Páginas

20050901

A idade não é um problema. O problema é o que fazemos com ela...

Em Portugal, a idade é um impeditivo legal para que alguém possa ser candidato à Presidência da República. A lei diz que só cidadãos com mais de 35 anos é que podem concorrer ao cargo. Significa que eu, com 33 anos feitos há dias e que votei pela primeira vez na minha vida nas eleições de 1991, há mais de 10 anos, e que já exerci o meu direito e dever democrático ao ter votado nas duas últimas eleições presidenciais, ainda assim não tenho a idade legal para ter o direito democrático de poder ser candidato à Presidência da República. Por isso, ao contrário de Manuel Alegre que disse não concordar com a opção de Mário Soares, mas que ainda não decidiu se irá ou não ser candidato, os portugueses que fiquem desde já a saber: não serei candidato à Presidência da República, pois ao contrário de Mário Soares, a minha idade não o permite...
Não quero com isto criticar o facto de que Mário Soares, aos 81 anos, está velho e que a idade é um factor menos positivo. Não. Manoel de Oliveira, por exemplo, que apresenta mais um filme na edição deste ano do festival de cinema de Veneza, tem 96 anos e os últimos 18 filmes, desde "Os Canibais", passando pelo "Non", "Vale Abraão", "Viagem ao Princípio do Mundo", "A Carta" ou o "Je Rentre à la Maison" foram realizados já depois de ter cumprido 80 anos.
Aliás, quando estive na Venezuela, em 1994, fui assistir à tomada de posse do presidente Rafael Caldera, eleito com 77 anos e que liderou uma coligação de partidos independentes para evitar uma guerra civil. Caldera já tinha sido presidente da Venezuela entre 1969 e 1974 e voltou a liderar os destinos do país entre 1994 e 1999.
Ronald Reagan, com 73 anos, ainda foi recandidato à presidência dos EUA, em 1984, e ficou famosa a fresca observação feita durante um debate eleitoral ao dizer que não iria aproveitar a pouca experiência do seu opositor como argumento político!...
Também Mário Soares deu ontem a sua piadinha ao dizer que a sua candidatura poderia servir de estímulo aos mais idosos...
O que verdadeiramente me preocupa são os "velhos" amigos de Soares: Pessoas que ainda hoje mandam nos destinos do mundo, que manobram as democracias à distância, como um Henry Kissinger (82 anos), Frank Carlucci (75 anos) ou até o papá Bush (81 anos) - Soares é compincha!, pois até exibiu um convite para a festa dos 80 anos de Bush pai, no Texas, no mesmo programa de televisão onde também já disse que não seria candidato novamente...
Não é a idade em si que preocupa na solução Soares, mas sim tudo o que ele já fez com aquela idade e aquilo que temo que possa ainda vir a fazer...
Vejam o blogue que criei há uns tempos - é o primeiro link ali ao lado, o "filme" do fim da democracia - para perceberem o que quero dizer...
Soares tem tiques monárquicos, mas diz-se republicano. Os portugueses deveriam perceber o perigo que é uma pessoa assim, pois não há nenhum mal em ser-se monárquico. O verdadeiro mal é ser-se um monárquico envergonhado e complexado, que é o que Mário Soares é. Ele diz-se amigo do povo, mas depois tem nojo do mesmo, sobretudo quando almoça e janta nos salões do poder dá ordens aos empregados...
Por outro lado, também me preocupa o facto de muitos dos jornalistas de hoje serem jovens. São eles que poderão sentir-se tentados a questionar a questão da idade de Soares, quando não deveriam fazê-lo, pois falta-lhes uma pequena qualidade jornalística: a memória. Sem a memória, esse jornalistas são piores do que um idoso já meio esquecido...

P.S. Por outro lado, há uma grande vantagem na candidatura de Soares que inclusive deverá levar muita gente no PSD a apostar nesta solução: se ao menos por uma vez na vida Soares for coerente com as suas palavras, então só irá cumprir um mandato de cinco anos. Isso significa que, Cavaco Silva, caso se apresente nestas eleições e seja derrotado, muito provavelmente não vai querer repetir a experiência pela terceira vez. E, aí sim, poderão avançar outros nomes como Santana Lopes ou Marcelo Rebelo de Sousa. O PS também poderá avançar com António Vitorino ou António Guterres.

Sem comentários:

Enviar um comentário