Num pequeno texto hoje publicado na página 17 do semanário "Expresso", sem qualquer chamada à primeira página, é dito que Portugal vendeu armas ao Irão em 1980.
A 15 de Novembro de 1980, o mesmo semanário, então dirigido por Marcelo Rebelo de Sousa, disse, desta vez na primeira página, que Portugal vendera armas ao Iraque e não ao Irão, desmentindo notícias que então circulavam noutros jornais da época.
É certo que o texto de hoje refere-se a vendas que ocorreram após aquela primeira notícia de há 24 anos, a 9 de Dezembro de 1980 e a 22 de Janeiro de 1981 - isto citando a agora conhecida auditoria da Inspecção-Geral de Finanças às contas do antigo Fundo de Defesa do Ultramar, uma espécie de "saco azul" das Forças Armadas.
O que o "Expresso" não nos explica é quais as reais implicações que estas vendas de armas ao Irão ainda representam para o actual panorama político mundial.
Eis, por exemplo, alguns factos que o "Expresso" não conta aos seus leitores:
- Havia, em 1980, um embargo internacional de venda de armas ao Irão devido ao facto deste país manter reféns 52 cidadãos norte-americanos desde o assalto à embaixada dos EUA em Teerão a 4 de Novembro de 1979.
- A 4 de Novembro de 1980 houve eleições presidenciais nos EUA, onde o democrata Jimmy Carter não foi reeleito. Ganharam os republicanos Ronald Reagan e George Bush (pai do actual presidente norte-americano).
- Henry Kissinger, antigo secretário de Estado norte-americano visitou Portugal entre 14 de Novembro e 16 de Novembro de 1980.
- Adelino Amaro da Costa mandou investigar o negócio da venda de armas ao Irão pouco antes da queda do avião em Camarate.
- Armas foram mesmo enviadas de Portugal para o Irão a 9 de Dezembro de 1980, cinco dias depois de Camarate.
- Os reféns norte-americanos foram libertados poucos minutos após o discurso da tomada de posse de Ronald Reagan como presidente dos EUA, a 20 de Janeiro de 1981.
- Portugal voltou a mandar armas para o Irão a 22 de Janeiro de 1981.
- A confirmação desta venda de armas ao Irão através de Portugal vem dar razão àqueles que, ainda hoje, nos EUA e noutros países, sempre disseram que houve uma negociação secreta entre membros da campanha presidencial republicana (nomeadamente homens próximos de George Bush, que tinha sido director da CIA entre 1976 e 1977) no sentido de garantir a não libertação dos reféns, fragilizando assim as possibilidades de reeleição de Jimmy Carter.
....
Outro dado que vem no "Expresso":
Vejam a página 105 da revista "Única" da mesmíssima edição de hoje, onde se faz uma resenha a algumas revistas internacionais. Atentem ao texto sobre a revista "The Atlantic" deste mês. A capa é sobre os 52 reféns do Irão. O "Expresso" não nos diz, mas eu deixo aqui para os meu leitores esta breve passagem do texto do jornalista Mark Bowden:
"Iran is still very much in the grip of CIA-phobia, wich has spawned a national industry of conspiracy theories. One of the more breathtaking holds that the embassy seizure was actually orchestrated by the CIA".
Sem comentários:
Enviar um comentário