OS TEXTOS QUE SE SEGUEM SÃO TROCAS DE E-MAILS QUE FIZ ESTA MANHÃ COM UMA PESSOA QUE COMPROU O MEU LIVRO E COSTUMA CONSULTAR O BLOG. VAI SER UM POUCO LONGO, MAS ACHO QUE VALE A PENA CONHECER ESTAS OPINIÕES...
J.B., escreveu-me uma mensagem intitulada "Pois é", e dizia o seguinte:
"'A companhia aérea noruegesa Braathens inaugurou na passada sexta-feira, dia 6, a linha área entre Lisboa e Oslo, tendo convidado vários jornalistas e outras personalidades para fazerem a viagem inaugural e visitar a cidade de Aalesund, a capital do bacalhau e da 'Art Nouveau', onde o Presidente Jorge Sampaio estivera dois dias antes'.
Desde quando é que os jornalistas são 'personalidades'? Que têm um estatuto que lhes permite dizer alegremente as maiores enormidades já se sabia, mas a presunção já chega aí?
A propósito: Li o seu livrinho e não entendo porque acha estranho que não o refiram (e quase diminua quem o recebeu e não se dignou fazer uma crítica - boa, claro.... É que não tem o interesse apregoado pelo autor e, se pretendia ser sério aquele tanga das 19 horas do Durão Barroso tira-lhe logo qualquer crédito. Com a agravante de ter um textozinho do Joaquim Letria que, abusivamente, o compara a jornalistas que fizeram investigação SÉRIA e sofreram por isso - o que não é obviamente o caso. Trata-se da apresentação de teorias que embora possam fazer algum sentido aqui e ali no cômputo total davam para argumento de Banda Desenhada.
No que me diz respeito quando me perguntam que livrinho é aquele com um título tão sugestivo (isso concedo-lhe...) digo que é um balão de ar frio e recomendo vivamente a NÃO LER.
E constato que o autor do livrinho é o jornalista que deixou mensagem no MuitoMentiroso pedindo lhe dessem informações - e também reconheço que esta novela da Casa Pia vai dar azo a várias histórias... E quando formulou as famosas 'perguntas que o MuitoMentiroso não faz', afinal (como o livrinho) não queriam dizer nada, sendo certo que quem as leu ficou com a ideia que o Pinto Balsemão estaria metido no assunto, bem como o tal Ministro dos Negócios Estrangeiros... e afinal era só engodo para o livrinho...
Queira aceitar os meus cumprimentos"
A minha resposta foi:
"Caro J. B. [coloco apenas iniciais, mas estava identificado um nome]
Muito obrigado pela primeira crítica séria e severa ao meu trabalho.
Isso muito me agrada, porque já estava farto de tanto consenso, quando na realidade o que pretendia era provocar a discussão...
Sobre aquilo das 'personalidades', deverá reparar que fiz precisamente distinção entre jornalistas e 'outras' personalidades. Sabe que, hoje em dia, há jornalistas que atingem o estatuto de personalidades, face à mediatização desta sociedade. O que é pena...
Realmente, quando estava a escrever 'personalidades' lembrava-me de pessoas que também foram na viagem como a Bárbara Elias, Alexandra Fernandes, um par de cônsuls e duas jovens actrizes de novela cujo nome não me recordo agora... Não o deveria ter feito com aquele ênfase, posso concordar, mas não deixam de ser 'personalidades'. Como todos nós que temos características individuais.
Não pretendia nenhuma crítica boa, a dizer que eu sou o maior por ter feito descobertas evidentes...
Sobre o texto do Joaquim Letria, entendo quando ele faz aquelas comparações e concordo consigo quando diz que são exageradas, pois a minha investigação em nada se pode comparar com os exemplos citados. Contudo, fiz uma coisa que é inédita em Portugal: investiguei até onde me foi permitido. Fisicamente e financeiramente. Todo aquele livro foi pago por mim, que já não tenho muito tempo, apoio profissional ou conhecimentos e "fontes". Se acha que está fraco, é porque só trabalhei na sua escrita ao fim-de-semana e, durante a semana, das 20 às 23 horas... Sem adiantamento por parte de editor, sabendo que estaria a mexar na merda e que aquilo não iria ter grande repercussão. Mas nunca estaria de consciência tranquila se não o escrevesse. E, depois, era o livro que eu queria ler e não existia...
No fim, acho que fiz um trabalho sério, apesar de achar que dava um bom argumento de Banda Desenhada. Acho piada que diga isso, visto que o livro começou precisamente por ser pensado como uma BD - Aliás, isso deve ser uma alusão à editora Polvo, que até ao momento só tinha editado BD...
A história das 19 horas do Durão Barroso, na sua opinião, poderá tirar credibilidade ao livro. Foi um risco que assumi. Repare que até a coloquei no início da obra, como que a preparar as pessoas mais cépticas. Depois de ler o livro até ao fim, não será que outras pessoas poderão depois encarar aquela história com outros olhos?!
Já agora, gostaria de conhecer a sua opinião sobre a verdadeira notícia do livro. Sobre isso nada me disse. Mas diga-me qual é a sua opinião sobre a maneira como o inquérito ao 'Irangate' foi por água abaixo...
A respeito do 'Muito Mentiroso', reconheço que pedi uma entrevista ao 'senhor'. Sou jornalista, achei que o deveria fazer, não entendo qual é o drama nesta questão e como me diminuirá na minha busca por informações. 'Pede e ser-te-á dado', já se diz há mais de 2000 mil anos... Não recebi qualquer resposta. Recebi agora a sua. Já é qualquer coisa...
