ou, em casos mais duvidosos, fazem a devida colocação histórica dos personagens presumivelmente envolvidos na origem das mesmas. E note-se que não é um trabalho fácil. Por exemplo, na célebre frase de Sidónio Pais, pouco antes de morrer na Estação do Rossio: "Morro bem! Salvem a Pátria!", faltou explicar que esta frase, na realidade, poderá não ter sido pronunciada pelo Presidente da República nos seus últimos instantes de vida. Seria produto da imaginação fértil do jornalista que a tornou célebre, Reinaldo Ferreira, o não menos famoso "Repórter X". Sidónio Pais teria dito antes de morrer: "Não me apertem, rapazes...". Contudo, pronto, aquela primeira frase ficaria mais digna para História...
Outras haveria para este livro, mas ficaram de fora (que seja um ovo para futuros Colombos, como avisam, e bem, os autores). Ainda assim, não posso deixar de dizer que, para mim, que tanto faz, aquela de Fernando Pessoa sobre a Coca-Cola: "Primeiro estranha-se depois entranha-se", ou ainda uma explicação sobre a célebre expressão de Bocage: "Chamo-me Bocage, venho do Nicola, e vou para outro mundo se disparas essa pistola", podiam ter sido incluídas. E, já agora, sem dúvida, outra que deveria ter entrado era esse grande pensamento: "Prognósticos só no fim do jogo!".
Fiquei, porém, algo desiludido com a explicação da última frase da compilação atribuída a Cavaco Silva: "Nunca me engano e raramente tenho dúvidas". Os dois jornalistas datam a frase no ano de 1990, mas comentaram que "se não foi bem assim que Cavaco disse, cola com a ideia que temos dele, não é?".
Independentemente da opinião que se tenha do professor Cavaco e Silva, fiquei desiludido com a explicação, pois pensei que fosse desta que, finalmente, ficaria a conhecer em que entrevista e em que circunstâncias é que o antigo primeiro-ministro, agora Presidente da República eleito, disse aquela frase que já entrou para a História de Portugal...
"A frase foi publicada como título de entrevista. O próprio, porém, viria mais tarde a dizer que nunca a tinha pronunciado. Seria antes: 'Nunca tenho dúvidas [em tomar uma decisão] e raramente me engano.'". Tudo bem, mas onde é que isso apareceu escrito? Que entrevista foi aquela? Ao contrário de outras fontes devidamente identificadas na obra, esta, infelizmente, não surge com a mesma precisão, o que é uma pena. Mas, no geral, grande trabalho!
Já o tenho na minha biblioteca!

4 comentários:

  1. Desculpa lá, mas aquela história da frase do Sidónio Pais, como sabes que poderá não ter sido assim. Não vi essa explicação em mais nenhum lado...

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  2. bem te podiam ter oferecido um livrito...

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  3. Rui, de facto não parece haver muita informação. Mas aquilo que sei, li num texto de António Valdemar que serve de prefácio a uma edição brasileira do livro "Memórias de um ex-Morfinómano".

    Carlos, acho que só não ofereceram porque ainda não tiveram tempo de o fazer. Eu é que não resisti e comprei-o mal o vi. Mas confesso, se tivesse sabido que aquilo do Cavaco estava assim, era capaz de esperar pela oferta...

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  4. Viva.
    Pedro Foyos, no recente "O Nosso DN. Memória do Tempo", repesca o texto do Rocha Júnior, no qual o veterano repórter contou, para grande escândalo da época, a saga de Reinaldo no dia da morte de Sidónio. Chegou à redacção de O Século e contou a Belo Redondo que Sidónio dissera apenas: "Não apertem, rapazes." Acharam a frase fraca. Reinaldo, sempre pronto para a chalaça, propôs: "E se ficar 'Salvem a Pátria'"?
    Belo Redondo ainda a achou seca. "Pronto: 'Morro bem. Salvem a Pátria.", inventou Reinaldo.
    E todos aceitaram.
    O Rocha Júnior publicou esta memória no DN...
    Abraços

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