Cumprem-se hoje exactamente 30 anos em que foi publicada na primeira página do vespertino "A Capital" a notícia de que a CIA preparava um golpe de Estado em Portugal antes do fim do mês de Março.
Nove dias depois aconteceu o 11 de Março, o que provocou o exílio de Spínola e a viragem à esquerda no rumo da revolução.
Até Novembro...
Pode parecer uma notícia surrealista, mas tudo isto aconteceu há muito tempo, num Portugal bastante diferente do de hoje, numa Europa também ela muito diferente da actual. Porém, olhando para a notícia à luz dos dias de hoje, constata-se que nunca os socialistas se uniram aos comunistas e nunca os EUA perderam o direito de usarem a base das Lajes (algo que os alemães temiam, visto que isso iria significar que seriam eles o último aliado dos norte-americanos na Europa e que poderio colocá-los debaixo de um boicote petrolífero por parte dos países árabes...).
A última vez que a base das Lajes serviu para alguma coisa - a reunião de preparação para a invasão do Iraque - foi em Março de 2003. E, recorde-se, Frank Carlucci ("agente da CIA", ou "Carluccia") também esteve em Lisboa nessa altura.
Eis alguns extractos da notícia de há 30 anos:
"Um golpe de Estado em Portugal, ainda antes do fim de Março”, estaria a ser preparado pela CIA, revela a revista “Extra”, editada em Berlim Oeste. Em dois artigos consagrados ao assunto, aquela revista, de orientação marxista-leninista e com penetração no meio estudantil, denuncia que a “aspiração máxima" da CIA, para Portugal, é a guerra civil, estando igualmente planeada a eliminação, “possivelmente o rapto”, do brigadeiro Otelo Saraiva de Carvalho. Segundo a “Extra”, o governo alemão ocidental, nomeadamente através do seu embaixador em Lisboa, e o S.P.D., o partido de Willy Brandt, actualmente no poder, estariam a colaborar estreitamente com a CIA na preparação daquele plano, que visava derrubar o Governo português. Do lado americano, o actual embaixador em Lisboa, Frank Carlucci (“agente da CIA”), teria “assumido a condução das operações”. A revista berlinense faz ainda eco da preocupação da República Federal Alemã face a uma eventual recusa do governo português em permitir a utilização da base das Lajes pelos americanos, em caso de novo conflito no Médio Oriente, e da perspectiva de “um pesado apoio financeiro da República Federal e dos Estados Unidos, destinado sobretudo à ala direita do partido de Mário Soares”.
E ainda sobre as eleições previstas para Abril de 1975:
"Objectivo: Impedir que os socialistas portugueses se unam aos comunistas. Este objectivo deverá ser conseguido através de um pesado apoio financeiro da República Federal e dos Estados Unidos, destinado sobretudo à ala direita do partido de Mário Soares. Uma das pessoas de confiança do lado português é o secretário de Estado das Finanças, Constâncio. O S.P.D. prometeu já à ala direita do Partido Socialista a quantia de 90 mil marcos (aproximadamente 900 contos), quantia essa que seria enviada seguidamente para a Internacional Socialista. Para o caso da já esperada recusa dos socialistas italianos, foi preparada outra solução: após a visita de Brandt e de Friedrich a Lisboa, um colaborador de Friedrich-Ebert-Stiftung reservou uma parte da quantia para ser enviada para o Porto."
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