Em Abril de 1995, por mote próprio e com dinheiro emprestado pela minha avó, fui à Rússia entrevistar alguns antigos agentes do KGB.
Propus depois o texto a vários jornais e revistas, entre estas últimas, a "Grande Reportagem" e a "Visão".
A "GR", na altura mensal e dirigida por Miguel Sousa Tavares, mostrou-se interessada. Depois, a "Visão", semanal, dirigida por Cáceres Monteiro, também demonstrou o seu interesse.
Ainda não tinha tomado a decisão sobre a quem venderia o trabalho quando recebi um telefonema da "Visão" a dizer que queriam falar comigo pessoalmente e rumei a Lisboa - na altura vivia no Porto.
Foi no dia seguinte ao incêndio na redacção da "Visão", na Avenida da Liberdade.
A minha peça tinha sido uma das que se perdera e acabei por me reunir com Cáceres Monteiro junto dos computadores carbonizados.
Ele estava notoriamente cansado com o sucedido e, numa missão digna de herói, conseguira garantir a saída da revista a tempo. O meu texto seria apenas para umas edições mais tarde, mas interessava-lhe desde logo garantir a minha peça jornalística.
E lutou por isso: "Mas porquê publicar na 'GR'?! Só porque tem bom papel e anúncios na TSF?", foi um dos argumentos para convencer-me a vender a história para a sua revista. Na realidade, a "GR" era bem mais atractiva, uma vez que naquele tempo dizia-se que bastava publicar uma reportagem na "GR" para se ser considerado um bom jornalista e nunca mais precisaria de fazer nada na vida para o provar... E, de certo modo, olhando para o jornalismo que se faz nos dias de hoje, era verdade...
Acabei, porém, por ceder aos argumentos de Cáceres Monteiro porque, para além de me pagar o mesmo que pagaria a "GR", ainda garantiu que poderia, mais tarde, colaborar com a "Visão" no Porto. E como a revista era semanal... mais hipóteses haveria de colaborações.
A reportagem saiu no Verão, quando me encontrava em Angola, onde estive dois meses. Quando regressei a Portugal tentei contactar Cáceres Monteiro para propor histórias sobre Angola e combinar textos a partir do Porto.
Nunca respondeu às minhas chamadas.
Três anos mais tarde cruzámo-nos no corredor do edifício da Edipress, no Marquês de Pombal. Eu acabara de entrar para os quadros do "Tal&Qual" em Lisboa e a "Visão" passara a fazer parte do mesmo grupo editorial, a funcionar num edifício comum.
Ele reconheceu-me e foi óbvio o embaraço pela promessa nunca cumprida.
Eu, magnânimo, desculpei-o.
E hoje digo-lhe que o perdoo, pois tenho a agradecer-lhe a lição de não confiar em toda a gente com uma história pública impecável...
Ele foi a minha primeira desilusão, e só por isso estou-lhe agradecido.
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