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20031217

De novo Saddam

Não pensem que tenho alguma espécie de estima por Saddam Hussein.
Não julguem que o pretendo defender.
Não.
Aliás, pouco depois dele ter sido apanhado, recebi uma mensagem no meu telemóvel que exprime um pouco o meu estado de espírito: "O Saddam já foi apanhado, agora só falta o Bush"...
Vejo na história de Saddam o outro lado da história da família Bush.
Não se esqueçam da história matemática: Saddam é um produto do início dos anos 60.
Chegou ao poder absoluto em 1979, mas o seu nome já era minimamente conhecido desde 1968. Antes até.
Quando Saddam chegou ao poder absoluto do Iraque, a 16 de Julho de 1979, o presidente dos EUA era o democrata Jimmy Carter, que, no ano seguinte, em 1980, iria lutar pela sua reeleição.
Jimmy Carter foi então o primeiro presidente dos EUA a não conseguir ser reeleito.
Porquê?
Porque, em Novembro de 1979, tinham sido feito reféns os 52 norte-americanos que estavam na embaixada dos EUA em Teerão, o país vizinho do Iraque.
Jimmy Carter nunca conseguiu a libertação desses reféns, que ficaram detidos durante 444 dias. Só foram libertados a 21 de Janeiro de 1981, dia da tomada de posse do novo presidente dos EUA, Ronald Reagan - o tal actor que tinha como vice-presidente o milionário texano do petróleo, George Bush, antigo director da CIA e pai do actual presidente.
Há quem defenda que existiu uma jogada por parte da candidatura dos republicanos Reagan e Bush no sentido de negociarem a não libertação dos reféns, fragilizando assim a posição de Jimmy Carter. Aliás, a morte de Sá Carneiro e Adelino Amaro da Costa até estaria relacionado com uma investigação a esses supostos negócios secretos de tráfico de armas, pois algumas teriam passado por Portugal.
Não se esqueça igualmente o facto de que a invasão do Irão pelo Iraque de Saddam aconteceu em Setembro de 1980, ou seja, dois meses antes das eleições nos EUA. Foi uma invasão providencial, visto que aumentou nos iranianos a necessidade de armas, daí que a solução mais fácil para o regime iraniano tivesse sido negociar secretamente com a outra candidatura, em vez da humilhante negociação aberta com o lado de Jimmy Carter...
Por isso, quando os iranianos dizem que os norte-americanos são o diabo, nós só temos de nos perguntar como é que eles saberão isso.
Eu arrisco uma resposta: Eles já o viram com os próprios olhos. Estiveram a negociar em salões de Paris com o Diabo em pessoa...
Saddam não é o Diabo...
O Diabo é quem o carrega!

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