Há censura em Portugal.
Hoje, dia 24 de Fevereiro de 2006, (32 anos e dois dias depois da edição do livro "Portugal e o Futuro", que deu origem a uma revolta militar) há censura em Portugal.
O que mais escandaliza a situação é que a percepção da mesma está perfeitamente enraízada na mente das pessoas, contudo continua a ser negada publicamente.
Esta forma de censura é oculta e foi perfeitamente identificada em 1987 através de uma tese de doutoramento em Sociologia da Comunicação. Naquele ano ainda não trabalhava como jornalista, porém já me interessava pelo assunto. Nos anos seguintes, quando fui apreender (sim apreender, não aprender), acreditei nos professores que diziam que a censura acabara depois do 25 de Abril de 1974 e agora havia uma Imprensa livre em Portugal.
Acreditei neles, coitado de mim.
A tese que contradiz esta posição anda longe do alcance do público em geral. Só está disponível para cópia na biblioteca do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa - ISCTE.
É da autoria do sociólogo José Paquete de Oliveira.
A dada altura do trabalho são revelados excertos de partes mais significativas de depoimentos de jornalistas durante a realização da tese.
Isto data de 1987.
E não podiam estar mais actuais...
Certos leitores deste blog não conhecem os meandros do jornalismo, mas garanto-vos que todas aqueles depoimentos poderiam ser recolhidos hoje mesmo em muitas redacções pelo país.
Alguns, temo bem, seriam muito mais graves.
Mas um exemplo prático de censura nos dias de hoje que está perfeitamente identificado é sobre a verdadeira história da mudança de governo em Portugal de Durão Barroso para José Sócrates, com Santana Lopes pelo meio.
Uma história que ainda está por contar, pelo menos nos jornais de referência, aos quais chamo de "reverência", pois a história surgiu na edição de 30 de Dezembro de 2005 do "Semanário" .
Na capa há duas fotos. Uma de Santana Lopes e outra de José Sócrates. As fotos foram obtidas em Junho de 2004, quando ambos participavam no encontro anual do Clube de Bilderberg, em Itália.
Santana ainda era presidente da câmara e Sócrates um simples deputado. Durão Barroso era então o primeiro-ministro de Portugal e ainda não tinha havido as eleições Europeias de 13 de Junho e ainda não tinha começado a febre das bandeirinhas da selecção nacional de futebol durante o Euro2004.
A história "morreu" ali. Nenhum outro órgão de Comunicação Social deu seguimento à história. Não houve repercussão noticiosa que se exigia face às denúncias.
Houve censura.
É uma censura especial esta que não se vê, conforme surge escrito no primeiro depoimento da tese de 1987: "A censura antes era oficial, mas dava a cara, a chancela; agora é covarde: corta-se a frase alegando que não há espaço ou por causa do anúncio".
Em 2006 é mais grave: corta-se toda uma página ou mesmo duas. Corta-se o direito a que as pessoas sejam informadas.
Os jornalistas informam-se, sim. Eles sabem que houve aquele encontro em Itália e sabem bem que Sócrates foi "entrevistado" para poder vir a ser primeiro-ministro de Portugal. Agora, o público em geral é que não é informado sobre isso. Esta é a censura que nos é imposta.
"Os media nem sempre têm sucesso em dizer às pessoas o que devem pensar, mas... têm ao dizer-lhes nos assuntos que devem pensar", frase de Bernard Cohen muito utilizada no meio académico que se dedica aos estudo da Comunicação.
Para saber mais sobre o que não lhe dizerm, continuem a vir a este blog. Leiam, já agora, este número da revista gratuita da função pública.
Também ela, não teve espaço de repercussão noticiosa nos órgãos de Comunicação Social que marcam a "agenda" do dia.
E, já agora, experimentem pedir este livro numa livraria. Vejam qual o destaque que o mesmo tem na exposição para venda, isto apesar de ser uma novidade e de ter sido editado pela mesma casa que já publicou a biografia de Cavaco Silva e de Álvaro Cunhal.
Perguntem a vocês mesmos por que a editora não apostou mais na divulgação da obra.
Porque não publicou no livro as fotos que fazem a primeira página do "Semanário", visto terem sido disponibilizadas pelo autor do mesmo?
Isto tudo está-vos a ser escondido.
Estão-vos a sonegar informações!
Revoltem-se!
Afinal, o 25 de Abril ainda só foi há 32 anos.
É mais novo do que eu...
...
ResponderEliminarQue comentários amargos... Será que estão incomodados com o que o Frederico foi buscar?
ResponderEliminarEu sou jornalista em Portugal, e digo-vos apenas que nunca houve tanta censura neste país como no Portugal de Abril.
A IV República está próxima!
Obviamente que há censura total e a todos os niveis.
ResponderEliminarO medo do desemprego é brutal.
O Frederico é um lutador responsável e consciente.
Sabe o que diz e o que escreve.
Nunca se vendeu, e já sofreu na pele, na alma, no estomago e nas algibeiras o preço da sua liberdade interior e sentido critico vertical.
MC