A pergunta "Para que serve um presidente?", é o título da crónica de António Barreto no "Público" deste domingo.
Todos nós sabemos que só Cavaco Silva ou Mário Soares têm reais hipóteses de chegarem à cadeira mais alta no poder português. São dois políticos bem identificados com o actual sistema de partidos e que tiveram de vencer lutas internas que poucos teriam escrúpulos para as viver. Ambos candidatos partilharam responsabilidades na génese da actual situação que tanto criticam, mas irão na mesma, sem qualquer pudor democrático, enfrentar eleições devidamente "maquilhados" pela Imprensa seguidista.
Dizem-se republicanos, contudo a pose que assumem para a conquista do voto popular é a de um Rei, como se pode conferir no mesmo diário, na crónica assinada por Mário Mesquita, onde se lê: "(...) a SIC Notícias que, em momento de euforia televisiva, fez questão de acompanhar, com as suas generosas câmaras, o percurso de Sua Majestade, Cavaco Silva, da residência da Rua do Possolo ao Centro Cultural de Belém". E ainda, no mesmo "Público", o líder do PCP, Jerónimo de Sousa, embora caricaturando, colocou a imagem tal como ela está a ser pintada ao dizer que Cavaco é um "D. Sebastião do século XXI".
Está visto: este bravo povo português quer é um Rei, como aquele que Jorge Sampaio visitou recentemente na Bélgica durante a sua última visita de Estado em fim de mandato.
Acabou-se a discussão e, Vital Moreira, é melhor terminar já com essa comissão para a celebração dos 100 anos da República, pois cheira-me que a coisa não vai chegar até lá!
Portugal é uma país habitado por gente que, bem lá no fundo, anseia pela ordem democrática que só a monarquia poderá dar. Como os nossos vizinhos espanhóis conseguiram fazer...
António Barreto bem que tentou explicar para que serve um presidente: "Se for livre e quiser, o Presidente tem meios ao seu alcance. Pode não promulgar leis. Pode não aceitar nomeações. Pode advertir os governos e o Parlamento. Pode dissolver a Assembleia. Pode impôr condições para formação de governos. Pode impor processos de feitura de leis mais competentes. Pode exigir leis mais bem elaboradas e justificadas. Pode mandar estudar problemas e retirar conclusões. Pode publicar livros brancos com recomendações políticas. Pode enviar repetidas e contudentes mensagens ao Parlamento. Pode designar as instituições que não cumprem os seus deveres. Pode impedir negócios estranhos. Pode isso e muito mais. E será tanto mais eficaz quanto o fizer com o povo como testemunha. Isto é, se agir diante dos cidadãos, às abertas. Se não for um covarde que, com receio de ser contrariado pelo governo ou pelo Parlamento, prefira o silêncio ou a reserva. Se trocar as conversas semanais, discretas e alcatifadas, do Palácio de Belém, com o primeiro-ministro, pelo espaço público. Se for claro, concreto e preciso. Se a população perceber o que denuncia e o que propõe. Se assim for, talvez não se trate de mais uma eleição perdida".
Troque-se neste texto de António Barreto a palavra "Presidente" por "Rei" e teríamos a solução para Portugal... Pois um Rei iria ser livre dos partidos. Ele iria ser o testemunho do povo, desta brava gente lusitana.
Quanto ao próximo Presidente da República, venha ele a chamar-se Soares ou Silva, sabemos bem de antemão que nunca irá ser um "Rei" livre, pois qualquer um deles tem muitos segredos escondidos e estará sempre a ser manipulado pelos partidos. Só iremos mesmo votar para a eleição do Presidente da República para se concretizar a ilusão de que há Democracia em Portugal, e que qualquer um de nós pode ambicionar vir um dia a ocupar o mais alto cargo da nação mesmo sabendo que isso não é verdade. Pobre país este que aceita viver da mentira...
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