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20040324

E as negociações de Março...

As negociações entre Portugal e os "terroristas", levadas a cabo ainda no tempo do Governo de Marcello Caetano, também cumprem hoje 30 anos.
Foi há 30 anos, no dia 24 de Março, que chegou a Inglaterra, o nosso cônsul de Milão, José Manuel Villas-Boas, para negociar com o PAIGC.
O diplomata, que fora aluno de Marcello Caetano, conta no seu livro "Caderno de Memórias", da Temas e Debates, editado em Abril de 2003 (e não em finais de 2002, como ontem erradamente aqui referi), que tinha sido chamado a Lisboa, em Fevereiro de 1974.
Levado à presença de Marcello Caetano, do ministro dos Negócios Estrangeiros, Rui Patrício, e de João Freitas Cruz, então director-geral dos Negócios Políticos, foi dito a Villas-Boas que ele iria a Londres com uma "oferta de independência à Guiné-Bissau, a troco de um cessar-fogo".
Este diplomata fora assim, na véspera do 25 de Abril, o primeiro representante oficial do governo português a iniciar negociações para a independência de uma colónia africana.
Quando tudo mudou em Portugal, o ministro dos Negócios Estrangeiros foi Mário Soares.
E, sobre estas negociações de Londres, que seguimento deu Mário Soares?
A resposta vem na página 109 do caderno de memórias de Villas-Boas.
Em Maio de 1974, o diplomata veio a Lisboa relatar a sua reunião aos novos governantes, Costa Gomes e Spínola.
Foi depois relatar a sua história ao novo ministro dos Negócios Estrangeiros:

"Depois de ter esperado quase um dia inteiro na antecâmera do ministro, o chefe de gabinete - então Vítor Cunha Rego - anunciou-me que o Dr. Mário Soares me receberia ao final da tarde. Assim aconteceu. Mas, quando eu me preparava para entrar no gabinete do ministro, o Dr. Mário Soares surgiu à respectiva porta, quase me barrando a entrada. O nosso encontro - embora breve - teve assim lugar numa posição algo ridícula, ambos quase que 'entalados' na espessura da parede, entre as portas duplas que separam o gabinete ministerial da respectiva antecâmera.
O Dr. Mário Soares olhou para mim e perguntou-me: 'O senhor é aquele funcionário que foi a Londres encontrar-se com o PAIGC?', ou palavras semelhantes, ao que eu respondi afirmativamente. 'Oiça-me', continuou Mário Soares, 'quem de ora em diante se ocupa da descolonização sou eu. Esqueça, pois, tudo o que fez e regresse ao seu posto. Boa tarde.'
Assim se concluiu a 'conversa' com o novo ministro dos Negócios Estrangeiros."

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