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20031028

Limar o "Diário de Notí­cias"

Isto da polémica sobre a nomeação de Fernando Lima para director do "Diário de Notí­cias" levou-me a pensar em várias coisas sobre as relações de isenção entre a política e o jornalismo.
Entendo as críticas dos meus camaradas do "DN", que temem que um antigo assessor de Cavaco Silva e, até há pouco tempo, assessor de Martins da Cruz, possa comprometer a imagem de independência do histórico diário.
Ainda por cima, tratando-se de uma nomeação directa de um ex-assessor, o que levanta ainda mais dúvidas em relação ao rumo que a publicação virá a seguir e que se deseja independente - mas, se ele tivesse passado, sei lá, seis meses no seio da redacção e, só depois viesse a ser apontado director, será que a situação seria vista de uma forma diferente? Mais transparente?
E, será que, por exemplo, o próximo director do "DN" vai entrevistar tantas vezes Mário Soares como fazia o anterior, sem perder a imagem de "independente"?
Não vos parece pior ver um jornalista sair da direcção de um diário e "saltar" para deputado? Lembro, por exemplo, o caso de Vicente Jorge Silva, antigo director do "Público" e actual deputado do PS. Isso não levanta legí­timas dúvidas que se tratou de uma situação resultante da forma como aquele andara a gerir a linha editorial do tal diário?
No caso de Vicente Jorge Silva, se qualquer dúvida de isenção temos a constatar, esta surgiu tarde demais... Quem irá agora escrutinar todos os escritos e tomadas de posição durante a sua carreira jornalí­stica antes de se ter tornado deputado socialista?
No caso do jornalista Fernando Lima, beneficia-se aqui da vantagem de sabermos o que ele sabe. Sabemos quem serviu, pois todos nós vimos isso.
Conhecemos as suas origens, as suas inclinações e amizades políticas. Foi público durante anos...
Homem mais público não deve haver. Jornalista mais exposto, deve ser difícil de arranjar...
Por isso, tudo o que ele fizer e não corresponder às regras jornalísticas de isenção poderá vir a ser julgado pelos seus pares no futuro.
Recomendo ainda neste blogue a leitura de um texto mais abaixo intitulado precisamente "Isenção jornalística".

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