Sobre as perguntas que o 'Muito Mentiroso' e o Balsemão. Não acho que seja um 'engodo'. Fiz as perguntas que me pareceram óbvias e que pouca gente conhecia a resposta (fiz a experiência com vários jornalistas e 'outras personalidades' que não sabiam quem tinha sido o primeiro-ministro em 1982). A partir daí, tinha de fazer aquilo. Não o queria fazer, acredite. Fui obrigado porque houve aqui alguém que achou que não valia a pena dizer isso...
Por fim, uma pergunta: posso colocar no blog a sua carta e a minha resposta?
Obrigado pelas críticas. Adoro quando me dão luta... Faça mais!
Um abraço sincero
Frederico
P.S. Sobre o livro não diga taxativamente 'Não ler'. Diga antes qualquer coisa do género: 'Eu li e não gostei. Não o recomendo a ninguém. Agora, quem achar que não tenho razão, que o leia e confira!' Acho que seria mais honesto. Até pode emprestar o seu exemplar, para que a pessoa não vá gastar dinheiro em vão... Mas deixe-o circular, porque apesar de tudo é um livro. Perigoso para algumas mentes, eu sei... E você também sabe. Que eu sei que sabe."
E depois recebi esta mensagem:
"Caro Frederico:
Começo por dizer que gostei muito da sua resposta. Não sei bem porquê, esperava qualquer coisa de disparatadamente violento, mas afinal até concorda com as minhas opiniões!!! Ainda há pessoas de bom senso, e por isso lhe tiro o chapéu (eu, que até gosto de usar chapéu!).
Claro que não me oponho a que publique a minha carta e até lhe louvo a 'coragem' (ou atrevimento?) por se dispor a isso. Começo a pensar que se calhar vou ter de ler o livro outra vez porque afinal a personalidade que está por trás merece que o faça...
Em todo o caso, é pena ser a minha a primeira crítica séria e severa ao seu trabalho, porque sem dúvida merece mais e bem mais atempadas (já agora esclareço que vi a referência no seu Blog, procurei na FNAC do Colombo e encontrei sem dificuldade, já que estava em evidência). Ainda que possa discordar com as conclusões (e não concordo com algumas, que me parecem precipitadas ou infundadas), é evidente que há ali muito trabalho, muita pesquisa e, obviamente, trabalho de tricot (...) para elaborar uma malha que todavia parece apresentar falhas ocasionalmente.
Dou de barato que quando se referia a 'outras personalidades' não se colocava no respectivo 'patamar', e recorda-me um amigo meu que, num jogo, pediam uma frase sobre a relação do homem com o mundo (dava para tudo...) da autoria do próprio ou outro grande pensador. A piada é que tem implícito que quem vai dizer a frase também é um grande pensador...
Estou de acordo quando refere a sua investigação e aí reconheço o mérito do seu trabalho: geralmente o que se faz são opiniões sobre a história ou relatos que não deixam de ser apenas uma visão do autor. No seu caso poderíamos considerar que há apenas uma exposição de factos a partir de notícias conhecidas e daí parte para pistas ou conclusões. Mas a verdade é que no seu caso também pode considerar-se ter havido uma visão dirigida para determinada conclusão, omitindo eventualmente factos e iluminando outros. Não me parece ter sido o caso e entendo que tentou tanto quanto possível ser isento, revelando os factos que se conheciam e interligando-os de forma a que surjam hipóteses eventualmente plausível (uma pena, aquela história das 19 horas... tão inverossímil que tira logo o crédito ao resto do livro: deveria ter sido o último capítulo, a ler como uma mera curiosidade...)
Não, não digo que o trabalho esteja fraco: digamos que está mal alinhavado. Achei piada ao início, aquela história das coincidências, da jovem que foi encontrar no final da viagem e do livro do Astérix (poderia também - como se calhar qualquer pessoa - contar-lhe coincidências incríveis que me aconteceram, contra todas as probabilidades) e era uma boa rampa de lançamento para o que aí vinha: prepara o leitor para uma série de factos que conduzem a uma conclusão que parece improvável (não impossível) mas efectivamente aconteceu e pode bem ter sido por isto ou aquilo. Mas depois aquele primeiro capítulo dá a ideia de que afinal é tudo fantasia... só que não é, ainda que as conclusões possam ser discutíveis.
Curiosamente, não sabia que a editora Polvo publicava Banda Desenhada (ainda que goste...), mas aquela história do DB parece mesmo um argumento de BD...
Quanto a MuitoMentiroso (guardei as 100 perguntas, just in case...) é claro que eles não pretendiam mais nada senão pôr veneno nas águas que se estavam a agitar e não lhes interessava partilhar o que quer que fosse. E as mensagens que postaram (a sua incluída) mais não era que um meio de lhes dar credibilidade, e divulgar outras informações que entretanto os leitores adiantaram. De resto, calculo que recolheram um manancial interessante de informação que não divulgaram... e ora aqui está um bom meio de o conseguir, garantindo o sigilo das fontes (e a falibidade das informações ipso factum)
Por ora basta. Vou voltar ao contacto para a questão do Irangate. Na verdade é o tema mais interessante do livro, e por isso vou reler antes de voltar ao contacto.
Um abraço
J. B."
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