Eduardo Campos. Quem beneficia com o atentado?
Estranho quando, aparentemente, o beneficiário de um crime é aquele que, em princípio, seria a principal vítima, não? Os defensores da tese do atentado contra o avião Cessna do candidato presidencial brasileiro, Eduardo Campos, lançaram suspeitas na direcção do partido no poder, mas as sondagens insistem em indicar que o atentado foi a melhor coisa que aconteceu ao partido da vítima. Isto é uma leitura factual, vista à distância de um Oceano, a frio, sem acusar ou defender qualquer parte. Não voto nas eleições no Brasil, ainda sei muito pouco sobre o momento que vivem os irmãos brasileiros, mas estou cada vez mais interessado. Como já disse num texto anterior, através da minha experiência como jornalista que investigou a morte do primeiro-ministro de Portugal e ministro da Defesa na queda de um avião Cessna nos arredores do aeroporto de Lisboa, a 4 de Dezembro de 1980, foi necessário esperar quase 30 anos até que a tese de atentado fosse dada como sendo a mais certa. Só que ao fim deste tempo, a sociedade portuguesa ainda tem dúvidas e está demasiado distante dos factos para avaliar a importância daquilo que se concluiu. Pior ainda, Portugal vive mergulhado nos problemas criados pelos efeitos daquelas mortes, pelo que nem sequer tem tempo para parar e pensar nas implicações que, ainda hoje, a confirmação de atentado poderia provocar no panorama político e económico. Temo que o mesmo possa vir a acontecer no Brasil. Pelo pouco que vou tendo acesso via Internet, vejo que no Brasil estão a cometer os mesmos erros de investigação e que, muito provavelmente, só daqui a 30 anos vão concluir aquilo que hoje muitos avisam que pode ser verdade. E para o esclarecer, é urgente seguir alguns procedimentos de investigação. Sei, por exemplo, que os corpos das vítimas já foram enterrados. Mas, houve tempo para serem feitas análises por raio-x aos seus ossos? Em Portugal, os corpos das vítimas tiveram de ser exumados e descobriram-se vestígios de estilhaços nos ossos. E que isso era compatível com a suspeita da explosão de uma bomba a bordo. Dizem-me que no Brasil há quem sustente a hipótese de terem ocorrido duas explosões no avião. Uma primeira, no interior do aparelho, ainda no ar, e outra na queda - a pique e que abriu uma cratera no chão. Os corpos terão ficado despedaçados e não sei, do ponto de vista forense, até quanto um análise poderia ser indicativa de uma explosão criminosa. No entanto, reforço a minha dúvida: foram ou não feitos exames aos corpos no sentido de esclarecer uma eventual explosão criminosa do Cessna? Depois, os vestígios do avião. Foram ou não feitos exames destinados a detectar a existência de explosivos na estrutura do aparelho? Há ainda a questão das gravações das caixas pretas – caixas negras como nós dizemos deste lado do Oceano. Não são conclusivas, dizem-me. Um facto que aumenta a probabilidade de ter havido crime, tal como em Portugal, em 1980, quando o avião Cessna caiu no bairro chamado de Camarate sem que tenha sido registado qualquer comunicação de emergência por parte do piloto antes da queda. Entretanto, temos que considerar também factores tecnológicos que, em 1980, ainda não estavam tão presentes como hoje. Haverá assim a possibilidade do aparelho do candidato presidencial brasileiro ter sido sujeito a uma controlo remoto exterior que o conduziu para a queda? Será esta hipótese demasiado fantasiosa nos dias de hoje? Não me parece... Eduardo Campos seguia em terceiro lugar nas sondagens e, após a sua morte, o panorama político mudou. Agora, aquela que era candidata a vice-presidente, subiu para a cabeça da candidatura e ameaça derrotar a actual Presidenta na segunda volta das eleições. Quero acreditar que a morte de Eduardo Campos foi um golpe do destino, um acidente. Mas, este acidente tem tudo para ser apontado como tendo sido provocado por mão humana do que pela mão do destino. Claro que o destino guia a mão dos homens, mas dita-me também a experiência que isso acontece nos pequenos momentos da vida em que temos de tomar uma decisão e recebemos um sinal, dito divino, que nos ajuda a decidir por um lado e não pelo outro. Quando o homem está decidido a desafiar o destino e decide antecipar o fim da vida dos outros, não há maneira de ser parado pelo divino. Divino é depois o que acontece com as ondas de acção iniciadas por uma acção criminosa. E, para já, tudo aponta que uma possível acção criminosa vai colocar no Planalto uma pessoa que, antes da morte de Eduardo Campos, não era suposto lá chegar.
Etiquetas: atentado, Camarate, Eduardo Campos