Gostei de ler na entrevista a Mário Soares que a "Visão" ontem publicou - da responsabilidade de Áurea Sampaio e Paulo Pena - uma pergunta que há uns dias lembrei que deveria ser feita - não, não é ainda aquela sobre o inquérito parlamentar que nunca se chegou a fazer ao tráfico de armas norte-americanas por Lisboa no tempo do Bloco Central (PS/PSD) -, mas sim a contradição entre o que Soares disse sobre Cavaco há dois anos e aquilo que afirmou quando se candidatou novamente a Presidente da República: "Disse que Cavaco não tem perfil nem formação humanista para Presidente. Mas, há dois anos, quando o convidou para a casa-museu da sua família, em Cortes, afirmou que ele era um bom candidato. Em que ficamos?" E a resposta de Soares foi: "Era anfitrião desse convite. Cavaco Silva foi lá, sem levar qualquer dinheiro, como todos os outros. Foi gentil. Os jornalistas estavam ali todos, e eu, perguntado, disse que ele seria um bom candidato da sua área política. Não há contradição nenhuma. É evidente que ele é um bom candidato. É um bom técnico mas não tem formação humanista. Falta-lhe flexibilidade. É um homem um pouco rígido e, provavelmente, não é um homem com a preocupação do diálogo. Não gosta da controvérsia, de debater, de convencer".
A única contradição que encontro nesta resposta de Soares é o facto de há dois anos saber que Cavaco era um indivíduo sem formação humanista e que não gosta de controvérsia, de debater e de convencer, mas, ainda assim, pensou nele e deu-lhe um palco de destaque mediático e sorriu ao seu lado para as câmaras. Deve ter sido porque Cavaco não cobrou em dinheiro. Vê-se agora que a "paga" foi de outra ordem. E assim vai ser até Janeiro.
P.S. Jorge Sampaio diz que falou com todos os candidatos a Presidente da República antes de marcar a data das eleições, 22 de Janeiro. Mas, agora pergunto, quais candidatos? Neste momento ainda se procede à recolha de assinaturas e acho que ainda não há qualquer candidatura formalmente constituída junto do Tribunal Constitucional. Então e aqueles cidadãos que, sem qualquer apoio de estruturas partidárias e sistematicamente ignorados por uma Comunicação Social seguidista, que também já anunciaram publicamente a sua intenção em avançar e ainda estão a recolher assinaturas, será que foram igualmente ouvidos em conformidade?
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