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20041015

A minha história com Santana Lopes, ou o dia em que fui secretário de Estado da Cultura

Toda a gente anda agora para aí a contar uma ou outra história envolvendo o ainda primeiro-ministro de Portugal, Santana Lopes- o "ainda" é porque a alternância democrática é uma coisa normal em democracia e nada é eterno, etc, etc...
Também eu gostaria de contar uma pequena história que se passou comigo. Não está relacionada com qualquer acto de censura, porque não existe censura em Portugal. Eu próprio, quando, em Novembro do ano passado, lancei o meu livro "Eu Sei Que Você Sabe - Manual de Instruções para Teorias da Conspiração", disse aqui que não há censura em Portugal. Existem apenas "critérios jornalísticos". Nada mais.
A minha história com Santana Lopes remonta ao fim de Novembro de 1993, quando eu estagiava no diário portuense "O Primeiro de Janeiro", e Santana, então secretário de Estado da Cultura, foi ao Porto anunciar a inauguração das antigas instalações da Cadeia da Relação.
Aquele local tinha vindo a sofrer obras de remodelação e de adaptação para passar a ser um espaço cultural do Estado. Santana Lopes visitou a Cadeia da Relação com os jornalistas e deu uma conferência de Imprensa no fim. No momento em que confirmou a data da inauguração, exclamei alto e bom som: "Ya! Uma semana antes das eleições!" - Porque isto ocorreu na altura da campanha eleitoral para as eleições autárquicas de Dezembro de 1993.
Santana Lopes dirigiu-se a mim e seguiu-se um diálogo que, julgo eu, foi depois transmitido na TSF, onde a troca de palavras ocorreu mais ao menos assim:

P.S.L. - Mas está a dizer que a inauguração é uma iniciativa eleitoralista?
F.D.C. - Não... Estou apenas a constatar um facto...
P.S.L. - Então olhe, afinal a inauguração vai ser na semana seguinte.
F.D.C. - Veja lá... eu não quero ser responsável por qualquer decisão...
P.S.L. - Não. A inauguração vai ser na semana seguinte...
F.D.C. - Confirma isso? Posso dizer que decidiu após a minha pergunta?
P.S.L. - Sim, pode dizer isso no seu jornal...

Lembro-me ainda que me telefonaram da TSF para obterem uma declaração minha e a pergunta que me fizeram foi: "Então, Frederico, como se sente na pele do secretário de Estado da Cultura por um dia?"
Devo dizer que Santana Lopes não fez depois qualquer tipo de censura ou pressão ao meu jornal e até mudou uma decisão política depois de ouvir a constatação daqui do "yours truly", pelo que, francamente, não entendo agora esta "guerra" contra a sua pessoa.
Só posso concluir que todo este ataque concertado na Imprensa contra Santana Lopes é uma forma de censura dos "média" contra o Governo, e não o contrário...

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